Trata-se da impressão, em língua hebraica, da Torá (designação dos judeus ao Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia), cujo original está patente na British Library de Londres, por ter sido alvo do saque do Conde de Essex, em 1596, à cidade de Faro, existindo apenas no Algarve uma reprodução facsimilada.

Na sessão das comemorações, que contou com a presença do presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Jose Oulman Carp, Teodomiro Neto, o primeiro conferencista da manhã, começou por lembrar a tomada de Faro aos mouros por D. Afonso III em 1249 e o contexto da “vila régia de grande prosperidade” em finais do século XV.

Lembrando que três décadas separam Portugal da invenção da imprensa noutros países da Europa, o historiador explicou que “muito se duvidou de Faro ser o berço da imprensa portuguesa” e que as “confusões levaram anos”. Teodomiro Neto explicou haver autores que defendem teorias sobre a origem de Samuel Gacon. “Viajante israelita ou natural de Faro? Temos de desvendar esse mistério”, desejou.

O conferencista explicou que Samuel Gacon trabalharia na judiaria de Faro, situada precisamente naquele local, onde tinha a sua oficina tipográfica, mais tarde transformada no convento de Nossa Senhora da Assunção das Clarissas. Teodomiro Neto lembrou que as Descobertas, tendo o Algarve como centro de partida, “foram outro fator importante para a introdução da imprensa” e considerou que esta “foi o passo mais importante para a divulgação da escrita”.

Lembrando que Faro foi a “primeira terra portuguesa onde existiu a tipografia”, o historiador afirmou que havia na cidade 12 tipografias no século XIX – a primeira delas construída em 1833 para produzir “Crónicas do Algarve”, na antiga rua do Aljube, a atual Rua do Município – e 24 tipografias no século XX. Prosseguindo na evidenciação de Faro como cidade-berço da atividade tipográfica, o conferencista lembrou ainda o surgimento de vários jornais no Algarve, destacando a existência de O Algarve (fundado em 1908) e de FOLHA DO DOMINGO (fundado em 1914), os dois mais antigos da região.

Teodomiro Neto, que se referiu à chegada a Faro, na década de 1820, de uma “abastada família judaica”, “pequenos comerciantes vindos de Tânger, Gibraltar, e Marrocos, que haviam recusado converter-se ao Cristianismo, desejosos por regressar à terra de onde os seus antepassados haviam partido mais de três séculos antes”, defendeu que se erigisse uma estátua a Samuel Gacon, no local onde está a de D. Afonso III, que, no seu entender, ficaria melhor localizada no Largo do Castelo ou frente à porta do Repouso.

Miriam Assor, jornalista e a segunda conferencista da manhã, deteve-se na caracterização de Samuel Gacon como funcionário da judiaria farense e destacou as suas principais obras impressas que disse terem sido destruídas pela inquisição.

Por último, Jorge Patrão, secretário geral da Rede de Judiarias de Portugal, apresentou este projeto, seguindo-se uma visita à rua Samuel Gacon, na zona do Montenegro, e ao Centro Histórico Judaico de Faro, onde se inclui o Cemitério Judaico.

Samuel Mendonça