O funeral do poeta algarvio António Ramos Rosa, considerado uma das maiores figuras da poesia portuguesa do século XX, que morreu na passada segunda-feira aos 88 anos, realiza-se esta manhã, pelas 10.30h, para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde será sepultado.
O poeta, ensaísta e tradutor, faleceu no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, onde estava hospitalizado desde quinta-feira da semana passada em consequência de uma pneumonia, segundo fonte familiar
Já muito fragilizado, o poeta teve ainda forças para escrever no dia da sua morte os nomes da sua mulher, a escritora Agripina Costa Marques, e da sua filha, Maria Filipe. E depois de Maria Filipe lhe ter sussurrado ao ouvido aquele que se tornou um dos versos mais emblemáticos da sua obra – «Estou vivo e escrevo sol» –, o poeta, conta a filha, escreveu-o uma última vez, numa folha de papel, revela o jornal “Público”
O corpo do poeta esteve em câmara ardente na capela do Rato, em Lisboa, onde se realizou uma celebração da palavra presidida pelo padre e poeta Tolentino de Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Nascido em Faro, a 17 de outubro de 1924, Ramos Rosa deixa uma vasta obra com cerca de uma centena de títulos, traduzida em várias línguas
O poeta deu nome á Biblioteca Municipal de Faro, onde realizou estudos secundários, tendo publicado, em 1958, o seu livro de estreia, “O Grito Claro”, que abriria a coleção “A Palavra”, dirigida pelo poeta Casimiro de Brito
Nesse ano iniciou a publicação da revista “Cadernos do Meio-Dia”, proibida dois anos mais tarde pela PIDE, polícia política de Salazar, e foi membro do Movimento de Unidade Democrática Juvenil. Estudou em Faro, deu aulas de português, inglês e francês, ao mesmo tempo que trabalhava como empregado de escritório e como tradutor
Foi crítico literário, cofundador da revista “árvore” e codiretor da revista “Cassiopeia”. A par da poesia, também desenhava. António Ramos Rosa editou este ano o livro “Numa folha, leve e livre”, pela “Lua de Marfim”
Ao longo da sua vida literária recebeu inúmeros galardões nacionais e internacionais que distinguiram a sua obra poética, como o Prémio Literário da Casa da Imprensa, em 1971, o Prémio Pessoa, em 1982, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 1989, o Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa, em 1992, ou o Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen, em 2005
Colaborou também com várias publicações em Portugal, como os jornais A Capital, Artes & Letras, Comércio do Porto, Diário de Lisboa ou Diário de Notícias, entre outros
No início do mês tinha doado á Câmara de Faro o espólio relativo ao percurso académico e literário, assim como várias distinções, nomeadamente diplomas alusivos ao seu doutoramento “Honoris Causa”, ao Prémio Pessoa e ao grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, refere a agência Lusa
Presidente da República e Câmara de Faro manifestaram pesar
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, enviou condolências á família do poeta António Ramos Rosa numa mensagem em que destacou o seu papel “na defesa da liberdade”
“Ao tomar conhecimento da morte de António Ramos Rosa, apresento á família enlutada as minhas mais sentidas condolências”, escreveu Cavaco Silva na nota enviada aos familiares de António Ramos Rosa e disponível no portal da Presidência na Internet
Segundo o chefe de Estado, António Ramos Rosa é um “nome maior da cultura portuguesa” e uma “personalidade ímpar” das letras, que se distinguiu em vários campos, como poeta, ensaísta e tradutor.
“A ele devemos uma escrita límpida, que, pela sua lucidez poderosa, iluminou a poesia portuguesa desde a segunda metade do século XX até aos nossos dias”, escreve o presidente da República, destacando também o “cidadão empenhado na defesa da liberdade”.
António Ramos Rosa foi um resistente político a Oliveira Salazar, destaca Cavaco Silva, afirmando que, apesar da morte do poeta, “a sua voz permanece viva”
“Tão viva como quando cantou ‘O Grito Claro’, título do seu primeiro livro. A esse livro muitos outros se seguiram, numa obra extensa e vasta, que enriqueceu de forma notável a literatura portuguesa contemporânea”, concluiu o Presidente
A Câmara de Faro, cuja bandeira está durante três dias a meia haste em sinal de luto pela morte do poeta, também manifestou “profundo pesar” e apresentou as condolências á família e amigos do poeta António Ramos Rosa
Em declarações á Agência Lusa, o presidente da autarquia, Macário Correia, considerou que a morte de António Ramos Rosa representou “uma perda enorme” para a cultura portuguesa e para a cidade. “Quero desde já expressar, em nome do município de Faro, a terra de origem do poeta, o nosso profundo pesar aos familiares e amigos e constatar com tristeza a perda de um grande vulto da cultura portuguesa, de uma pessoa que deu muito aos valores da literatura, deu muito ao país, foi medalhado, homenageado e consagrado pelas suas virtudes em muitas instituições académicas e instituições da cultura portuguesa e estrangeira”, afirmou o autarca
Macário Correia considerou ainda que, por todas estas razões, é “uma perda enorme o seu desaparecimento”, por “tudo aquilo que significa para o país inteiro e para Faro, que se orgulha de o ter entre os seus naturais e cuja biblioteca municipal tem o seu nome”
Redação com SNPC, Lusa e Público