A responsável da Pastoral Sóciocaritativa da paróquia de São Pedro de Faro garante que os imigrantes “têm sido de uma importância enorme” para o Algarve, “dada a falta de mão-de-obra em muitas das atividades económicas principais da região, nomeadamente o turismo, a restauração, a construção civil e a agricultura”.

Mariana Piteira Santos — que foi uma das intervenientes no dia 05 de fevereiro na edição inaugural da rubrica ‘Ponto de Cruz’ do portal dos jesuítas em Portugal, que procurou em Portimão refletir sobre as desigualdades sociais no Algarve — disse que Portugal não pode “prescindir” dos imigrantes e testemunhou que quando “arranjam trabalho integram-se perfeitamente”. “São diligentes, cumpridores, pessoas muito afáveis e não constituem problema nenhum”, assegurou, explicando que a situação só “se agrava quando falta o trabalho”. “Ficam numa situação muito vulnerável porque perdem tudo. Perdem rendimentos e perdem o teto, muitas vezes partilhado com muitos compatriotas”, concretizou.
“Na paróquia, a nossa ajuda aos que têm a sorte de ter emprego tem sido na integração para criar condições para que se sintam integrados e acolhidos, colaborando no arranjo da casa com bens que nos são doados e que pomos à distribuição”, contou, explicando que aos que não conseguem trabalho a ajuda “passa muito pela alimentação, pelo vestuário” e por servirem de “interlocutores junto das autoridades oficiais”. “Também sendo pessoas de outras religiões, a maior parte deles, agrada-nos pensar que damos o nosso contributo para um ecumenismo de proximidade”, acrescentou.

Aquela responsável do setor social defendeu a “necessidade de um grande investimento público na habitação em favor das classes mais carenciadas, tanto portugueses como imigrantes”. “Uma habitação digna seria fundamental”, realçou, sublinhando que a paz também passa por “criar condições dignas para que haja um ambiente próspero para que a economia se desenvolva e para que as pessoas se sintam felizes”.
Mariana Piteira Santos, que há 26 anos assumiu o trabalho social naquela paróquia de Faro, explica que ao longo deste período tem tido “contato com realidades muito distintas”. “Começámos por ser abordados por pedidos de pessoas idosas que auferem reformas muito baixas, fruto da baixa escolaridade, dos serviços onde desempenharam a sua atividade e, consequentemente, também uma fraca carreira contributiva. Depois temos agregados familiares com baixos rendimentos que, graças à crise e à inflação, que afetou tremendamente as suas vidas, viram a sua situação deteriorar-se consideravelmente”, referiu, acrescentando que as “pessoas mais idosas precisam de um apoio continuado ao longo da vida” porque “dificilmente saem do ciclo de pobreza”. “Precisam também muito da nossa proximidade, do nosso olhar, do nosso ouvir atento aos seus problemas”, acrescentou, explicando que muitas destas famílias “são ainda vítimas de muitas situações colaterais criadas pelos filhos que entram no mundo da toxicodependência”.
“Dentro das famílias com fracos salários temos ainda um grupo que se destaca e que são aqueles agregados familiares em que um dos membros do agregado perde o emprego. Aí a situação complica-se extremamente”, contou, explicando que “as pessoas enfrentam nestes casos sérias dificuldades para cumprir as suas obrigações, nomeadamente no que diz respeito ao pagamento do crédito da casa, pagamento de renda, água, luz e até ao seu próprio sustento”.

Mariana Piteira Santos assegura ainda que a paróquia foi “das primeiras instituições a assinar um protocolo” com o Banco Alimentar contra a Fome. “A assinatura desse protocolo tem se revestido de uma enorme importância para podermos colmatar muitas das falhas na assistência a estes casos mais necessitados, sobretudo em termos de géneros alimentares”, frisou, explicando que a “proximidade às situações concretas das famílias” tem permitido “fazer uma distribuição mais justa de acordo com as necessidades de cada agregado familiar”.
Aquela responsável destaca ainda a importância do trabalho em rede e da colaboração com entidades oficiais, escolas e empresas da restauração e o apoio da comunidade em geral. “Sem esta conjugação de esforços não seria possível a nossa ajuda chegar a tantas pessoas. A comunidade de São Pedro tem compreendido que o trabalho social não compete só ao grupo sóciocaritativo. Apraz-me registar o trabalho da Junta de Freguesia, por exemplo, que tem mostrado uma grande sensibilidade pelo trabalho que fazemos e dá-nos uma ajuda inestimável, nomeadamente em termos logísticos, no apoio ao transporte para a recolha de géneros e bens doados”, referiu, lembrando que, através do Orçamento Participativo da Junta de Freguesia, foi possível ampliarem as instalações do refeitório onde desenvolvem aquela atividade.

Aquela responsável apelou à reflexão sobre as propostas dos partidos e aos políticos que “falem verdade e apresentem propostas que sejam exequíveis e que resolvam os problemas das pessoas”. “Os jovens são os protagonistas do futuro e, por isso, é bom que não deixem outros decidir por eles, que não fiquem em casa, que se mobilizem e que, ouvindo as palavras do Papa Francisco, não deixem que lhes roubem a esperança”, concluiu.