O cónego Eduardo Duque disse hoje ao clero do sul que “tem de haver uma mudança de paradigma”.

Na atualização em Albufeira de bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja e Évora sobre o tema “Igreja Sinodal, uma Igreja atenta aos Sinais dos Tempos”, que conta também com a participação de alguns seminaristas, aquele professor na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais no Centro Regional de Braga, da Universidade Católica Portuguesa, afirmou ser necessário “passar da época das reparações para a época das reconfigurações”.
Na sua relação sobre a temática “Desafios do universo juvenil à Igreja em Portugal”, aquele especialista em ciências sociais considerou que a Igreja está hoje a “pagar o adiamento de decisões que no passado foram adiadas e realmente nunca decididas”. “E deveriam ter sido”, enfatizou.

O sacerdote defendeu a importância de se “partir da tradição e depois procurar compreender o que é que se está a passar”. “Sermos capazes de, numa linguagem própria, sem desvirtuarmos a tradição, conseguirmos levar Cristo àquele jovem”, desenvolveu, explicando que o desafio “passa muito pela relação humana, pela bondade do coração, pelo gesto fraterno, pelo gesto caridoso”.
Considerado que “o grande desafio é a santidade”, identificou três outros: a “criatividade”, a “abertura ao outro” e os “acontecimentos”. Nesse sentido, assegurou que “os jovens estão disponíveis para assumir responsabilidades” e que “são muito sensíveis à abertura ao outro”. “Os jovens são geralmente portadores de uma abertura espontânea no confronto com diversidade que os torna atentos às temáticas da paz, da inclusão e do diálogo entre culturas e religiões”, realçou, acrescentando: “os acontecimentos são também propícios para chegarmos até aos jovens”. Nesse sentido, apelou a “continuar a pôr em comum as preocupações da Igreja”.

Considerando que a “nunca a Igreja foi tanto precisa como nos dias de hoje”, o orador apelou ainda à “empatia”, à “preocupação com o outro”, a uma “pedagogia capaz de interpelar” que promova a “linguagem do coração”, à “familiaridade com Cristo”, procurando também ser uma “Igreja que vai às periferias” como pede o Papa Francisco. O cónego Eduardo Duque afirmou ainda que a “constante formação é determinante” para o presbitério continuar a “ter a forma de Cristo”.
O docente disse que se vive um “tempo de crise de mediações” e que “o mundo precisa” delas. “Que nós sejamos nós, que o sacerdote seja inteiro. A sociedade de hoje está a pedirmos que sejamos sacerdotes com as pessoas, para as pessoas, que acompanham a especificidade das pessoas, que ajudam a levantar as pessoas. Temos de ajudar a pessoa a ser ela própria”, pediu.
O orador lamentou ainda que na Igreja ainda não existam “processos que aprendam”. “Os nossos sistemas não aprendem e quando aprendem já é tarde. Deveríamos ter sistemas corretivos por natureza. Deveríamos ter sistemas que aprendessem, muito mais corretivos”, considerou, alertando que “a realidade de hoje não é linear”, mas “profundamente complexa, cheia de problemas complexos, aquilo a que se chama a hiper-realidade”. “Hoje temos uma realidade que não integra só a dimensão teórica e prática, mas também as emoções das pessoas”, completou, referindo-se à “realidade emocional”.

Identificando a realidade juvenil, o cónego Eduardo Duque frisou que “Deus continua a ser importante” para os jovens e que 70% da juventude continua a “acreditar” n’Ele e que mesmo “as pessoas que dizem não ter religião atribuem importância a Deus”. No entanto, constatou que em cada 10 “que se dizem católicos”, apenas um frequenta a Igreja.
Constatando que as ideologias dos jovens são o feminismo, o veganismo, o animalismo, o LGBT e o género, o orador exortou ainda à necessidade de “implicar os jovens no voluntariado” porque eles “são muito sensíveis ao voluntariado”.
A atualização do clero do sul, que teve início na segunda-feira, 16 de janeiro, e terminou hoje, foi promovida pela décima sexta vez pelo Instituto Superior de Teologia de Évora e contou ainda com a participação do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Portugal, D. Ivo Scapolo.