
O frei Isidro Lamelas afirmou no passado dia 1 deste mês que São Justino foi o «pai» da filosofia cristã e o primeiro a defender “claramente” que a fé e a razão andam “sempre de mãos dadas”.

O sacerdote franciscano veio ao Algarve naquele dia, em que a Igreja celebra a memória daquele santo, apresentar a sua mais recente obra, com chancela da Paulus Editora, com o título “Justino – Filósofo e Mártir do Século II – Em defesa dos cristãos”.

A apresentação teve lugar na sala de atos da Sé de Faro, com a presença do autor, docente da Universidade Católica Portuguesa e doutorado em Teologia Patrística.

O sacerdote franciscano, que é também o diretor da revista “Didaskalia”, destacou que São Justino foi “porta-voz de um momento crucial para o Cristianismo”. “É no século II que se definem uma série de caminhos que nós ainda hoje temos como atuais da nossa Igreja, mas que vêm daqui”, afirmou, explicando que “o diálogo entre o Cristianismo e o Judaísmo é uma das questões cruciais” daquele século.

O frei Isidro Lamelas acrescentou que o santo, martirizado em 165, apontou não apenas “o eixo sobre o qual construir um diálogo entre Judaísmo e Cristianismo”, mas também “entre Cristianismo e cultura pagã e entre o Cristianismo e as outras religiões”.

O autor explicou que o santo, natural da cidade que deu origem à atual Nablus, em Israel, movido por uma “sede” interior “de encontrar a verdade” “frequentou várias escolas” filosóficas, desde a pitagórica ao estoicismo e ao aristotelismo. “É exatamente nesse momento, em que ele sente necessidade de se encontrar consigo e fazer uma reflexão mais introspetiva, que lhe aparece, inesperadamente, um ancião que trava um diálogo com ele que está na origem da filosofia cristã”, contou.

O frei Isidro Lamelas aludiu à necessidade de os cristãos aprofundarem o seu conhecimento da Teologia Patrística e dos seus autores. “Muitas vezes nós não os conhecemos. Chamamos-lhe padres da Igreja porque supostamente somos filhos, mas somos uns filhos um bocadinho desnaturados porque não conhecemos os pais”, lamentou, sublinhando a necessidade de que se procure “enraizar” a cultura cristã, a fé. “Se não conhecemos as fontes, as raízes, que cristãos somos?”, questionou.

Neste sentido, defendeu que “celebrá-los só com memória litúrgica, não chega”. “Eles deixaram-nos um legado precioso. Devemos ler o que eles disseram e o que eles pensaram. Mas não foi só o que pensaram. Eles deram a vida por aquilo que pensaram”, sustentou, lembrando que São Justino “morreu pelas suas ideias”.

“Nós somos anões que caminhamos aos ombros de gigantes. Por mais inteligentes, cultos, sábios, enciclopédicos, somos sempre pequeninos ao pé destes gigantes sobre os quais caminhamos. É graças a eles que nós hoje vemos mais longe. E essa capacidade de vermos mais longe pode ser potencializada se continuarmos a conhecê-los, lê-los e a divulgá-los”, concluiu.

Na apresentação da obra de 192 páginas, que contou também com a presença do frei Paulo Ferreira que fez a apresentação do autor, o vigário geral da Diocese do Algarve, cónego Carlos César Chantre, constatou que a preocupação de São Justino deve ser a mesma dos cristãos de hoje: “testemunhar a fé”.
O representante da editora garantiu a intenção de continuação com a publicação das obras dos padres da Igreja dos primeiros séculos.