O fundador do Museu do Traje de São Brás de Alportel disse estar “muito triste e com vergonha” da sua situação atual.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre José da Cunha Duarte – que esteve presente na passada sexta-feira, 02 de fevereiro, na apresentação da publicação, intitulada “São Brás de Alportel, Memórias, Volume III”, sobre a elevação da aldeia a vila, que teve lugar na Galeria Velha daquele museu – disse que apenas ali compareceu “por respeito” ao seu irmão, autor da obra. “Não vou entrar naquela casa lá abaixo”, afirmou, referindo-se à Casa António Bentes, edifício apalaçado do século XIX do núcleo museológico que pertence à Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel.

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Afirmando que “deve ser único em Portugal”, o sacerdote da Congregação do Espírito Santo (espiritano) disse não conhecer igual em Espanha, nem em França. “Já visitei museus do traje por dentro em Madrid, Paris, Lisboa. Onde é que estão os museus? Num palácio antigo. As roupas estão em cruzetas e cabides penduradas nos armários. E nós aqui temos um bunker único no país”, afirmou.

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O padre José da Cunha Duarte disse que “muitas das coleções” do museu são-brasense “não pertencem ao Algarve nem a São Brás”. “Posso dá-las a outro museu”, admitiu, lamentando que o provedor da Misericórdia não estivesse presente naquela sessão.

 

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O diretor daquela instituição disse que “hoje o museu, depois de um período de décadas de crescimento sustentado e de grande progresso, atravessa tempos muito difíceis”. Emanuel Sancho acrescentou que aquele núcleo tem “um acervo único no Algarve” que deve “entre 95 e 99%” à dedicação dos padres José e Afonso da Cunha Duarte. “Eles são a encarnação do espólio, de exposições, do que se passa neste museu”, observou.

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Aquele responsável cultural lembrou que o fundador do museu desceu a serra do Algarve, vindo de Lisboa a 07 de julho de 1981, e que “uma das mais notáveis das suas iniciativas foi a fundação da Casa de Cultura António Bentes que originou o Museu Etnográfico do Traje Algarvio”. “A sua veia colecionista levou-o a juntar um imenso espólio etnográfico que, a partir de 1982, começa a ser divulgado em exposições cada vez mais elaboradas. Hoje o padre Cunha Duarte, lá longe, em Penafiel, vive intensamente a vida do seu museu, trabalhando atualmente na investigação da etnografia do Algarve”, acrescentou, salientando que “ainda hoje o museu confunde-se com o padre Cunha”.

Emanuel Sancho realçou que os padres Cunha Duarte contribuíram muito para o que São Brás de Alportel é hoje. “As próximas gerações falarão deles, tal e qual como hoje falamos de outras pessoas que foram grandes na terra”, assegurou.

O museu, acessível a pessoas como mobilidade reduzida e outras necessidades especiais tem recurso a braille e áudio guia pelo telemóvel, inclui ainda um jardim sensorial e várias estruturas de circulação de água, uma área com chás tradicionais e ervas aromáticas.