Silves e Lagoa vão disputar, com mais três localidades portuguesas, o título de Cidade do Vinho em 2016, forma de impulsionar um setor que já foi forte no Algarve, mas cujo declínio coincidiu com o “boom” turístico.
Após o abandono quase total das vinhas, que eram cultivadas sobretudo no litoral e que a partir de 1970 foram sendo substituídas por campos de golfe e empreendimentos, existe agora um crescimento do número de produtores no Algarve, que são atualmente cerca de 40, disseram à agência Lusa agentes do setor.
José Benvindo, da Quinta Monte de Salicos, em Carvoeiro, Lagoa, que produz vinho desde 2011, lembra-se bem do “cheiro a vinho” que se sentia, nos anos de 1960, quando em setembro se entrava na cidade, berço de mais de uma dezena de adegas, porque, “ao contrário do que muita gente pensa, o Algarve teve muito, muito vinho”.
Segundo o antigo professor, apesar de o setor estar em crescimento, são poucos os restaurantes e hotéis da região que têm nas suas cartas vinhos algarvios, o que, refere, não acontece, por exemplo, no Alentejo.
“Cerca de 80% da restauração no Algarve não tem um vinho do Algarve, lamentavelmente, mas é verdade”, queixa-se aquele responsável, sublinhando que existe uma “falta de sensibilização” na divulgação do vinho da região.
A adega cooperativa de Lagoa chegou a produzir por ano quase 4 milhões de litros de vinho – valor que hoje ronda os 200.000 litros – e era o vinho desta zona do Algarve que abastecia os militares que lutavam nas ex-colónias portuguesas em África, contou à Lusa Andreia Ferreira.
Segundo a responsável pela adega, nos últimos anos houve um “grande aumento de produtores de vinho no Algarve”, de oito, em 2007, para “40 produtores registados no Algarve e com produção declarada”, embora haja cerca de 200 viticultores.
O setor do vinho começou a renascer no Algarve no final da década de 1990, sobretudo pela mão de jovens produtores, como Rui Virgínia, da Quinta do Barranco Longo, no concelho de Silves, que acredita que, apesar de o Algarve não poder competir com outras zonas de produção em quantidade, pode fazê-lo em termos de qualidade do vinho.
Segundo o produtor, antigamente as vinhas estavam quase todas em terrenos arenosos, no litoral, para se poder mais facilmente trabalhar o terreno, mas a migração das vinhas para os terrenos do interior algarvio beneficiou a sua qualidade, uma vez que se tratam de terrenos argilo-calcários, onde as variações de temperatura são maiores que no litoral.
A criação da quinta, que existe desde 2003, coincidiu com a altura em que começaram a aparecer os novos produtores, numa fase em que a vinha “estava quase abandonada na região” e em que passou a haver “campos de golfe e empreendimentos ao invés de vinhas”, relatou Rui Virgínia.
Em declarações à Lusa, a presidente da Câmara de Silves, concelho onde existem dez produtores, lamentou que as pessoas vejam o Algarve apenas como um destino de sol e praia e estranhem quando se diz que há vinhos na região com reconhecimento internacional.
Para Rosa Palma, conquistar o título de cidade do vinho pode ser uma oportunidade para fortalecer o setor em todo o Algarve, já que encara a distinção como sendo regional, mas também o concelho, que chegou a ter a marca Vinhos de Silves, abandonada há muitos anos.
Também Francisco Martins, presidente da autarquia vizinha de Lagoa, encara a candidatura como tendo abrangência regional e não quer isolar-se em “bairrismos”, já que se trata de uma candidatura dos vinhos do Algarve.
“Somos pouco conhecidos, competimos com regiões com uma capacidade de produção muito maior, como é o caso do Alentejo, do Douro e do Dão”, concluiu.
A região demarcada do Algarve data de 1980, existindo quatro regiões que produzem vinho com Denominação de Origem: Lagoa, Lagos, Portimão e Tavira.
A par de Silves e Lagoa concorrem também ao título de Cidade do Vinho 2016 as localidades de Ourém, Ponte de Lima e Santa Marta de Penaguião.
A Cidade do Vinho é uma iniciativa da Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV) e os resultados para a distinção em 2016 devem ser conhecidos na próxima semana.
O objetivo desta distinção “valorizar a riqueza, a diversidade e as características comuns da cultura do vinho e de todas as suas influências na sociedade, paisagem, economia, gastronomia e património dos territórios”, lê-se no sítio de Internet da AMPV.