Os sons da guitarra portuguesa tocada pelo algarvio Ricardo Martins encheram a Sé de Silves no passado dia 29 de outubro.
A iniciativa foi promovida pelo Setor da Pastoral da Cultura, Património e dos Bens Culturais da Diocese do Algarve, no âmbito da celebração do Dia dos Bens culturais da Igreja decorrido no dia 18 do mês passado.
O guitarrista foi acompanhado, na primeira parte do concerto em que tocou guitarra de Coimbra, por João Catarino na viola clássica. Junto interpretaram temas de Carlos Paredes como a “Canção de Alcipe”, “Dança”, “Dança Palaciana” ou “Verdes Anos”, bem como algumas peças da autoria de Ricardo Martins para guitarra de Coimbra como “Tocar-te” ou “Amanhecer” e “Mar”, duas composições da sua trilogia não terminada, intitulada “A Guerra”.
Na segunda parte, interpretada com guitarra de Lisboa, Ricardo Martins foi acompanhado por Cláudio Sousa na viola fado, tendo os músicos interpretado temas como o “Vira de Frielas” de José Nunes, um dos guitarristas de Amália Rodrigues, “Noturno” de Casimiro Ramos, “Lisboa ao Entardecer”, “Variações sobre o Fado Lopes” ou “As Minhas Variações em Lá” de Jorge Fontes. A segunda metade da noite foi ainda preenchida com a interpretação de uma alegre criação de Ricardo Martins para a guitarra de Lisboa, intitulada “Danças na Eira”, e uma adaptação também de sua autoria da marcha de Nossa Senhora da Piedade para aquela guitarra.
O músico algarvio fez questão de explicar que “a grande diferença da guitarra de Coimbra para a guitarra de Lisboa é essencialmente a cabeça”. “A cabeça da de Coimbra tem a forma de uma lágrima e a de Lisboa tem a forma de um caracol”, especificou, acrescentando que a afinação da de Coimbra é “um tom abaixo” da de Lisboa. “A de Lisboa tem um som mais brilhante e a afinação é um tom mais agudo”, complementou, lembrando que “a viola para acompanhar a guitarra de Lisboa também é diferente da utilizada para acompanhar a guitarra de Coimbra”, diferenças que se estendem à afinação e às próprias cordas.
Lembrando que os cristãos são “herdeiros de um vasto e riquíssimo património artístico, cultural, edificado e imaterial” que “é expressão de fé de um povo que crê e faz-se caminhando”, o responsável do Setor da Pastoral da Cultura, Património e dos Bens Culturais da Diocese do Algarve evidenciou que aquela iniciativa procurou fazer a “aliança” entre este “património de fé e um outro património que é tão significativo”: a música. “É talvez pena que estes momentos culturais ainda não sejam assumidos como se assume uma missa pela comunidade crente, cristã ou outra”, lamentou o padre Carlos de Aquino.
Também o padre Vasco Figueirinha, pároco de Silves, considerou que “a música erudita ainda precisa de fazer o seu caminho no meio do povo”. “A vossa arte é uma linguagem”, disse aos músicos.