Com 76 anos, a religiosa, natural do Arco da Calheta (Madeira), teve mais sete irmãos e nasceu no seio de uma família “profundamente cristã” “onde se rezava o terço todos os dias”. Certamente motivada por esse ambiente, a irmã Teresa de Jesus Mendes testemunha que Deus a chamou “ainda muito jovem”. “Eu sentia esse chamamento para a consagração na vida religiosa e sentia-me feliz. As coisas do Senhor encantavam-me”, confessa, relatando que as suas brincadeiras de criança eram sempre relacionadas com temas religiosos.
A religiosa sublinha sobretudo o papel da sua mãe no seu discernimento vocacional. “No mês de Maio, mês de Maria, acompanhava a minha mãe à igreja e sentia-me feliz por tomar parte nesta devoção mariana”, recorda. Mas a recordação mais importante que guarda é mesmo a do dia da sua profissão de fé. “Nesse dia tive uma experiência muito forte com Deus e senti o convite do Senhor. Depois de interiorizar bem dentro de mim este apelo, conclui que realmente tinha de seguir o caminho da consagração a Deus numa congregação religiosa, pois o meu futuro seria entregar a minha vida a Deus, ao serviço dos irmãos mais necessitados”, lembra.
Aos 22 anos deixou a família, a casa, a terra e, atravessando o atlântico, chegou ao continente para entrar na congregação das irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Professou temporariamente no dia 2 de Abril de 1960, e perpetuamente no dia 29 de Abril de 1965.
Depois do tempo de formação foi enviada com a missão de educar e formar crianças e jovens desprovidas do seu ambiente familiar normal que, por diversos problemas, precisam de acolhimento institucional. Em Olhão trabalha há meio século no Centro de Bem-estar Social Nossa Senhora de Fátima, obra fundada em 1930 pelo falecido cónego António Baptista Delgado para acolher meninas em risco, sendo a mais antiga do concelho.
“Foram tempos muito difíceis, pois estas obras viviam com dificuldades económicas e, para prover às necessidades básicas das crianças, era preciso ir pedir ao mercado, à lota, às lojas, fazer bordados para vender e fazer todo o trabalho da casa”, testemunha, lembrando o “sacrifício para todas, religiosas e crianças”. Não obstante esta realidade, a consagrada destaca as “muitas alegrias e bênçãos de Deus” de onde “vinha a força para a missão” que lhes tinha sido confiada. Em jeito de balanço, a irmã Teresa de Jesus Mendes diz que também a sua vocação foi vivida “entre sofrimentos e alegrias”,as reconhece que Deus lhe concedeu “muitas bênçãos e sobretudo o dom da vida” para poder “ser testemunha do carisma da congregação”.
Samuel Mendonça