Nas suas duas intervenções, subordinadas aos temas “A missão da Igreja envolve todos, tudo e sempre” e “Caminhos para uma pastoral de missão”, o bispo auxiliar de Braga apelou a uma “metodologia nuclear da missão” em analogia à teoria da criação da energia nuclear e defendeu que “não basta mudar estruturas, é preciso mudar a própria vida”. “Precisamos de comunidades reevangelizadas”, evidenciou, considerando que “a Igreja necessita de uma forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, expectação e na indiferença”.

O prelado sublinhou mesmo, em Loulé, na Assembleia Diocesana da Igreja do Algarve que hoje reúne cerca de 400 responsáveis, a necessidade de os católicos serem “pró-ativos” e não “reativos”. “Muitos de nós ficaremos na história como aqueles que passaram ao lado”, criticou, referindo-se àqueles que ficam “na Igreja, na sacristia ou no salão paroquial”. “Não podemos contentar-nos em ficar à espera”, advertiu, lembrando ser urgente “ousar ir ao encontro de cada um dos irmãos”, “não para os fazer mestres mas discípulos”, de forma a “chegar a todos os corações”. “Devemos sair do nosso mundo tradicional para ir ao encontro das pessoas, como Deus veio ao nosso encontro”, complementou, lembrando que “o mundo de hoje já quase não entende” a linguagem da Igreja e que “as instituições estão a perder a credibilidade”.

O conferencista evidenciou que “evangelizar é a necessidade mais profunda da Igreja” e que “nada pode substituir ou pôr-se à frente” desta urgência. “Aproximo-me das pessoas para lhe levar Cristo ou não o faço? Que divindade passa por nós?”, interpelou, garantindo ser “imperioso e urgente transformar os outros em evangelizadores”, através de “uma vasta rede de cristãos convictos e não envergonhados”. “Não podemos limitar-nos às crianças, temos de ir ter com os pais”, frisou, apontando a necessidade de “reorientar a ação pastoral [da Igreja, ndr], ainda muito centrada nas crianças”.

Procurando apontar caminhos, D. António Couto defendeu serem necessários “itinerários do primeiro anúncio” que vão mais no sentido do “discipulado” do que da “aprendizagem teórica”, acrescentando que a evangelização deve suscitar a “adesão a uma Pessoa [Cristo, ndr] e não a teorias”.

D. António Couto lembrou que “o missionário deve ter consciência que está com Deus” e que só através da “vinculação” a Jesus, a “referência permanente”, é que os cristãos darão “fruto”, desafiando os católicos a exercer a missão de forma “feliz, ousada, pobre e dedicada”. “Ou a nossa vida transvaza Cristo ou é inútil. Podemos fazer muitas coisas, mas se não as fizermos com o estilo de Jesus, elas não marcam”, afirmou.

O prelado, que lembrou que “anunciar o Evangelho tem de ser trabalho de alegria, felicidade e amor”, comparou a indicação de Jesus para quem o quiser seguir – “vai, vende, dá, vem e segue-me” – a uma “rajada de metralhadora”. “Quem souber fazer isto encontrará a melhor maneira de ser missionário”, disse, criticando os cristãos “de meias tintas”. “Precisamos de cristãos envenenados pelo Evangelho”, apelou. “Temos de voltar a aprender a ter tempo. Se não temos tempo para nos aproximar dos nossos irmãos, o Evangelho não passará. Facilmente nos desculpamos com o tempo”, alertou, criticando que deixemos as pessoas morrer sozinhas. Neste sentido, apelou ainda a um cuidado “paliativo” de cada pessoa.

O conferencista lembrou ainda a importância do testemunho, considerando que “os leigos é que podem chegar mais rapidamente às pessoas”. “Se vivemos como os outros, as pessoas não se sentem interrogadas. Se as nossas paróquias fossem a casa de Deus no meio das casas, seriam espaços belos”, advertiu, considerando que a Igreja deve ser “jovem, leve e bela”, pois quando assim for “as pessoas hão de lutar por entrar nela”. “Se, ao contrário, a Igreja for velha, pesada e feia as pessoas lutam por sair dela e às vezes, parece que andamos com um saco de areia às costas”, criticou.

D. António Couto terminou exortando os católicos a não terem medo de dizer “a beleza da sua fé” e também “as suas sombras”.

Samuel Mendonça