Após cinco anos de obras de restauro, a igreja matriz de São Clemente de Loulé reabriu no passado sábado à tarde com uma sessão que contou com a presença do bispo do Algarve, da secretária de Estado da Cultura e do presidente da Câmara de Loulé, entre diversas outras entidades.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A sessão de inauguração dos trabalhos de reabilitação foi precedida pela abertura do museu da igreja. Conforme explicou o cónego Carlos de Aquino, pároco de Loulé, o espaço conta com uma “exposição muito singela”, para “promover também a visita à igreja agora restaurada”, composta, numa primeira sala, por “peças significativas” relacionadas com os três sacramentos da iniciação cristã e numa sala posterior com objetos dedicados a Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, a padroeira da cidade de Loulé.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na sessão inaugural, o pároco de Loulé disse que a matriz “é na verdade um espaço identitário, uma bela e grandiosa casa onde se aviva a memória de uma história, de uma cultura e de um povo crente”. “Não podemos e não devemos esquecer que esta casa constitui um sinal peculiar da Igreja que peregrina na Terra e uma imagem da Igreja que habita no céu. Em nome da comunidade cristã que aqui se reúne exprimo a nossa mais profunda gratidão a quem tornou possível significativa requalificação desta casa”, afirmou o sacerdote, lembrando que os trabalhos ainda não estão concluídos, mas tranquilizando que a restante intervenção “já não necessitará que a igreja feche ao culto e ao público”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A secretária de Estado da Cultura destacou aquele edifício como “lugar que, desde a segunda metade do século XIII e ao longo dos tempos, é por excelência um lugar de acolhimento, um lugar central na identidade e construção” daquele território. “Mas esta recuperação e reabilitação de património cultural adquire ainda maior relevância, não apenas pela importância artística e patrimonial de uma igreja que apresenta notáveis testemunhos da evolução histórica e das sucessivas gramáticas construtivas e ornamentais do século XIII aos finais do século XVIII, mas também do que representa enquanto a igreja matriz, enquanto elemento agregador das pessoas, das comunidades no coração da cidade e do concelho, um porto de abrigo, de comunhão, de fé, de encontro”, afirmou Isabel Cordeiro.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Emotiva foi a intervenção do presidente da Câmara de Loulé que finalizou com o seguinte desabafo: “estou feliz!”. “É com viva emoção que estamos aqui hoje todos reunidos para reabrir um espaço que, do ponto de vista não só da memória, mas sobretudo do ponto de vista dos afetos e dos nossos sentimentos, diz tanto a tantas pessoas que aqui estão e a tantas outras que não puderam estar aqui presentes e até a muitos que, infelizmente, não estão aqui hoje, mas que testemunharam o arranque destes trabalhos”, começou por referir Vítor Aleixo.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O autarca sublinhou o “momento de grande alegria, não só para a comunidade católica” louletana, “mas para todas as pessoas que vivem e fazem parte” da comunidade de Loulé. “Não é todos os dias que uma intervenção tão capital, de fundo, se faz num monumento nacional como é este espaço da igreja matriz”, sustentou, realçando ter sido “uma intervenção muito profunda”. “A partir de agora este espaço tão querido, tão sagrado, é devolvido à comunidade católica do concelho de Loulé. Fica aberto ao culto e também à visitação turística”, prosseguiu, explicando que os altares foram recuperados em Braga.

“Gostaria que soubessem que se não fizéssemos esta intervenção, feita numa altura limite, esta igreja estava em colapso, estava a degradar-se silenciosamente, lentamente, mas inexoravelmente. Dentro de algum tempo já não teríamos a integridade dos altares e já não seria possível recuperá-los”, acrescentou, considerando que a decisão de assegurar aquele restauro foi tomada de “forma consistente, com olhar estratégico para o futuro”. Vítor Aleixo referiu-se mesmo a “políticas muito importantes para construir pontes de esperança e humanismo para o futuro”. “Loulé tem tido a sorte de os últimos ciclos políticos da Câmara terem sido governados por pessoas que sempre tiveram o cuidado de valorizar o património”, acrescentou.

O autarca considerou que “a dimensão religiosa é muito importante na vida de cada um”. “O presidente da Câmara deve refletir, sem qualquer preconceito nem dogmatismo, aquela que é a comunidade humana por que, temporariamente, lhe foi dada a responsabilidade de governar. É por isso que temos tido políticas muito ativas na recuperação do património religioso, porque boa parte dos nossos concidadãos têm essa dimensão absolutamente indispensável na sua vida”, justificou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O presidente da Câmara anunciou ainda a intenção de “libertar dos carros” o largo à volta da igreja matriz. “A partir de hoje o largo envolvente à igreja matriz vai ter regras para estacionar e circular. Este espaço tem de brilhar, até porque a seguir a esta intervenção vamos preparar já uma outra que é a recuperação de todo o largo. Temos um projeto do arquiteto Gonçalo Byrne há muito tempo feito e que aguardava a oportunidade que surgiu agora, para recuperar toda a envolvente do largo da igreja matriz”, adiantou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Antes da Eucaristia, que incluiu a bênção e dedicação do novo altar e inauguração do ambão, ambos da autoria da artista plástica Lígia Rodrigues, o cónego Carlos de Aquino anunciou também a intenção da aquisição de um órgão de tubos.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A reabilitação da igreja matriz, com projeto da autoria do arquiteto Vítor Mestre, obra orçada em cerca de 1,1 milhão de euros, foi financiada pela Câmara de Loulé.

Na sessão de sábado participaram ainda D. António Carrilho, bispo emérito do Funchal e natural de Loulé, a escritora Lídia Jorge, natural do concelho, a diretora regional de Cultura do Algarve Adriana Nogueira, vários antigos párocos e várias das irmãs doroteias que trabalharam na cidade, entre outras entidades.

No sábado à noite, a renovada igreja recebeu ainda um concerto de Isabel Vaz e Vasco Dantas e, ontem, 4 de setembro, dois concertos: o primeiro, de flauta e guitarra com João Lourenço e Rui Mourinho, e o segundo, de guitarra portuguesa com Ricardo Martins. O programa cultural encerra-se no próximo dia 10 deste mês com uma palestra do historiador de arte Marco Sousa Santos sobre aquele monumento.