Marina_vilamouraA venda da empresa proprietária do empreendimento de Vilamoura a um fundo norte-americano pode representar um momento de viragem para o desenvolvimento daquele complexo turístico, admitiram hoje responsáveis locais à agência Lusa.

O negócio, um dos maiores registados em Portugal nos últimos anos no setor imobiliário, poderá permitir a expansão do complexo, com a construção da Cidade Lacustre, projetada há 20 anos e que deverá interligar as zonas comercial, turística e residencial através de lagos artificiais e canais navegáveis.

A concretização do projeto e o futuro dos terrenos que lhe estão afetos, entre a marina de Vilamoura e a Praia da Falésia, são para o ex-presidente da Inframoura, que gere os espaços públicos de Vilamoura, o grande ponto de interrogação no futuro do empreendimento, agora que a Lusotur foi adquirida por um fundo norte-americano.

“É uma infraestrutura pesada, que requer um investimento significativo e é necessário ponderar o custo-benefício do investimento”, disse Nuno Sancho Ramos à Lusa, sublinhando que está em curso uma mudança no perfil dos utilizadores de Vilamoura, antes muito procurada para o turismo, mas que agora atrai cada vez mais residentes estrangeiros.

Para aquele responsável, Vilamoura deve reforçar a aposta na captação de seniores do centro e norte da Europa, o que exige uma preparação, em termos de infraestruturas, que permita responder aos serviços que estes novos residentes pretendem, nomeadamente, na área da saúde.

Projeto da Cidade Lacustre para Vilamoura
Projeto da Cidade Lacustre para Vilamoura

Segundo dados da Inframoura, o utilizador-residente de Vilamoura corresponde ao perfil do indivíduo ativo, entre os 30 e os 50 anos, com rendimento médio-alto, exigente e que procura destinos de férias e lazer não massificados.

Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Empresarial da Região do Algarve considerou que a recente aquisição da Lusotur é positiva, porque pode imprimir uma nova fase de recuperação de Vilamoura, observando que caso a transação não se tivesse concretizado, o futuro do empreendimento podia estar em causa.

“Quantos anos mais é que aquela área iria sobreviver sem uma intervenção para dar vida e reanimar os investimentos que para ali estão previstos?”, questionou Vítor Neto, também antigo secretário de Estado do Turismo, referindo como exemplo o projeto da Cidade Lacustre, que tem vindo a ser sucessivamente adiado.

Segundo Vítor Neto, o projeto Vilamoura marcou não só a história do turismo algarvio, como do país, já que transformou, na década de 1960, terrenos lacustres quase abandonados e sem valor para a atividade agroindustrial num polo residencial turístico único no país e até na Península Ibérica.

Os hotéis, empreendimentos e a marina de Vilamoura conferiram àquela zona uma imagem cosmopolita, o que contribuiu para a internacionalização do Algarve, considerou.

Já a atual presidente da Inframoura sublinhou que Vilamoura é um espaço “com uma identidade muito específica”, integrado na rede de Cidades e Vilas de Excelência, com segurança privada, projeto de bicicletas partilhadas, áreas verdes e de desporto, sendo um território totalmente certificado.

“Tem uma estratégia e um plano e isso faz a diferença”, observou Fátima Catarina, optando por não adiantar pormenores sobre projetos futuros para Vilamoura, uma vez que a empresa a que preside desde fevereiro do ano passado ainda está na expetativa relativamente às intenções do novo acionista.

Atualmente, a Inframoura, cujo capital social é detido pela Câmara de Loulé e, desde o final de março, pelo fundo norte-americano Lone Star, gere um perímetro de cerca de 18 quilómetros quadrados, sendo o grande investimento em curso a substituição das infraestruturas de abastecimento de água, concluiu aquela responsável.

Com a aquisição da Lusotur, o fundo passa agora a ser proprietário da maior área a urbanizar de Vilamoura e do Algarve, ficando com a concessão da marina e das praias de Vilamoura e da Falésia.

Os terrenos onde o projeto Vilamoura foi implementado pertenciam a uma família aristocrática algarvia, vendidos na década de 1960 a Cupertino Miranda, que mais tarde entregou um projeto de desenvolvimento urbanístico ao Banco Português do Atlântico, posteriormente integrado no BCP, que passou a ser detentor da propriedade e do projeto.

Entre 1995 e 1996, André Jordan comprou o empreendimento e desenvolveu o projeto que viria a ser vendido ao grupo espanhol Prasa, que entretanto faliu, passando para as mãos do banco Caixa da Catalunha e depois do BBVA, que agora o vendeu a um fundo americano.