
A Diocese do Algarve promoveu no passado sábado uma ação de formação para ministros das exéquias e para animadores de celebrações da palavra à espera de sacerdote.
Na formação, que teve lugar no Seminário de São José, em Faro, o padre Carlos de Aquino, diretor do Secretariado da Liturgia, Música Sacra Novas Igrejas e Espaços Pastorais que a levou a cabo, assegurou não ser por causada diminuição do número de clero que a Igreja tem vindo a estimular a responsabilidade de outros membros seus. “Há aqui alguma perversidade em pensar que é pela falta de padres que se dá responsabilidade a outros membros”, considerou o sacerdote, acrescentando que “não se trata de arranjar simples ajudantes para se embelezar a celebração cristã, mas de valorizar a verdadeira identidade da Igreja-comunhão”.

Deste modo, o formador lamentou, no encontro com 27 participantes, a “estrutura ainda muito clerical da Igreja”. “A gente não delega nos leigos”, constatou, considerando haver “tanta coisa que os leigos podem coordenar e assumir” e que existe um “excesso na estruturação” que, por vezes, leva a olhar a Igreja “como uma empresa”.

No entanto, o orador advertiu que os “ministérios não são expressão de democracia ou de parlamentarismo eclesial”. “A Igreja não é uma democracia”, recordou, considerando também que o tripé dos seus fundamentos – Pastoral Litúrgica, Pastoral Profética e Pastoral Social – não está equilibrado ao nível dos ministérios. “Temos muitos ministérios e serviços para as dimensões profética e do culto e depois na dimensão da caridade, do social, do compromisso no mundo, onde é que os temos? Muito poucos”, constatou.
Por outro lado, explicou que não está correto equivaler ministério a serviço ou função. “Uma coisa são ministérios. Outra coisa são serviços ou funções que decorrem da realidade ministerial da Igreja, mas que não deveríamos utilizar a palavra ministério”, clarificou, acrescentando que o termo “ministério” é usado apenas na dimensão das funções e serviços instituídos e que neste momento são apenas os de leitor e acólito para aqueles que estão em caminhada para o sacerdócio.

O sacerdote, que voltou a advertir que o “cancro da liturgia é a improvisação”, explicou também que as funções ou serviços têm prazo. “O serviço permanece, mas a pessoa não o exerce até à morte”, frisou, lembrando que, no caso dos ministérios, “a instituição é permanente”. “Isto é um desafio enorme à própria pessoa”, destacou.
O padre Carlos de Aquino lembrou ainda a importância da oração. “Onde é que a gente vai encontrar força para esta medida grande, que é a de sermos humildes, pequenos, termos a vida em dádiva, nunca sermos sinais de escândalo, procurarmos o que está perdido para reconstruir, fazê-lo recomeçar, corrigi-lo fraternalmente, perdoar? A força disto tudo é a oração”, afirmou, lembrando que “o mais importante para um cristão não é a verdade”, mas “a caridade”. “E isso não nos faz mentirosos. Uma verdade dita sem amor, muitas vezes, destrói”, acrescentou, considerando que “também não há amor sem verdade”. “Quem ama tem de ser verdadeiro”, sustentou, exortando à “humanidade” e à obrigação de “perdoar sempre”.

O sacerdote salientou ainda que “não há celebração cristã sem a escuta da palavra” e o dever de se “venerar com a mesma intensidade a palavra como as espécies eucarísticas do corpo e sangue de Cristo”. “Por que é que a gente valoriza tanto a palavra nas celebrações litúrgicas? Porque é à palavra que a gente vai buscar o sentido daquilo que diz e daquilo que faz”, sustentou, explicando que “a eucaristia é sempre memorial e não apenas a recordação de uma coisa que aconteceu no passado”.
A formação, participada também por um sacerdote e três religiosas, terá continuidade no mesmo local no dia 6 de maio, carecendo esta data ainda de confirmação.
Em 2006 foi publicado em Portugal o novo Ritual das Exéquias e, em 2010, a Diocese do Algarve promoveu uma formação sobre o tema para os mesmos destinatários.