Na sessão das comemorações, que contou com a presença do presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Jose Oulman Carp, Teodomiro Neto, o primeiro conferencista da manhã, começou por lembrar a tomada de Faro aos mouros por D. Afonso III em 1249 e o contexto da “vila régia de grande prosperidade” em finais do século XV.
Lembrando que três décadas separam Portugal da invenção da imprensa noutros países da Europa, o historiador explicou que “muito se duvidou de Faro ser o berço da imprensa portuguesa” e que as “confusões levaram anos”. Teodomiro Neto explicou haver autores que defendem teorias sobre a origem de Samuel Gacon. “Viajante israelita ou natural de Faro? Temos de desvendar esse mistério”, desejou.
O conferencista explicou que Samuel Gacon trabalharia na judiaria de Faro, situada precisamente naquele local, onde tinha a sua oficina tipográfica, mais tarde transformada no convento de Nossa Senhora da Assunção das Clarissas. Teodomiro Neto lembrou que as Descobertas, tendo o Algarve como centro de partida, “foram outro fator importante para a introdução da imprensa” e considerou que esta “foi o passo mais importante para a divulgação da escrita”.
Lembrando que Faro foi a “primeira terra portuguesa onde existiu a tipografia”, o historiador afirmou que havia na cidade 12 tipografias no século XIX – a primeira delas construída em 1833 para produzir “Crónicas do Algarve”, na antiga rua do Aljube, a atual Rua do Município – e 24 tipografias no século XX. Prosseguindo na evidenciação de Faro como cidade-berço da atividade tipográfica, o conferencista lembrou ainda o surgimento de vários jornais no Algarve, destacando a existência de O Algarve (fundado em 1908) e de FOLHA DO DOMINGO (fundado em 1914), os dois mais antigos da região.
Teodomiro Neto, que se referiu à chegada a Faro, na década de 1820, de uma “abastada família judaica”, “pequenos comerciantes vindos de Tânger, Gibraltar, e Marrocos, que haviam recusado converter-se ao Cristianismo, desejosos por regressar à terra de onde os seus antepassados haviam partido mais de três séculos antes”, defendeu que se erigisse uma estátua a Samuel Gacon, no local onde está a de D. Afonso III, que, no seu entender, ficaria melhor localizada no Largo do Castelo ou frente à porta do Repouso.
Miriam Assor, jornalista e a segunda conferencista da manhã, deteve-se na caracterização de Samuel Gacon como funcionário da judiaria farense e destacou as suas principais obras impressas que disse terem sido destruídas pela inquisição.
Por último, Jorge Patrão, secretário geral da Rede de Judiarias de Portugal, apresentou este projeto, seguindo-se uma visita à rua Samuel Gacon, na zona do Montenegro, e ao Centro Histórico Judaico de Faro, onde se inclui o Cemitério Judaico.