Em junho de 2006, na altura treinador do Benfica, Fernando Santos – hoje confirmado pela Federação Portuguesa de Futebol como novo selecionador nacional – concedia ao Folha do Domingo, à margem da sua intervenção numa Ultreia Diocesana do Movimento dos Cursos de Cristandade, uma entrevista onde abordava a importância da fé na sua vida. É essa conversa, publicada na edição em papel (na altura a única) de 23 de junho de 2006, que hoje, aqui recuperamos na edição online. Texto e fotos por Samuel Mendonça
[divider]
“A vida sem Cristo não tem sentido”
Há quanto tempo é cursista?
12 anos.
Qual é a importância da fé em Jesus Cristo na sua vida?
Total… porque, para mim e para a minha família, a vida sem Cristo não tem sentido. E Cristo também está nos irmãos. É um Cristo vivo e não aquele que eu conheci durante alguns anos: um Cristo afastado, longe das pessoas, que muitas vezes nos foi ensinado como castigador, quando Cristo é totalmente o contrário. Cristo é amor e portanto está nos irmãos e é o centro da nossa vida. Nós que fazemos parte de uma grande família, desde logo da nossa família de laços sanguíneos, e da nossa família cristã que é a comunhão de todos os batizados de que Cristo é o centro.
Como é que vive no dia-a-dia essa fé?
Afirmando-a com convicção, participando na Eucaristia, porque a fé é algo que tem de se alimentar e eu alimento-a, essencialmente, através da Eucaristia. E também procurando dar o meu testemunho de cristão. Por isso, para além do trabalho na minha paróquia, sou visitador de prisões e faço outras coisas. Procuro fazer, com alguma humildade, aquilo que o Senhor quer que eu faça.
E na sua profissão como é que vive esta dimensão da sua vida?
Afirmando a minha fé, naturalmente, com respeito pelos outros. Eu afirmo a minha convicção, mas tenho respeito pelos outros que têm outras crenças religiosas, discutindo com eles, sem medo de abordar aquelas que são as verdades da Igreja e procurando também percebê-los a eles.
Referiu-se à importância de celebrar a Eucaristia. Como é que um treinador de futebol consegue celebrar a sua fé ao Domingo, o dia normal das competições desportivas?
Eu participo sempre na Eucaristia. Depois de fazer o Curso de Cristandade percebi que tinha tempo para tudo e a primeira coisa que faço, quando vou jogar fora, é perguntar, no hotel a que chego, onde é que há Eucaristia e a que horas. Procuro conciliar o meu tempo com a participação na Eucaristia e felizmente tenho conseguido sempre.
Testemunhar a fé junto dos atletas que treina e dos restantes membros da equipa técnica é fácil?
É. Basta, por exemplo, ir à Eucaristia. Eu lembro-me que nalguns casos as coisas se alteraram a partir daí. No princípio, os clubes não percebiam por que é que eu ia à Eucaristia e me ausentava algum tempo, mas eu tinha o cuidado de explicar aos meus jogadores e à direção a importância, para mim, da Eucaristia. Isso gera alguma conversa. Às vezes algumas frases menos agradáveis. Uma das coisas que dizem, por vezes, a meu respeito é que sou muito brando porque sou cristão, porque vou à igreja e à Eucaristia e não é assim. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Até por aí é uma forma de nós testemunharmos.