A Igreja algarvia e também a romena despediram-se hoje do padre Octavian Anderco, de 47 anos, falecido no passado dia 5 deste mês.
O sacerdote, mais conhecido como padre Otto, oriundo da diocese romena de Satu Mare, veio prestar apoio pastoral nas paróquias de Boliqueime, Ferreiras e Paderne, colaborando com o pároco, o padre Pedro Manuel, tendo sido nomeado vigário paroquial daquelas paróquias em setembro do ano passado.

Na missa exequial, a que presidiu hoje na igreja paroquial de Armação de Pêra, o bispo do Algarve explicou que a celebração serviu para “agradecer a Deus o dom da vida que concedeu ao padre Otto, o dom do seu ministério ordenado exercido quer na sua diocese, quer também em Santiago, Cuba”, para além da Diocese do Algarve. “Eis-nos reunidos em Eucaristia exequial para rezarmos pelo eterno descanso do nosso querido padre Otto. Eucaristia que pretende ser igualmente de ação graças pelo dom da sua vida (completaria, no sábado, passado 48 anos) e do seu ministério sacerdotal, exercido ao longo de 14 anos na Diocese de Satu Mare, diocese de origem onde foi ordenado em 2002, tendo partido em 2016 com permissão do seu bispo para a Arquidiocese de Santiago de Cuba, onde permaneceu ao longo de cinco anos em serviço missionário”, afirmou D. Manuel Quintas na Missa concelebrada, para além dos padres e diáconos do Algarve, por mais de uma dezena de sacerdotes e diáconos vindos da Roménia e que carregaram a urna no final da celebração para fora da igreja.

“O facto de a sua família viver e trabalhar no Algarve – pais, irmãos, sobrinhos – pesou muito na decisão, no regresso de Cuba, de pedir a sua incardinação nesta diocese que desde a primeira hora, por indicação do pároco desta paróquia que ele frequentava, o padre Beato, acolhi, apoiei e aprovei, após parecer favorável – devo reconhecer que não foi nada fácil – do seu bispo”, prosseguiu, confidenciando o testemunho que recebeu do arcebispo de Santiago de Cuba, recomendando-lhe que recebesse o padre Otto “com benevolência”.
Citando aquele arcebispo, D. Manuel Quintas referiu que aquele responsável da diocese cubana não descobriu nele “nenhum outro interesse senão servir a Igreja” e “estar próximo dos seus pais, já idosos, e restante família” e agradeceu a sua “cumplicidade e naturalidade”, a sua “entrega e disponibilidade”, o seu “carácter jovial e empreendedor”, a sua “capacidade de gerar num ambiente fraterno, sereno e sem complicações, quer entre o presbitério, quer nas comunidades”.

“Não foi difícil para mim acolher o padre Otto na Diocese do Algarve, como não foi motivo de hesitação para o padre Pedro Manuel acolher o padre Otto como vigário das paróquias que lhe estão confiadas, disponibilizando-se a casa paroquial desta paróquia para sua residência”, acrescentou, constatando que “Deus tinha outros caminhos para o padre Otto”, “quase coincidindo o início do seu ministério” na diocese algarvia “com o aparecimento da doença que constituiria o pórtico da entrada na vida eterna”. “Foi assim que Deus quis, foi isso que o padre Otto aceitou, revelando na parte final da sua vida, profundo abandono e grande serenidade”, acrescentou, lembrando que o sacerdote “veio passar o último ano da sua vida com a sua família”.
“Deus, no seu eterno digno de amor e de Pai bondoso, chamou à sua presença o nosso querido padre Otto Anderco, desígnio há algum tempo por ele anunciado na doença e na fragilidade da saúde que o acompanharam nestes últimos meses. Desígnio por nós acolhido na fé, na esperança e na oração que nos mobilizou para invocar para ele o dom da saúde”, afirmou o bispo do Algarve, acrescentando que “fé e esperança” “são fonte de serenidade e de paz, reveladas nos últimos dias da sua vida pelo padre Otto com a certeza que quem confia em Deus e se coloca nas suas mãos escolhe a melhor parte que não lhe será tirada”.
D. Manuel Quintas agradeceu ao sacerdote falecido pelo seu testemunho, bem como aos seus pais e familiares “pela sua entrega a Deus” e pelo “apoio à sua vocação, particularmente os anos missionários vividos em Cuba”. “Convosco dou graças a Deus por todo o bem realizado pelo padre Otto, seja na Roménia, seja em Cuba, seja neste nosso Algarve, grato pelo dom da sua vida e do seu ministério sacerdotal vivido com total dedicação ao serviço dos outros”, afirmou, agradecendo particularmente à paróquia de Armação de Pêra e ao seu pároco “que o acolheram desde a primeira hora e também ao padre Pedro Manuel que o acolheu nas suas paróquias e o acompanhou de muito perto ao longo de toda a sua doença, bem como à sua família, particularmente nestas últimas semanas”.
“Que o testemunho da sua vida e do seu serviço à nossa Igreja diocesana nos obtenha do Senhor da messe o dom da fidelidade, nós que fomos chamados ao mesmo ministério, e o dom de novas vocações ao sacerdócio, à vida consagrada e à vida missionária”, desejou.

O padre Pedro Manuel agradeceu a passagem do falecido sacerdote pelas paróquias que lhe estão confiadas, garantindo que ele e os seus paroquianos lhe estão “reconhecidos”. “O sacerdócio deste padre valeu a pena. Terá ajudado centenas, milhares de pessoas. Não foi o tempo da sua presença. Foi a intensidade do seu sorriso e da sua forma de estar que fez com que o sentíssemos tão nosso em tão pouco tempo”, afirmou, prosseguindo: “não esqueceremos o seu testemunho de abraçar a cruz com esperança e confiança em Deus e na Virgem da caridade, padroeira de Cuba”.
Citando uma frase do ritual da ordenação – “toma consciência do que virás a fazer, imita o que virás a realizar e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor” –, garantiu que “a vida do padre Otto foi um bonito comentário” feito a esse mesmo trecho e disse estar “convencido de que Deus o salvou e o libertou de forma plena das cadeias da doença e o curou para o céu”.
“Não somos capazes de imaginar a dor dos pais e destes irmãos, mas posso dizer com inveja agradecida que nunca esquecerei que o padre Otto teve nos momentos finais do seu combate definitivo com a vida terrena as mãos dadas aos seus irmãos. Nunca esquecerei isso. Por isso, Adriano e Catarina, agradeço-vos este testemunho de céu que nos deram na terra. Que bom deve ter sido para o Otto as vossas mãos naquele derradeiro momento”, afirmou.

O pároco de Boliqueime, Ferreiras e Paderne agradeceu também a presença de todos os padres. “Como deve ter sido especial este nosso irmão para a sua Igreja romena e para tantos irmãos que hoje aqui estão presentes”, afirmou, agradecendo ainda aos hospitais de Faro e Portimão e respetivos responsáveis. O sacerdote informou que amanhã será celebrada Missa de sétimo dia pelo padre Otto, às 21h, na igreja de Ferreiras.
A Missa exequial do padre Octavian Anderco ficou ainda marcada por um gesto de solidariedade realizado por aqueles que estiveram presentes e que trouxeram géneros alimentares para serem entregues aos mais pobres, “os verdadeiros destinatários da vida e do sacerdócio do padre Otto”, como destacou o padre Pedro Manuel.
O cortejo fúnebre seguiu a pé até ao cemitério de Armação de Pêra, onde o corpo do sacerdote ficou sepultado.