A eucaristia do passado sábado na igreja de São Pedro de Faro, a matriz da cidade, assinalou o 40º aniversário da morte do padre João José Sustelo dos Santos, um dos sacerdotes que mais marcou a história recente da Diocese do Algarve e que faleceu num trágico acidente na Estrada Nacional 125.
A edição de 12 de janeiro de 1979 do jornal Folha do Domingo, noticiava o inesperado falecimento do sacerdote, de 35 anos, “vítima de trágico desastre de viação ocorrido na Estrada Nacional 125, perto das Ferreiras” no dia 5 daquele mês, por volta da 1h. “De regresso de Armação de Pera, onde tinha orientado uma reunião dos Cursos de Cristandade, encontrou a morte num violento embate entre o seu automóvel e um carro pesado”, relata aquela edição, acrescentando que “os seus companheiros e responsáveis diocesanos daquele movimento cristão, Marcelino Pacheco da Silva e António Mateus Faustino Ferrinho ficaram gravemente feridos, encontrando-se internados no Hospital de Faro”.
Na introdução à celebração eucarística, o cónego Carlos César Chantre, pároco de São Pedro de Faro e também vigário geral da Diocese do Algarve, recordou o falecido, testemunhando a sua “simpatia irradiante”. Aos mais novos presentes na eucaristia e que não o puderam conhecer, lembrou tratar-se de um sacerdote que “era muito conhecido” na cidade. “Os jovens conheciam-no muito”, afirmou, acrescentando tratar-se de um “padre muito dinâmico”.

A propósito da efeméride assinalada na eucaristia, o cónego César Chantre aproveitou para se referir à da questão da morte. “Infelizmente inventámos a palavra morte. Não sei se essa palavra está correta”, afirmou, discordando de que o anónimo de ser humano vivo seja ser humano morto. “Os dois estão vivos, estão é em dois diferentes estádios de desenvolvimento da vida”, defendeu, lembrando que nas eucaristias se reza por ambos. “Na missa rezamos pelos vivos que aqui nos encontramos e pelos vivos que já estão no outro lado da vida”, sustentou, esclarecendo que “quando o sacerdote celebra é a Igreja que celebra, é para todos aqueles que já partiram”.

A eucaristia foi participada por alguns familiares do falecido sacerdote, nomeadamente, Francisco Alberto Sustelo dos Santos, um dos dois irmãos ainda vivos, dos quatro que o padre João José teve. O segundo não conseguiu estar presente por residir na Alemanha.
Nascido em Estômbar a 2 de agosto de 1943, o padre Sustelo, como era conhecido, frequentou o Seminário de São José de Faro, seguindo depois para o Seminário de Cristo-Rei, dos Olivais, em Lisboa, onde concluiu o curso de Filosofia e Teologia.
Ordenado pelo então bispo do Algarve D. Júlio Tavares Rebimbas na Sé Catedral de Faro, a 31 de julho de 1966, juntamente com os padres Henrique Marreiros Varela e Manuel Augusto da Silva Santos, o sacerdote foi a 10 de setembro daquele ano nomeado professor e prefeito do Seminário de Faro. À causa das vocações sacerdotais consagrou grande parte da sua atividade.
A 3 de outubro de 1973 foi nomeado vice-reitor do Seminário, prosseguindo no seu programa de ação. Participou em Roma, durante alguns meses num Curso de Atualização Pastoral.
A 12 de novembro de 1975, foi nomeado pároco da freguesia do Conceição de Faro, múnus que exerceu, durante pouco tempo, por incompatibilidade com outros serviços a nível diocesano. Foi professor de Moral e de Português na então Escola Preparatória, no Liceu e na Escola Tomás Cabreira, em Faro.
Foi assistente do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil. “No plano das realizações dos Secretariados Nacional e Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas animou, incentivou e dinamizou muitas jornadas de estudo, de reflexão, de convívio e de espiritualidade, como encontros, cursos, acampamentos e a ‘Páscoa-Jovem’, que culminava com uma vivência da mensagem de libertação humana e cristã, no Santuário de Fátima”, escrevia aquela edição de Folha do Domingo.
O sacerdote foi assistente do Corpo Nacional de Escutas e das Guias de Portugal, tendo sido um dos responsáveis não só pela implantação do movimento guidista no Algarve, mas também pela fundação de várias companhias de guias na região.
Foi ainda autor e encenador/ensaiador de várias peças de teatro e desempenhou o cargo de assistente do Secretariado Diocesano dos Cursos de Cristandade, movimento ao serviço do qual veio a falecer.