Pela baixa da cidade pombalina de Vila Real S. António, situada na fronteira com Espanha, e onde ainda existe um conjunto significativo de lojas de atoalhados, verifica-se que há cada vez menos compradores espanhóis, os principais clientes e apreciadores de toalhas, toalhetes, centros de mesa ou colchas.

A crise dos dois lados da fronteira tem acentuado o declínio do negócio e alguns comerciantes depositam agora esperanças no verão para tentar colmatar um inverno negativo, num negócio que tem vindo a decair ao longo da última década.

“Vamos ver se o verão pode compensar o inverno, que foi muito mau. O negócio já não tem nada que se pareça com outros tempos, os nossos produtos já se encontram em Espanha e lá o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) é 18 por cento, enquanto cá é 23”, disse à Lusa Maria Pedro, proprietária de uma loja na praça central da cidade.

Outro motivo apontado por esta comerciante para o declínio das vendas relaciona-se com a crise que também se faz sentir em Espanha e leva a que o cliente espanhol compre cada vez menos”.

“Até o cliente holandês ou o inglês compra menos. Os espanhóis antes vinham e compravam muito, mas isso já não acontece”, lamentou Maria Pedro, admitindo que a faturação caiu, mas preferindo “não fazer contas para não apanhar um susto”.

António Pereira também tem uma loja de atoalhados numa das principais artérias da cidade e contou que “se nota uma diferença enorme este ano".

“Pode haver um dia em que se trabalha melhor, mas depois há quatro em que pouco mexe. Vamos esperar pelo verão, mas a perspetiva é desanimadora e acredito até que algumas lojas tenham que fechar”, afirmou, sublinhando que os próprios viajantes já dizem que, se continuar assim, vão deixar de se deslocar a Vila Real de S. António porque não compensa”.

Pereira explicou que há uns anos os clientes espanhóis compravam quantidades grandes de atoalhados e, atualmente, “só compram uma t-shirt" ou uma "toalhinha”.

“O negócio está muito pior. Antigamente as ruas da baixa enchiam-se de espanhóis e agora é o que se vê. E se eles deixarem de vir, Vila Real S. António morre por completo”, estima Edite Costa, a fazer croché enquanto esperava pela entrada de algum cliente.

Na rua, e ao contrário do que acontecia antes, é difícil encontrar espanhóis com sacos cheios de atoalhados e os poucos que a Lusa encontrou disseram que a crise está a afetar também a vida em Espanha e, por isso, há mais contenção nos gastos.

“A crise também se faz sentir muito e, se antes havia quem comprasse atoalhados quase todos os anos, agora as pessoas já pensam duas vezes antes de o fazer”, disse Maria Carrillo, residente em Huelva e que veio propositadamente a Portugal para “passar o dia e comer alguma coisa, não para comprar atoalhados”.

José Fernandez, de Ayamonte, disse recordar os tempos em que “quase todos os espanhóis vinham a Portugal comprar estes produtos”, mas acrescentou que “hoje em dia isso já não é assim, porque já podem ser encontrados em Espanha e já não compensa tanto”.

Lusa