O professor Francisco Machado disse ao clero das dioceses do sul que “cada padre, que é pastor na sua comunidade, será manifestação da presença cuidadora de Deus para as pessoas através da sua humanidade e das suas características humanas pessoais”.

Na atualização de bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, o docente do Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE) — que organiza a iniciativa que está a decorrer desde ontem e se prolonga até sexta-feira, 19 de janeiro, no hotel Alísios em Albufeira — apresentou algumas características que aparecem implícitas nas passagens bíblicas mais diretamente ligadas à imagem do pastor.

Na reflexão, apresentada por videoconferência, sobre o tema “As qualidades humanas do pastor”, o orador começou por referir que a humanidade do sacerdote, ou seja, a sua “personalidade, modo de falar, expressão corporal, gestos e presença, é um instrumento fundamental que Deus quer usar para chegar às pessoas”. “Por isso, a nossa humanidade e as nossas qualidades merecem especial cuidado”, advertiu, considerando que “nenhum padre é, nem tem de ser, humanamente perfeito, mas isso não significa que qualidades humanas de cada padre não sejam também canais importantes que podem facilitar ou limitar o modo como a graça de Deus chega às pessoas”.

O docente indicou que “o pastor é pessoal, dedica-se não só à comunidade como um todo, mas também às pessoas individualmente; é zeloso e disposto a sair da zona de conforto para ir ao encontro daqueles que estão afastados ou em necessidade; é atrativo porque é alegre, generoso e disponível para servir; é humilde porque reconhece os seus limites e encoraja outros a colaborar consigo na missão sem criar dependência nem controlo excessivo; e é diligente na oração e bem preparado para a homilia”.

O formador começou por garantir que “cada vez mais pessoas procuram a simpatia, qualidade oratória e espírito de acolhimento nos seus padres” e que as qualidades humanas que mais desejam ver nos seus pastores são a “boa comunicação, ou seja, a capacidade de adotar um discurso que marque”; a “empatia, ou seja, a capacidade de abertura às pessoas e cuidado pelas suas alegrias e dores”; e o “dinamismo, a capacidade de promover iniciativas e movimentos que mobilizem e empoderem colaboradores na comunidade”.

Francisco Machado lembrou que o pastor “conhece e cuida de cada uma das suas ovelhas” e “não apenas da comunidade como um todo”. “No Evangelho de João, Jesus diz-nos que o bom pastor conhece cada uma das ovelhas pelo nome e a sua voz mobiliza-as”, recordou, considerando que “esta ideia inicial inclui já as três qualidades” que as pessoas desejam ver nos seus padres. “A atenção ao indivíduo implica empatia e abertura para acompanhar pessoas em situações diversas, incluindo aquelas que possam estar mais perdidas e que ainda não encaixem bem nas dinâmicas normais da comunidade. A atenção a cada pessoa implica também ser capaz de chamá-las pelo nome”, considero, acrescentando que “o pastor transmite força e é alguém que discerne” e “ajuda a dar passos no caminho”. “Caminha nem à frente nem atrás, mas ao lado daqueles a quem o Senhor lhe confiou”, precisou.

O formador apontou o “zelo pelas ovelhas perdidas” como uma “segunda qualidade fundamental para o pastor” e referiu que “o pecado central dos maus pastores é o autocentramento que acaba por afugentar as ovelhas”. “Se o problema dos maus pastores é o autocentramento comodista, então a qualidade dos bons pastores é o descentramento de si. Ser pastor implica a generosidade de quem está disposto a sair do seu conforto, seja ele fisico, emocional, intelectual, relacional ou social, para ir ao encontro até daqueles que parecem não querer nada connosco”, sustentou, acrescentando que “os bons pastores partilham deste espírito de saída em serviço”.

Por outro lado, o docente referiu que “o pastor é atrativo, especialmente para os pecadores”. “O que é que faz de Jesus, humanamente, atrativo?”, interrogou, explicando que São Mateus “usa uma série de verbos que resumem bem o tipo de qualidades que tornam um pastor atrativo”. “Jesus viu e chamou companheiros, percorreu a região, ensinou e proclamou, curou. Saber ver e chamar”, enumerou, evidenciando que “Jesus escolhe trabalhar em equipa e não tem medo de delegar aspetos importantes da missão a companheiros imperfeitos e mal preparados”. “Não é vontade de Deus que os seus pastores façam tudo sozinhos nas suas paróquias e missões”, alertou, acrescentando que “saber e querer trabalhar em equipa são qualidades essenciais do bom pastor”.

Nesse sentido, advertiu que “um pastor que quer fazer tudo sozinho e que tem sempre a última palavra em tudo o que se passa na comunidade acaba criando dependência e infantilidade”. “O pastor é humilde, reconhece que não tem todos talentos e que precisa de outros”, acrescentou.

O formador disse ainda que a “energia e o constante movimento de saída para ir onde as pessoas estão são expressões da sua generosidade e disponibilidade para servir” e “qualidades essenciais ao pastor”.

Lembrando que “a homilia tem um impacto absolutamente central na experiência que a maioria das pessoas faz dos seus padres e pastores”, disse ser preciso “rever a quantidade e a qualidade de atenção” dada à palavra de Deus e à preparação da pregação diária e dominical, acrescentando que “o pastor é diligente na sua vida de oração e na preparação das suas homilias”. “Homilias mais curtas e cuidadas são expressão de que um padre discerniu com cuidado uma ou das ideias centrais com as quais sente que Deus quer alimentar o seu povo e isso chega”, sustentou, pedindo aos pastores que procurem “estruturas nas quais podem receber feedback honesto e construtivo” da sua intervenção.

O orador disse ainda que “ser um pastor que cura é ser um pastor que se interessa pelos problemas das pessoas e procura encontrar caminhos”. “Os bons pastores são aqueles que conhecem e se interessam genuinamente pelas necessidades, as feridas, as dores da sua comunidade”, sustentou, exortando à “coragem de correr riscos e de encontrar formas de continuar a oferecer a presença e acompanhamento mesmo àqueles que parecem não os querer”. “Há nisto implícita uma outra qualidade que pode unir o pastor de forma muito especial ao espírito de Jesus: o pastor ama as ovelhas e sente-as como suas ao ponto de correr riscos e de se sacrificar por elas”, prosseguiu. 

Francisco Machado disse ainda que outra qualidade do pastor é ser “alegre” e regozijar-se com o “trabalho de recuperação das ovelhas perdidas”.