© Samuel Mendonça
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O padre Vítor Feytor Pinto defendeu na última sexta-feira em Loulé que o entendimento do que é o amor tem de mudar para que se resolvam os “grandes problemas das famílias”.

O sacerdote, que apresentou uma conferência (disponível no final da página) sobre o tema “Chamados à Santidade em Família” no âmbito da celebração da Semana da Família promovida pelas paróquias daquela cidade, considerou que o amor é um “compromisso” e não “paixão” ou “sentimento”. “O outro tem de ser feliz à minha custa porque eu o amo. Se descobrirmos esta dimensão do amor, os grandes problemas das famílias resolvem-se. Se continuarmos a achar que o amor é gostar de outra pessoa, está tudo errado porque isso é egoísmo”, declarou, acrescentando que “o amor tem de ser dádiva gratuita para que o outro seja feliz”. “E se o outro tem problemas ou dificuldades, mais eu tenho de o ajudar para ele ser feliz”, completou.

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O conferencista, que falou para uma plateia com cerca de 214 pessoas, considerou, por isso, ser “inadiável a renovação da família cristã” e disse que “os grandes problemas [da família] não são os sociais”, mas os “existenciais” e “relacionais”. “Nesses temos muita dificuldade porque implica a conversão do coração e há muitos corações que não estão disponíveis para se converterem. Estão fechados no seu próprio egoísmo”, lamentou.

O padre Feytor Pinto exortou então à renovação da família segundo o “paradigma do amor radical”. Pense, cada marido, que a sua mulher é uma presença viva de Cristo e pense o mesmo a mulher em relação ao marido”, pediu, sublinhando que “o paradigma de vida da família cristã é o amor, a caridade ativa, a intervenção cheia de ternura, carinho e beleza”.

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O orador considerou, por isso, ser fundamental que a vida da família possa “sair da privatização e entrar na solidariedade efetiva na relação permanente com os outros”. “A sua vida cristã tem de ser conhecida”, defendeu, lembrando que “a confissão da fé faz-se através da intervenção social” e que a família é a “Igreja doméstica, uma comunidade crente e evangelizadora, de diálogo com Deus, de caridade, de ternura e de partilha para com os mais pobres”.

Neste sentido, e referindo-se ao “caminho de santidade” da família, destacou como “expressão máxima da santidade” a “caridade aos mais pobres”. “Não pode haver uma família cristã que cresce em santidade se não inventar a forma de dar. A originalidade da família cristã é o amor que não se esgota no amor conjugal nem no amor familiar, mas se realiza plenamente na vocação cristã ao amor total que leva a todos a certeza da felicidade que é possível”, reforçou.

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O padre Feytor Pinto apontou ainda a maneira de crescer na santidade familiar. “Alimentem o amor. Que nunca se possa deitar um casal sem se ter reconciliado primeiro, se acaso houve alguma dificuldade. Recordem as coisas bonitas da vida. Não cultivem as coisas negativas. Essas são para delas retirar exemplo e pôr de parte logo que possível para poderem caminhar com novo entusiasmo.

Cultivem na família as bem-aventuranças”, aconselhou, pedindo que vivam “felizes com um coração de pobre, justo, que perdoa, sincero, que constrói a paz, mesmo que haja muitas dificuldades”. O conferencista aconselhou as famílias a não perderem nas dificuldades do caminho nem o “objetivo” nem a “metodologia fundamental”, ou seja, nem a “felicidade” nem o “amor multiplicado”.

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Reconhecendo que a família vive uma “crise dramática” e “muito profunda”, o padre Feytor Pinto disse ser preciso que a pastoral da Igreja nesta área tenha em conta três etapas na sua ação: “entender o que se passa à nossa volta, ver como é que Jesus ama estas situações e descobrir os processos de superar as dificuldades que perpassam a vida das pessoas”. “O olhar de Cristo é sempre um olhar de ternura e ninguém, qualquer que seja a sua situação, se pode considerar fora da ternura de Jesus e da Igreja. Tínhamos muito a mania de catalogar as pessoas, os bons e os maus, os que cumprem todos os mandamentos e os que não cumprem nenhum. Jesus não faz essa resenha. Jesus ama. Jesus só sabe amar! É por isso que, em pastoral, nunca posso dizer: não. Se eu amo com o coração de Jesus, só tenho uma palavra: Como é que eu te posso ajudar?”, ressalvou.

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No entanto, o sacerdote, que considerou que “a sociedade está a mexer-se à volta da família porque tem uma grande dificuldade em reconhecer o que é a família”, alertou para o perigo de se considerar como família “tudo o que é juntar algumas pessoas”. “Cuidado! É por isso que é muito importante ter a noção clara do que é a família na perspetiva da visão da Igreja”, advertiu, citando o livro dos Génesis. “Deus criou o par humano, homem e mulher, e deu-lhe um mandato: crescer, multiplicar-se e dominar a terra. Esta é a célula-mãe da família”, afirmou, sustentando que esta conceção, mesmo numa perspetiva evolucionista, se “entende completamente”. “O ser humano é par, é homem e mulher e só com os dois elementos é que o ser humano/par humano pode crescer, multiplicar-se e dominar a terra”, destacou, evidenciando que não pode haver família “sem os dois gâmetas diferentes e sem a sua complementaridade” em comunhão.

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Neste sentido, o orador defendeu uma “cultura nova que leve a que o sacramento do matrimónio (para os cristãos) ou o casamento (para os não cristãos) seja um compromisso de vida em que quem nasce dele possa ter, permanentemente, durante todo o processo educativo, o acompanhamento diversificado de um homem e de uma mulher”. “Só através desse apoio diversificado é que a pessoa cresce de uma maneira harmónica”, justificou.

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“É fundamental conseguirmos viver o amor conjugal em fidelidade, na abertura a uma educação completa também com uma paternidade responsável que torna a família cristã capaz de realização na felicidade verdadeira”, sublinhou.

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Evidenciando que “a família vive-se no contexto da vocação cristã”, o orador disse ser “preciso descobrir que a família cristã vive um estado vocacional” porque “há uma vocação laical no próprio matrimónio”. “Um casamento é um contrato que pode ser desfeito unilateralmente. Um sacramento, não. Um sacramento marca a vida para sempre”, diferenciou, considerando ser necessário “que a família se reconheça como família e se reconstrua”.

Conferência do padre Vítor Feitor Pinto:

Resposta às perguntas feitas no final da conferência: