A engenheira do ambiente Helena Lucas — que foi uma das intervenientes no dia 05 de fevereiro na edição inaugural da rubrica ‘Ponto de Cruz’ do portal dos jesuítas em Portugal, que procurou em Portimão refletir sobre as desigualdades sociais no Algarve — alertou que os cristãos são “chamados a agir em comunidade” e a “ser inovadores” na forma como podem “ajudar a construir uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna e também com menos desperdício e menos indiferença”.

Considerando que “a ação em comunidade tem muita força e é promotora do bem que vem de Deus”, aquela engenheira ambiental na Águas do Algarve lembrou que, “podendo agir individualmente”, não tendo medo e denunciando as injustiças”, em comunidade os cristãos podem “fazer mais”.
Aquela responsável pela água que chega às torneiras no Algarve aludiu também àquele modo de proceder e à responsabilidade de todos para fazer face ao momento difícil que a região atravessa com uma seca prolongada. “Estamos numa situação de esgotamento dos recursos naturais e a verificar também o esgotamento dos recursos hídricos”, confirmou, referindo-se a “uma situação em que a procura é mais elevada do que a disponibilidade”. “Já tivemos uma grande seca em 2005, mas voltamos a estar numa situação em que temos água para menos de um ano para as necessidades do Algarve”, alertou.

Aquela responsável ambiental realçou que a precipitação, “nos últimos 10 anos, diminuiu sempre sistematicamente”, explicando serem “menos 10 dias [de chuva] em média por ano”. “Os ciclos de seca são históricos nesta região, mas agora são 10 anos em que temos constantemente menos água. Isso quer dizer que as alterações climáticas estão muito presentes em muitas regiões do globo e aqui, em particular, com os tais ciclos de seca, incêndios e diminuição da precipitação”, constatou, alertando que “a água é um direito acessível a todos, universal, seguro”, mas que essa convicção traz uma sensação enganadora. “Também nos faz sentir que podemos desperdiçar este bem comum”, alertou, considerando que “faz falta um pouco dessa consciência da dificuldade” de acesso à água como existia antigamente. “Agora todos temos um «rio» em casa que podemos pôr a correr a qualquer hora do dia ou da noite”, metaforizou.
Aquela responsável da Águas do Algarve disse ser previsível a necessidade de “fazer um esforço para contrariar o aumento do consumo, quer na agricultura, quer no turismo e também no setor urbano”. “Estamos a tentar que as pessoas sintam que não se pode desperdiçar este bem que é de todos”, disse.

Mas a engenheira ambiental referiu-se ainda à “falta de acesso a uma habitação” que disse ser no Algarve “quase como uma alteração climática” por ser “tão presente”, sem que se consiga atuar para contrariá-la. “Sentimo-nos muito impotentes. É uma situação que atenta à dignidade humana não ter uma habitação para morar. E nós não conseguimos na comunidade dar resposta a isso. As políticas públicas também não têm dado essa resposta”, lamentou.

Helena Lucas lembrou que a paróquia portimonense de Nossa Senhora do Amparo há mais de duas décadas presta um serviço de refeições no refeitório social a pessoas necessitadas e também distribui roupa a muitos, incluindo imigrantes. “Mas o que me parece é que estes processos são muito longos, demoram muito tempo a resolver. Damos aquilo que conseguimos, mas a sociedade não dá uma resposta a essas pessoas que estão numa fileira da sua periferia. Fazendo nós, a comunidade, e todos em conjunto, muito, parece muito pouco porque essas pessoas continuam na rua a dormir precariamente. Mesmo com centros de abrigo que se construam, não chega só isso. É preciso um envolvimento”, alertou.