“O Governo tem que fazer um ato de contrição relativamente a um problema que não foi suficientemente estudado e que além de estar a trazer prejuízos ao Turismo e à economia da região, prejudica o próprio Estado”, disse à Lusa Elidérico Viegas, da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

De acordo com os dados da associação, as dormidas de espanhóis em janeiro desceram 17% relativamente ao mesmo mês de 2011, o que “tem seguramente uma relação direta com as portagens”, pois a procura espanhola vinha crescendo “de forma progressiva e sustentada”.

Assim, segundo Elidérico Viegas, em 2011 os espanhóis constituíam já 6,1% de toda a ocupação hoteleira algarvia, o que representava um crescimento de 7% relativamente a todo o ano de 2010.

“E este crescimento sustentado estava a acontecer em contra-ciclo, pois enquanto o Turismo algarvio vinha registando uma descida global progressiva nos últimos anos, os espanhóis tinham uma progressiva procura”, disse.

Sublinhou que as principais perdas se estão a dar na restauração e comércio da região, e não tanto nos alojamentos, porque, devido à proximidade, muitos deles regressavam no próprio dia.

Entre as razões da “fuga” dos turistas espanhóis, o presidente da AHETA apresentou ainda o sistema de pagamento eletrónico montado na fronteira, em que “se formam bichas” e que classificou de “complexo e difícil”, garantindo que “há muitos que não compreendem o sistema e voltam para trás, enquanto outros optam por nem vir”.

Isto acontece com cidadãos “que atravessam toda a Espanha sem pagar portagem, em autoestradas com qualidade muito superior e que ficam chocados com uma situação de uma pseudo-autoestrada [A22 – Via do Infante] paga de uma forma que ninguém entende”, sublinhou o dirigente da AHETA.

Garantindo que muitos cidadãos de Espanha não vêm “não pelo montante em causa, mas por uma questão de princípio”, Elidérico Viegas salientou que naquele país “nos casos das poucas autoestradas em que há portagens, existem ao lado ‘autopistas’ que são autênticas autoestradas, melhores do que a Via do Infante, e onde não se paga nada”.

Sobre a eventual harmonização dos sistemas de portagem português e espanhol, Elidérico Viegas afirmou que "a única harmonização possível é a isenção", pois os espanhóis "não têm portagens eletrónicas".

Na quinta-feira, o secretário de Estado da Economia português, António Almeida Henriques, anunciou que em breve será garantida a "interoperabilidade" dos sistemas de cobrança eletrónica de portagens portugueses e espanhóis.

"Neste momento, está a haver um trabalho muito intenso, no sentido de se encontrar entre a Brisa [Via Verde] e a Peajes [portagens] de Espanha um ponto de encontro que permita facilitar a utilização destes dois dispositivos eletrónicos", afirmou na altura António Almeida Henriques.

Lusa