O Carmelo de Faro voltou a acolher no passado sábado mais uma edição dos ‘Encontros no Silêncio’.

Promovida por uma equipa da família Carmelita Descalça, formada por leigos que vivem o Matrimónio como estado de vida, por sacerdotes e pelas irmãs contemplativas, aquela iniciativa de discernimento vocacional, com lugar no Mosteiro de Nossa Senhora Rainha do Mundo, no Patacão (concelho de Faro), contou com a participação de cinco jovens e foi orientado pelo padre André de Santa Maria, da Ordem dos Carmelitas Descalças, por quatro irmãs da comunidade carmelita descalça no Algarve e por dois carmelitas seculares.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O encontro, incluiu momentos de oração e reflexão pessoal e em grupo, serviu para evidenciar as especificidades e as afinidades das vocações ao sacerdócio, à vida consagrada e ao Matrimónio. O padre André de Santa Maria começou por lembrar que todos os seres humanos possuem “a riqueza de ser vocacionados”. “Somos alguém que é sonhado e como alguém sonhado há um projeto da parte de Deus, um caminho com o qual Ele já nos pensou”, referiu, desafiando cada um a “descobrir este apreço, a beleza que todas as vocações têm”. “Cada uma delas manifesta quem é este Deus, como é este Deus e como Ele se vai encarnando e enriquecendo na nossa vida”, sustentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote carmelita referiu-se ao sacerdócio como “um dom de Deus” pelo qual “escolhe homens para o tornar presente”. “Um padre não é aquele que tem a profissão de ser padre. Um padre é padre”, distinguiu, realçando que aquela vocação implica a “dimensão do ser e não do fazer”.

Por outro lado, o padre André explicou que “o sacerdote é aquele que representa Cristo” e que “existe para tornar Cristo presente”. “O sacerdote é um mediador porque é entre Deus e os homens”, sustentou, explicando que “sacerdote, em sentido estrito, só há um: Jesus Cristo”. “Nós somos sacerdotes porque estamos unidos a Jesus. E por uma graça especial, que é a do sacramento da Ordem, participamos desta ação mediadora de Jesus, de levar até Deus as necessidades do mundo e de trazer o mundo a este Deus que o pode salvar”, completou, explicando que onde isso acontece “de forma perfeita é na Eucaristia”.

O sacerdote distinguiu ainda entre os padres diocesanos (pertencentes a uma diocese) e padres religiosos (pertencentes a um instituto religioso), lembrando que estes últimos têm como missão “tornar Jesus presente”, ou seja, “agir em nome de Jesus dentro da especificidade de cada um”. “Nós, carmelitas, aquilo que temos de específico é ajudar as pessoas a crescer na vida espiritual. Passamos duas horas por dia a rezar em silêncio, depois de todas as outras orações que temos, precisamente para fazermos trabalho para ajudarmos os outros a crescer na oração e na relação com Jesus”, testemunhou.

Isabela Neves e Rui Guerra, carmelitas seculares, referiram-se à vocação de leigos vivida pelo sacramento do Matrimónio. Isabela lembrou existirem “leigos que fazem a opção de viver sozinhos ou de casar”. “Este casamento não é um casamento qualquer, é o Matrimónio, é um sacramento. É no sim que dissemos um ao outro que vivemos para Deus”, destacou, acrescentando que na opção pelo Matrimónio a espiritualidade é um “auxílio” que ajuda a “fortalecer e a viver este sim” a Deus.

Rui explicou que a vocação laical tem duas dimensões. “A missão de leigo é viver para os outros no mundo, uma relação exterior, mas mantendo também a relação com Deus, uma relação interior”, afirmou, explicando que o Matrimónio é um “ato de amor alimentado todos os dias através de Deus”. “É uma renovação todos os dias deste voto, desta manifestação de amor”, considerou, acrescentando que o cônjuge é o “instrumento que Deus utiliza” para que outro cônjuge “saiba que é amado”.

Aquele leigo casado realçou que, tal como “o sacerdote é na terra a representação de Jesus”, “de certa forma, os esposos são um para o outro também a representação desse amor” de Cristo. “Se cortamos esta ligação divina, acabamos por cair no egoísmo e nas recriminações. Um casamento não é um 50/50. Muitas vezes é um 100/0. É sempre um dar sem limite”, alertou, acrescentando que a castidade dentro do Matrimónio é vivida como “opção consciente para preservar o amor”. “Numa família católica, tentamos ser uma pequenina sagrada família em que as pessoas não vivem para o seu próprio interesse e prazer, mas para o outro, amando-o em Jesus”, sustentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Após um momento de oração pelo restabelecimento da saúde do Papa Francisco, a madre do Carmelo de Faro referiu-se à vocação consagrada como “caminho de santidade e de felicidade”. “A vocação específica é o encontro entre um dom que Deus nos dá e um sim que, na nossa fragilidade, damos”, testemunhou a irmã Lúcia Maria, lembrando que “dentro da vocação específica da vida consagrada ainda há multi-expressões de consagração”. “Isto advém da magnífica e infinita criatividade de Deus e do Espírito Santo que atua sobre determinadas pessoas”, justificou, lembrando que “o comum a todas as famílias religiosas é ter uma espiritualidade, uma marca de atualizar Cristo, um carisma”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A carmelita descalça evidenciou ainda que os votos de castidade, pobreza e obediência espelham “o estilo de vida concreto que Jesus tomou ao andar neste mundo: ser pobre, casto e obediente”.

A irmã Lúcia considerou que a vida consagrada hoje “faz imenso sentido” e que não se trata de uma fuga ao mundo. “Não vim para a vida religiosa para viver num grupo de amigas. Cada uma das irmãs representa o mundo inteiro. O que somos chamadas a viver com um amor, casto e que respeita o outro tem a ver com aceitar todas aquelas que encontro. Esse cuidado de não usar o outro em meu interesse todos nós, consagrados, expressamos”, explicou, acrescentando: “somos todas diferentes e todas são chamadas a se querer, a se amar, a se ajudar e a se perdoar. Não faz sentido isto no mundo atual, ferido com tantas guerras? Isto não é um gueto de amiguinhos para fugir dos perigos do mundo. Os religiosos que vivem sempre em comunidades não estão a fugir do mundo, mas a dizer ao mundo: sim, é possível”, desenvolveu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Já a irmã Júlia Maria explicou que “na vida consagrada existem dois grandes grupos: os de vida ativa, com uma missão exercida diretamente junto das pessoas, e os de vida contemplativa, em que a missão principal é rezar”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O próximo ‘Encontro no Silêncio’ realiza-se no dia 21 de junho.