A iniciativa, promovida conjuntamente pela Fraternidade de Faro da OFS – Ordem Franciscana Secular, pela OFM – Ordem dos Frades Menores (franciscanos) e pela JuFra – Juventude Franciscana do Algarve, realizou-se no dia em que a Igreja celebrou a festa de São Tiago, “o primeiro do colégio apostólico a dar testemunho com a própria vida por Jesus, pelo evangelho e pela causa do reino”, como lembrou o frei José Quintã, que presidiu à vigília.

O sacerdote franciscano explicou que, “ao longo dos anos, a Igreja sempre se sentiu chamada a dar o seu testemunho em favor daqueles irmãos e irmãs perseguidos, exilados e, muitas vezes, martirizados por causa da fé”. “Se sofremos a humilhação por causa da nossa fé, compreendemos melhor quem passa pela mesma sujeição”, frisou, lembrando as experiências de “chacota, desprezo e maledicência” por que passam muitos cristãos. “Nas perseguições e tribulações de tantos irmãos nossos, temos de nos rever a nós próprios porque irmãos nossos que sofram por causa da fé, também devemos sentir na pele esse sofrimento e sermos solidários”, complementou, considerando que “a solidariedade deve expressar-se no sacrifício diário, na oração diária, no testemunho diário”.

Lembrando as palavras de Jesus aos seus discípulos quando lhes disse “tende cuidado com os homens”, o frei José Quintã alertou para uma interpretação contrária à pretendida. “Hoje, este cuidado como que ganha outra dimensão, não por causa do cuidado da fé, mas, se calhar muitas vezes, pelo cuidado que temos em desconfiarmos uns dos outros. Então, este «tende cuidado com os homens» transforma-se em: desconfiai de tudo e de todos, não confieis em ninguém, não vos aproximeis de ninguém, fechai-vos nas vossas casas, nos vossos guetos, entendei-vos apenas com aqueles que são da vossa opinião ou com aqueles que pensam como vós. E isto é pensar o contrário do evangelho”, advertiu, lembrando que “o evangelho é a Boa Nova de Deus a todo homem (não só de boa vontade), inclusive para aquele que tem má vontade, porque esses também são chamados à conversão”.

Neste contexto, o sacerdote explicou que o sentido do pedido de Jesus é de “zelo” pela “fé”, “dons”, “graças” e “bênçãos” que são oferecidos e por “aqueles” que nos são “confiados”, para os ajudarmos a “reencontrarem o seu caminho, a darem valor à sua vida”. “Passa por nós, em primeiro lugar, sermos solidários com os da nossa casa, com os que estão próximo de nós, para começarmos então esse caminho de encontro face a face com Cristo que se nos mostra no mais indigente”, complementou.

O frei José Quintã recordou ainda momentos da história nacional em que “interesses políticos, económicos ou outros, se foram sobrepondo ao bem da comunidade”. “Lembremos a expulsão das ordens religiosas, a perseguição aos sacerdotes e pastores, a confiscação dos bens. A história fala por si mesma. E hoje, de uma maneira ou de outra, também como que nos querem confiscar a nossa dignidade e liberdade com os seus direitos de expressão”, lamentou.

A vigília de oração de ontem teve como ponto alto a adoração ao Santíssimo Sacramento e foi concelebrada pelo cónego José Pedro Martins, pároco da paróquia da Sé, comunidade daquela área da cidade de Faro. A celebração teve início com um filme realizado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), organização dependente da Santa Sé presente em 18 países, incluindo Portugal, que ajuda os cristãos perseguidos, refugiados ou ameaçados. Segundo a AIS há pelo menos 200 milhões de cristãos vítimas de perseguição em todo o mundo.

Samuel Mendonça