Um jovem casal que residia na zona sudoeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Hungria, fugiu da guerra no seu carro com os três filhos de 11, 8 e 5 anos e veio sempre a conduzir até Portimão, tendo sido a família acolhida na paróquia de Nossa Senhora do Amparo.

Um dos párocos explicou ao Folha do Domingo que a paróquia já andava com vontade de receber refugiados, quando um ucraniano, ex-utente e atual voluntário do Centro Paroquial, lhe disse que tinha uma prima que precisava sair da Ucrânia com três filhos pequenos e perguntou se a poderiam alojar. “Em poucas horas falámos com todas as pessoas do Conselho Pastoral e todas foram unânimes de que tínhamos de dizer imediatamente que sim”, contou o padre Nuno Tovar de Lemos.

“Passada uma semana, estavam na nossa paróquia, felizmente não só ela e os três filhos – dois rapazes de 11 e 8 anos e uma menina de 5 – mas também o marido que, felizmente, conseguiu passar por se tratar de uma família numerosa”, prosseguiu, lembrando que os pais com mais de três filhos podem acompanhar a família, não sendo obrigados a ficar na Ucrânia.

Entretanto a sua cidade, onde ficaram ainda os pais da mãe de família, já foi bombardeada. “Todas as noites vão dormir para a cave do prédio onde vivem com todos vizinhos”, conta o padre Nuno Tovar de Lemos, acrescentando que eles “tinham que tirar os miúdos daquela situação, não só pelo perigo real de serem mortos mas também pelos traumatismos enormes psicológicos que uma situação destas gera em crianças”.

Quando questionado se se trata de uma família católica, o sacerdote responde perentoriamente: “Não sei. Ainda não tive nenhuma conversa com eles acerca de religião”.

A família chegou em meados de março e foi acolhida no mesmo espaço que já tinha recebido uma família síria de refugiados. “O nosso centro paroquial tem um espaço com umas camas, inicialmente projetado como dois albergues para rapazes e para raparigas para encontros de jovens. Um desses albergues já tinha sido transformado em apartamento e é precisamente nesse apartamento que está a viver a família ucraniana”, recorda o sacerdote.

O padre Nuno Tovar de Lemos conta que evitaram sair pela fronteira com a Polónia, não só por ser mais longe, mas porque “tinham dias e dias de espera e era mais difícil”. “Ainda dormiram um dia no carro, mas conseguiram passar”, relata, acrescentando que os membros do casal são ambos licenciados, advogados, “com algumas possibilidades”. “Mas chegaram aqui sem nada” a precisar “de praticamente tudo”, testemunha, garantindo, no entanto, que “são muito proativos”. “Ele já está a trabalhar, creio que num campo de golfe e estão a ter aulas de português. Os miúdos mais velhos estão a ter aulas online da Ucrânia. A escola deles mantém-se a fazer aulas. Para a menina estamos a tentar arranjar um infantário, mas não tem sido fácil”, acrescenta.

A paróquia tem estado a articular com a Câmara Municipal, o SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, com o CLAIM – Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes, com a Segurança Social e com o Agrupamento de Escolas local e o pároco garante que estas instâncias “têm sido todas de um acolhimento e de uma eficácia extraordinários”. “Em poucas semanas todos já têm autorização de residência, números de identificação fiscal e de utentes de Segurança Social”, exemplifica, acrescentando que o filho mais velho praticava Taekwondo e era campeão nacional na Ucrânia no respetivo escalão. “Passado pouco tempo de ter chegado já estava a praticar, ele e o irmão, num centro de treinos em Portimão onde foi muitíssimo bem recebido. No primeiro dia em que lá foram já saíram com o equipamento fornecido gratuitamente pelo centro”, contou.

O sacerdote garante que “a comunidade estava ansiosa” por ajudar e assim continua. “Quase que temos de controlar a paróquia para não deixar coisas à porta deles porque a comunidade, como todo o país, está muito sensibilizada para o acolhimento de ucranianos e concretamente destes”, refere, acrescentando tratar-se de uma família composta por um “casal agradecidíssimo” e “miúdos educadíssimos”. “Se já tínhamos vontade de os acolher bem, depois de os conhecer ainda mais vontade temos”, assegura.

Para além desta paróquia, Folha do Domingo soube também de um casal membro de uma outra paróquia algarvia que também acolheu uma família de ucranianos numa casa de turismo rural de sua propriedade. No entanto, quando foram contactados pelo nosso jornal confirmaram o acolhimento, mas preferiram não prestar declarações sobre o assunto e manter o anonimato.