Foto © Samuel Mendonça

O padre Nuno Tovar de Lemos disse no passado dia 4 deste mês no Colégio de Nossa Senhora do Alto aos pais e educadores que é importante educar “para saber ter fracasso e para saber ter sucesso”.

“Fracassar na vida é tão importante como ter sucesso porque a vida é uma aprendizagem, mas alguns miúdos ficam de rastos e a culpa, muitas vezes, é dos pais”, acrescentou o sacerdote da Companhia de Jesus (jesuíta) que abordou o tema “O Risco e a Confiança na Missão de ser Pai|Mãe”.

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O conferencista, que começou por evidenciar que, para muitos casais ter filhos “hoje já não é uma prioridade”, congratulou-se pelos presentes terem tomado a opção contrária.

O padre Nuno Tovar de Lemos disse ainda ser preciso “educar para saber esperar”. “A muitos miúdos falta saber esperar. Não têm experiências de muitas coisas nas quais seja preciso investirem para mais tarde esperar pelos frutos”, lamentou, lembrando que “a maior parte das coisas não se obtêm a pronto pagamento”. “As coisas que se obtêm a pronto são os bens de consumo imediato, mas as coisas mais fundas na vida são como na natureza, é preciso grandes investimentos”, sustentou.

O sacerdote aludiu também à necessidade de “educar para não ter e estar feliz sem ter”, referindo-se concretamente aos bens materiais. “Os miúdos depois descobrem uma coisa fantástica que só se descobre quando não se tem: posso viver feliz sem ter”, destacou.

Por outro lado, frisou igualmente ser preciso “educar para a solidão”. “Há a solidão má e a solidão boa. Antigamente a solidão boa chamava-se soledade. É eu aprender a estar sozinho comigo próprio. Não preciso de estar sempre a interagir”, explicou, considerando que “quem não sabe brincar sozinho, não sabe amar”. “Temos de aprender a estar connosco”, considerou.

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O padre Nuno Tovar de Lemos disse ser “absolutamente essencial” “educar para a disciplina” para fazer face à “escravidão do capricho”. “A disciplina liberta de um dos fatores que é maior causa de infelicidade: os caprichos”, completou.

Aos educadores disse ainda ser importante “educar para o saber estar e para o saber desfrutar”, considerando que “a vida tem dois lados: o lado produtivo e o lado de desfrutar”. “Alguns ficam stressadíssimos muito novos, mas a culpa, creio que em grande parte, é dos pais e dos professores porque estão sempre a estimulá-los com coisas novas”, lamentou, considerando ser “importante pais que saibam brincar com os filhos, não só pelo tempo de brincadeira mas também pelo desfazer do personagem”. “Muitos pais vestem o personagem do disciplinador, do exigente e esse papel é sem duvida importantíssimo, mas não podem esgotar-se nesse papel. Tem de haver o papel do pai que está, que acompanha, que brinca”, considerou.

O sacerdote deixou ainda alguns conselhos aos educadores, lembrando-lhes que estão a “colaborar com Deus na educação dos filhos d’Ele”. “Os vossos filhos não são vossos”, afirmou, lembrando que “amar é dar asas”. “Por muito que custe, os vossos filhos, por quem vocês fizeram todos os sacrifícios do mundo e continuarão a fazer, não são vossos. Estão a vosso cargo, mas são seres autónomos”, reforçou, acrescentando que o contrário também é válido. “Vocês não são dos vossos filhos. É tão exigente a vida que é muito fácil o pai e a mãe começarem a viver para os miúdos. Só que isso é a pior coisa que se pode fazer a um miúdo”, complementou.

O sacerdote jesuíta defendeu ainda na conferência em Faro que os pais fazem demasiados sacrifícios pelos filhos. “[Os filhos] quando crescerem vão perceber muito claramente que não são o «centro do universo», nem sequer da empresa onde estão a estagiar”, afirmou.

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Por outro lado, desaconselhou também os pais de quererem ser os “melhores amigos” dos filhos. “Pai é pai, não é melhor amigo. É único como pai. Tem um papel que mais ninguém no mundo pode fazer. Em alguns dos pais que me têm dito que ficam muito contentes por ser os melhores amigos dos filhos, pressinto muitas carências afetivas. Esperam que o filho tape esses buracos afetivos. Isso não é amar, é possuir, captar, usar”, disse.

O conferencista alertou ainda os pais para terem “cuidado com o desejo de agradar”. “Os miúdos têm de passar privações, têm que perder por vezes, se isso for melhor para eles”, advertiu, considerando ser necessário “distinguir o que é essencial do que não é”. Como “essencial” considerou a “honestidade e a verdade”, a “defesa dos mais fracos”, a “bondade e partilha” e a “fé em Deus”.