Quatro coletivos de música árabe-andalusí vão trazer a seis cidades do Algarve as sonoridades que durante séculos se ouviram na região, então conhecida como Gharb al-Andalus, no festival Al-Mutamid, que arranca na sexta-feira.
A 17.ª edição do festival de música, que decorre entre sexta-feira e o dia 18 de fevereiro, coincide com a data em que se assinala o 750.º aniversário do Algarve como parte de Portugal, uma vez que foi em 1267 que os reis Afonso III de Portugal e Afonso X de Castela assinaram a Convenção de Badajoz, garantindo a soberania portuguesa do Algarve.
A maioria dos grupos, com músicos da Síria, Marrocos, Espanha, Sudão e Guiné Conacri, vão ser acompanhados em palco por bailarinas de dança oriental e, num dos casos, por um bailarino de giro ‘sufi’ e dança ‘tanora’, em que o homem rodopia com saias coloridas, “lembrando um caleidoscópio humano”, explicou à Lusa João Pedro Vieira, da organização do festival.
Segundo aquele responsável, a iniciativa constitui-se como o festival itinerante mais antigo do Algarve e, no que respeita à duração ininterrupta, o terceiro mais antigo, apenas ultrapassado pela Mostra de Música Antiga de Loulé, que se realiza há 18 anos, e pelo Festival de Jazz de Loulé, com 20 anos.
“É um festival que prima pelo rigor e pela autenticidade da música, com grupos de palco, que não fazem animação de rua, e que nos dão a conhecer géneros musicais que eram completamente desconhecidos”, referiu João Pedro Vieira, criticando as feiras que proliferam pelo Algarve no verão e que dão “uma imagem equivocada do que é a música árabe”.
A música árabe-andalusí, explicou, era a música que se fazia no reino de Al-Andalus, que vigorou durante a Idade Média, abrangendo grande parte da Península Ibérica, a partir de 711.
O festival deve o seu nome ao rei poeta Al-Mutamid, filho e sucessor do rei de Sevilha e que nasceu em Beja em 1040, tendo sido nomeado governador de Silves, a então capital do Algarve, com apenas 12 anos.
“É um estilo musical único, criado em Al-Andalus, e que, com a expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica, foi levado para Marrocos e também para a Síria”, explicou o responsável, acrescentando que os instrumentos mais usados são o alaúde árabe, o ‘kanun’ (cítara com mais de 70 cordas) e o ‘nay’, uma flauta de cana.
O primeiro espetáculo, com o grupo Muhsilwan, vai apresentar música afro-árabe, na sexta-feira, no Convento de São José, em Lagoa, e, no sábado, no Centro Cultural António Aleixo, em Vila Real de Santo António.
O festival prossegue em fevereiro, com o grupo Al-Bashirah, com músicos da Síria e Marrocos, acompanhados por um bailarino, no dia 03 no Teatro Mascarenhas Gregório, em Silves, e no dia 04 no Auditório Municipal de Albufeira.
Nos dias 10 e 11 de fevereiro, o Cine-Teatro Louletano e o Centro Cultural de Lagos recebem o coletivo El-Laff, dedicado à música árabe e à dança oriental.
O festival termina a 18 de fevereiro, no Auditório Municipal de Lagoa, com os Nyftys Ensemble, o único grupo que usa teclados e que será acompanhado por uma bailarina de dança oriental, que usará candeeiros, bastões e espadas, na sua interpretação.