As obras da ampliação da igreja de Nossa Senhora de Fátima do Montenegro foram inauguradas em maio do ano passado, mas só na primeira semana deste mês é que ficou pronta a intervenção artística nas zonas do batistério e do sacrário e a cruz exterior na fachada.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A criação esteve a cargo da artista plástica Lígia Rodrigues, que já tinha sido autora do altar da igreja, do painel de mosaico do presbitério, do ambão e da pia batismal.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No final da Eucaristia do passado domingo, a artista explicou à comunidade a intervenção. Relativamente à cruz embutida na parede da fachada principal, Lígia Rodrigues explicou que procurou “fazer com que a cruz fale da ressurreição”, motivo pelo qual existe a Igreja. “A Igreja anuncia a ressurreição, então tenho de estilhaçar a morte”, completou, acrescentando que, por sugestão do pároco, utilizou a pedra sagrada do antigo altar daquele templo.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Sobre a intervenção no batistério, Lígia Rodrigues disse que procurou representar “algo muito forte que vem do céu”. “É o Espírito que dá vida a esta água, água que nos introduz na Igreja, corpo de Cristo, água-viva porque dá vida, não só a nós naquele momento, mas continua, expande-se”, referiu, procurando explicar o dinamismo que o painel em mármore de Estremoz e “outro tipo de pedras” apresenta.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A artista explicou ainda a cortante “diagonal do lado esquerdo que aponta para o círio e para o centro do altar”, respetivamente, com o facto de o Batismo se simbolizar através da água e da luz e de permitir “entrar no mistério da revelação”. “A água vem de cima pela força do Espírito que abre caminho para nós”, complementou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Relativamente à intervenção envolvente ao sacrário de madeira revestido a folha de ouro, também em mármore de Estremoz, a artista disse incluir línguas de fogo na parte superior, povo à esquerda e à direita, uvas e espigas na parte inferior. “A Eucaristia é o dom que o Pai nos faz através do Espírito da humanidade de Cristo”, referiu, garantindo ter sido um teólogo que proferiu aquela afirmação.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Lígia Rodrigues explicou que o Espírito, simbolizado pelas chamas, “vem de cima” “com toda a força sobre Jesus-Eucaristia”. “Não é um Cristo fora de nós. É um Cristo que nos faz entrar nele como corpo. Entrando nele, leva-nos para dentro da trindade”, prosseguiu, acrescentando: “nós, feitos corpo porque Cristo nos faz corpo, depois saímos para sacralizar a Terra no sítio onde estamos. Esta expansão é também inclusão ecológica da natureza”.

A artista aproveitou também para relembrar o significado do painel do presbitério. “Incluiu várias pessoas que expressam a alegria juntas num caminho. Somos nós, os batizados”, descreveu, aludindo também à representação do “milagre do sol”, associado à padroeira daquela paróquia. “É para mostrar que o nosso «sol» é Cristo. Um sol que envolve a natureza toda, o cosmos”, sustentou.

Ao Folha do Domingo, a artista contou que a cruz exterior e a intervenção no batistério foram realizadas até junho do ano passado, altura em que começou a do sacrário, cuja iluminação ainda falta. Lígia Rodrigues acrescentou que o projeto para aquela igreja “era muito maior” – pois “incluía uma via-sacra também em pedra” e o alargamento do painel a “toda a parede para que tomasse todo o presbitério e continuasse nas paredes laterais” –, mas acabou por ser encurtado por limitação financeira.

Obras de ampliação e beneficiação da igreja do Montenegro foram inauguradas e benzidas (c/fotorreportagem)