Neste sentido, o presidente da Caritas Portuguesa frisou a importância daquelas instituições no assegurar da democracia efectiva e dos direitos de cidadania e lembrou que as mesmas “não existem exclusivamente mas preferencialmente para situações de maior vulnerabilidade económica e social”.
Por outro lado, sublinhou a importância dos “estatutos e regulamentos internos” como “instrumentos muito proveitosos para o funcionamento das instituições” e lembrou que “não pode haver instituição sem direcção e é indispensável que haja conselho fiscal”.
Eugénio da Fonseca apelou ainda à inserção na realidade. “Devemos estar bem inseridos na realidade para que as nossas opções respondam às necessidades das pessoas. Muitas vezes realizamos as acções pelos recursos que temos disponíveis e não pelas necessidades que identificamos”, criticou, considerando que o “desafio que está colocado às IPSS é poderem abrir-se mais à realização social”. “Temos de trabalhar mais por medida do que pela generalização das respostas”, afirmou, apelando à “acção social de proximidade”, um conceito que disse precisar de ser retomado para “para se evitar a empresarialização da acção social”.
A formação dos colaboradores foi outro dos aspectos defendidos pelo conferencista, associando-o à certificação de qualidade dos serviços das IPSS.
O presidente da Caritas Portuguesa exortou à criatividade das IPSS, pedindo que “não se fixem nas respostas existentes, mas abram-se a novas respostas, novas opções na solidariedade”. No entanto, advertiu que “quanto mais se ampliam as acções, mais risco a instituição corre de se afastar da proximidade desejada”. “Não se deve investir para além da realidade concreta das instituições”, alertou.
Eugénio da Fonseca defendeu uma “avaliação sistemática das respostas”, como “prática constante da vida das instituições” e “aprofundamento contínuo de identidade”, e a “cooperação dos actores sociais em rede”como “espaços de encontro de comunhão de problemas e respectivas soluções”.
O conferencista lembrou que “a solidariedade é um dever da Igreja” pois a “acção social da Igreja é imperativo que decorre da sua própria natureza”. “Temos pugnar por fazer com que as pessoas acedam aos seus direitos básicos que permitam uma vivência livre e tenham o sentido da sua dignidade. Não devemos dar por esmola aquilo que é devido por justiça. Nem sempre temos tido este cuidado”, referiu. Lembrando que a “caridade é uma virtude mais exigente que a própria solidariedade” e que a “acção caritativa é libertadora porque não cria dependência” apelou: “temos de tornar a justiça compassível”.
Entre os “riscos a evitar” enumerou a “incapacidade de sair da rotina, a rigidez de horários e funcionalismos, a excessiva tecnicização, a rígida delimitação dos campos de acção e os condicionalismos vários na resposta a casos extremos”. “A lei orienta-nos, mas não nos pode escravizar porque para servir as pessoas e não o contrário”, advertiu.
Relativamente aos “dinamismos a ter em conta” apontou o “empenho directo com os pobres e os excluídos”, a “informação e denuncia aos atropelos cometidos contra as pessoas”, a “acção junto das instituições responsáveis por leis mais justas”, as “campanhas de sensibilização para uma nova consciência social, para tornarem as pessoas mais humanas, para um mundo mais fraterno e solidário” e considerou que “as instituições da Igreja são chamadas a ser proféticas”.
Samuel Mendonça