Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O cónego Carlos César Chantre, que este ano foi o pregador do tríduo e da Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, em Loulé, destacou no domingo a “soberania de amor” de Maria, que também foi “soberana no espírito e soberana na fé”.

O vigário geral da Diocese do Algarve frisou na missa campal, junto ao monumento a Duarte Pacheco, que a missão de Jesus, consumada na sua ressurreição, “só foi possível porque houve uma mulher que, na sua soberania de amor, disse sim” ao projeto de Deus. O sacerdote realçou que Maria “não só disse sim ao Filho, como apontou a todos: «fazei tudo o que Ele vos disser»”.

Lembrando “as dificuldades que aquela Mãe enfrentou por causa daquela criança”, o orador evidenciou que as complicações “começaram a surgir” “desde o momento em que Nossa Senhora aceitou ser a Mãe de Jesus”.

Procurando esclarecer alguma eventual estranheza de a Igreja celebrar em tempo de Páscoa uma festa que tem como imagem Nossa Senhora com o Filho morto nos braços, o cónego César Chantre disse que “celebrar a Páscoa é celebrar a vitória da vida sobre a morte”. “Nós não somos pessoas da morte. Nós somos pessoas da vida”, frisou.

No final da eucaristia, o bispo do Algarve, que presidiu à eucaristia e confiou à bênção e proteção de Nossa Senhora as famílias, crianças, jovens, idosos e doentes, governantes, trabalhadores, os que buscam emprego, imigrantes e refugiados, terras e casas, escolas, creches e infantários, indústrias e comércio, os grupos desportivos e culturais, bombeiros, militares da GNR e centros de saúde, centros da terceira idade, misericórdias, confrarias e irmandades, consagrou a diocese algarvia à Mãe Soberana.

Na chegada ao santuário, o vigário geral lembrou as palavras do papa Francisco em Fátima no dia 13 de maio do ano passado. “Temos Mãe, temos Mãe. E isto muda tudo”, afirmou, lembrando que “Jesus está fortemente ligado à Mãe”. “Nós sabemos qual a importância da mãe nas nossas vidas. Cada um sabe qual é o lugar da sua mãe. Se assim é, a Mãe de Jesus é a Mãe de todas as mães”, prosseguiu, realçando que “os filhos de Loulé há séculos são guardiães desta Mãe”. “Há séculos, os filhos de Loulé guardam este tesouro. Hoje somos todos louletanos. Aos louletanos um grande abraço para continuarem a defender a sua Mãe, continuarem a defender a nossa Mãe, continuarmos todos sem medo a levantar a cabeça”, observou.

O sacerdote lamentou ainda que na Europa haja “zonas que ainda não compreenderam o lugar de Jesus”. “Eu quase que me atrevia a convidar os parlamentares de toda a Europa para virem aprender em Loulé o que é a Mãe do céu, o que é a Mãe Soberana. Que todos aqueles que mandam no mundo venham aqui abraçar a Mãe Soberana, venham aprender com o povo o que é a fé”, afirmou, considerando que “em muitos lados do mundo ainda não compreenderam o que é a fé”.

“Não sei que milagre é este que em Loulé, passadas tantas gerações, tantos sistemas políticos, tanta gente, continua-se a abraçar a Mãe Soberana faça chuva, faça sol. Isto é um milagre que só pode ser atribuído à Mãe d’Aquele sem o qual nós não teríamos fé: Jesus de Nazaré”, concluiu.

Após a eucaristia, o bispo do Algarve presidiu à procissão que este ano teve um percurso mais curto devido ao tempo chuvoso que se apresentou.

Impondo-se como a maior manifestação de fé a sul de Fátima, que é simultaneamente a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia, a Festa Grande a Nossa Senhora da Piedade, não obstante o tempo de chuva, voltou a atrair a Loulé uma multidão, oriunda não só de todos os pontos do Algarve, como também de diversas regiões do país e até emigrantes.

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus nos braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.

Depois da pregação e de a imagem ser levada de volta para a secular ermida do santuário, seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade.

As festividades de Nossa Senhora da Piedade, que constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada, terminaram à noite com um espetáculo de fogo-de-artifício.

Festa Grande Mãe Soberana 2018