As Igrejas cristãs do Algarve voltaram a rezar pela unidade de todos os cristãos.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Associando-se à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que anualmente é celebrada, no hemisfério norte, entre 18 e 25 de janeiro, católicos, evangélicos, anglicanos e luteranos residentes no Algarve voltaram a reunir-se no último sábado na igreja de São Francisco, em Faro.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que começou na quinta-feira e que hoje termina, tem como tema “Amarás ao Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo”, uma frase do Evangelho segundo São Lucas (10, 27).

Os materiais da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2024 foram preparados por uma equipa ecuménica no Burquina Faso, coordenada pela Comunidade (ecuménica francesa) Chemin Neuf naquele país do continente africano.

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No Algarve, a iniciativa foi organizada pelo Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da diocese algarvia em parceria com as restantes Igrejas Cristãs e com a colaboração com o Movimento dos Focolares.

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No sábado à tarde, o bispo católico do Algarve partiu do texto bíblico escolhido para este ano para realçar o “convite divino para amar a Deus” e o “próximo”. “O que é que está no centro das nossas atitudes? O que é que nos faz agir em relação aos outros? Estamos egoisticamente centrados em nós mesmos ou vivemos uma vida atenta, descentrada de nós mesmos?”, questionou D. Manuel Quintas na celebração que contou com cerca de 40 participantes, lembrando ainda a referência do Papa na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, segundo a qual cada pessoa só está autorizada a olhar de cima para outra se for para a ajudar a levantar.

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O padre Rob Kean, em representação da Igreja Anglicana juntamente com o padre Steve Danzey, sublinhou que aquela parábola do bom samaritano instrui sobre a “essência da unidade cristã” e sobre o “relacionamento com Deus e uns com os outros”. “A mensagem central da parábola é amar o próximo como a nós mesmos e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos lembra-nos que todos fazemos parte do corpo de Cristo, que devemos demonstrar amor e compaixão uns pelos outros, independentemente de quaisquer diferenças. Assim como o samaritano escolheu ajudar alguém que era de uma origem étnica e religiosa diferente, nós escolhemos abraçar a unidade”, afirmou.

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O sacerdote anglicano explicou que “Jesus usou intencionalmente um samaritano, uma figura desprezada na sociedade judaica, como o herói da história para desafiar os preconceitos religiosos dos seus ouvintes”. “Da mesma forma, durante esta semana, somos chamados a eliminar quaisquer preconceitos que possamos ter e a dispor-nos em encontrar um terreno comum e estender o amor e a graça a todos, assim como Cristo fez por nós”, acrescentou, considerando que aquela parábola lembra a “importância da unidade dentro do desafio comunitário de solicitado a amar o próximo sem preconceitos e a cuidar do vulneráveis na sociedade”.

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Já o pastor Rodrigo Sequeira, representante da Comunidade Nova Aliança, pertencente à Aliança Evangélica Portuguesa, constatou que Jesus não classifica o samaritano como “bom”. “Apenas menciona um samaritano. Nós sentimos a necessidade de destacar o comportamento do samaritano, talvez porque não é o nosso comportamento. Porque o achamos excecional sentimos a necessidade de o destacar e dizer que é o bom samaritano”, afirmou.

“Provavelmente para Jesus, porque o comportamento do samaritano era absolutamente normal; talvez porque Jesus já tivesse feito exatamente o mesmo que o samaritano faz na parábola, Jesus não sente a necessidade de o destacar como bom samaritano. E aqui descobrimos algo que temos de tornar normal na nossa conduta, na nossa forma de ser, que é o comportamento do samaritano, para que deixe de ser para nós o bom samaritano, alguém que preciso de destacar, para ser alguém normal”, prosseguiu.

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O pastor evangélico lembrou que “entre os judeus e os samaritanos” existia um “desprezo mútuo”. “E todos nós, por cultura, por educação, pelas experiências que a vida nos dá, acabamos por ter os nossos samaritanos. E quem são os nossos «samaritanos»? São aqueles que nós, porque a família, a nossa sociedade ou as experiências da vida, nos ensinaram a desprezar. São pessoas que têm uma determinada cor da pele, um determinado comportamento, uma determinada aparência, são pessoas que vêm de uma determinada cultura, que têm uma determinada religião? Muitas vezes para os cristãos os muçulmanos são os samaritanos deles. Conheço alguns evangélicos em que os homossexuais são os samaritanos deles”, observou, referindo que há alguns séculos católicos e protestantes foram os samaritanos uns dos outros. “Hoje estamos a tentar contrariar isso”, reconheceu.

O pastor chamou a atenção para o repto proposto por Jesus. “O desafio que nos faz é sermos capazes de amar os nossos «samaritanos» e não os julgarmos sem os conhecermos, sem vermos qual é o caráter deles. O caráter destes homens falou mais alto do que o julgamento que eles foram ensinados a fazer um do outro. Que Deus nos ajude a termos esta sabedoria de julgarmos não pelos preconceitos que criamos, mas pelo caráter que a pessoa evidencia”, concluiu.

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Também o pastor Stephan Lorenz, que representou a Igreja Luterana alemã no Algarve, destacou a importância de acolher todos sem discriminação. “O meu próximo é qualquer homem ou mulher, independentemente de nação, nascimento, religião, idade ou origem, com quem moro ou com quem me encontro no caminho. E é isso que hoje tentamos celebrar. Todo homem e mulher nos pertence. Não excluiremos ninguém”, destacou.

O ‘oitavário pela unidade da Igreja’, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.

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O ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade dos cristãos, quebrada no passado por cismas e ruturas.

As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).

com Agência Ecclesia