Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Realizou-se no passado domingo em Lagos a festa em honra de São Gonçalo, padroeiro daquela cidade, com a celebração da eucaristia e procissão com bênção das embarcações de pesca.

Na eucaristia, que teve lugar no Jardim da Constituição, junto à porta e nicho do patrono, o bispo do Algarve, que presidiu à celebração, destacou três atributos de São Gonçalo: “humildade de espírito, pureza de costumes e singular caridade”. “[São] três atributos que reconhecemos que ajudaram São Gonçalo a ser santo e hoje a acolhermos o seu testemunho da santidade”, sustentou D. Manuel Quintas, acrescentando que aquelas qualidades “são sempre admiráveis naquele que os cultiva e que procura assumi-los na sua própria vida”.

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“Queremos assumi-lo como modelo de fé e também como testemunho de vida”, complementou o prelado, que se referiu também ao espaço escolhido anualmente para aquela celebração como um “lugar de referência”, não apenas para os lacobrigenses, mas também para o próprio Gonçalo. “[Celebrar] abertos para o mundo contemplando este mar que ele contemplou tantas vezes, certamente, particularmente enquanto aqui viveu na sua infância e na sua juventude”, referiu na eucaristia concelebrada pelos padres Rui Santiago, superior provincial do Missionários Redentoristas, e Abílio Almeida, António Ferreira, Silvério da Silva Rato e Eugeniusz Fasuga, membros da comunidade algarvia da Congregação do Santíssimo Redentor.

São Gonçalo nasceu em Lagos no ano de 1360. Adotou o sobrenome de Lagos por costume da época entre os frades e entrou no convento dos “agostinhos gracianos”, nome vulgarmente dado, naquele tempo, aos frades da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho que viviam no convento de Nossa Senhora da Graça, em Lisboa.

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Depois de ordenado foi pároco na Lourinhã, Lisboa, Santarém e Torres Vedras, onde veio a falecer no dia 15 de outubro de 1422. Desde esta data, Gonçalo foi aclamado como santo, tendo sido venerado pela população. No entanto, sendo beatificado pelo papa Pio VI em 1778, não chegou até hoje a ser canonizado.

O bispo do Algarve lembrou que daqui a três anos se celebram os 600 anos da morte do santo lacobrigense. “É uma data bonita aqui para Lagos e para o Algarve. Temos que nos ir preparando. Quem sabe se daqui a três anos não poderíamos programar alguma coisa que assinalasse os 600 anos e fosse, não apenas a recolha de um testemunho que nos vem do passado, mas que queremos legar também àqueles que vierem depois de nós”, propôs.

D. Manuel Quintas referiu-se ainda ao “gesto tão bonito” de criação da freguesia de São Gonçalo de Lagos, resultante da união das antigas freguesias de Santa Maria e São Sebastião. “Essa opção, que é de vós que aqui viveis, vem afirmar ainda mais estes laços tão estreitos de São Gonçalo à cidade”, considerou.

Também o presidente da Assembleia Municipal de Lagos, na sessão solene, que teve lugar à tarde no Centro Cultural de Lagos, se referiu a São Gonçalo para considerá-lo “um santo especial”. Paulo Morgado lembrou que D. João II escreveu uma carta a Lagos e também ao município de Torres Vedras, instando quer os lacobrigenses, quer os torrienses a homenagearem e a valorizarem aquele que tinha sido um santo especial”. “Dá para entender que tinha que ser uma pessoa muito especial. Tinha mesmo de ser um santo, para durante muitos séculos não ser esquecido”, sustentou, lembrando que “São Gonçalo era uma pessoa especial muito versátil, com muitas qualidades, muito próximo dos pobres, das crianças” que “gostava muito de ensinar”, “gostava da música” e “de escrever” e “tinha muitas virtudes”.

O autarca referiu-se ao homenageado como “uma pessoa que marcou muito o seu tempo e perdurou na memória do povo, quer o de Lagos, quer o Torres Vedras”. “Reconhecer aqueles que são os melhores de entre nós é sempre um dever que todos temos enquanto comunidade porque acho que todos temos de viver pelo exemplo e viver pelo exemplo daqueles que se distinguem de entre os melhores entre nós”, concluiu.

Na oração universal da eucaristia, o bispo diocesano fez ainda questão de acrescentar uma prece pelos missionários redentoristas que este ano completam 50 anos de presença e trabalho em Lagos. D. Manuel Quintas referiu-se ao “dom” que os padres da Congregação do Santíssimo Redentor “foram, são e hão de continuar a ser” para a Igreja diocesana e para os lacobrigenses.

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No final da celebração, participada pelo Núcleo de Paraquedistas das Terras do Infante, o padre Eugeniusz Fasuga, coordenador da comunidade algarvia redentorista, garantiu que “os missionários só estão por causa do povo”. “O senhor bispo achou por bem convidar-nos para trabalharmos com esse povo e temos todo o gosto em continuar esse trabalho se esse for o desejo da diocese”, acrescentou na missa da festa, promovida pela paróquia de Santa Maria de Lagos em colaboração com o Agrupamento 173 de Lagos do Corpo Nacional de Escutas.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Depois da eucaristia, na qual esteve presente uma relíquia de São Gonçalo, realizou-se a procissão pela Avenida dos Descobrimentos, passando pela ponte pedonal da marina, até ao porto, onde teve lugar a bênção das embarcações de pesca. O cortejo foi acompanhado pela Banda da Sociedade Filarmónica 1º de Maio de Lagos.

A memória facultativa do beato Gonçalo de Lagos, obrigatória na Diocese do Algarve e no Patriarcado de Lisboa, celebra-se a 27 de outubro.