O livro, publicado em 1971, com 292 páginas, é uma compilação da palavra oral ou escrita do prelado no exercício do seu ministério episcopal no Algarve entre 1966 e 1971 e tem um objectivo claro explicado pelo próprio autor. “Este livro é para se estar mais perto. Só para estar mais perto dos homens, meus irmãos, na peregrinação em que todos andamos e na missão que temos de anunciar o Evangelho sem flutuações”, escreveu D. Júlio, pedindo que “não se procure nele grandes ou pequenos rasgos literários, ou sistematizações doutrinárias, que não é isso”. “A sua natureza é de repositório, de linha existencial, de mistura de pensamento e acção, de alguma coisa que se vai fazendo, na fidelidade, certamente, Àquele em quem acreditamos. Espécie de seriação de dias que são anúncio no meio do tempo e do povo do Algarve”, justificava.

“O bispo tem de estar próximo do seu semelhante, o mais que for possível, porque pastorear não se compadece com distâncias nem basta esperar que as pessoas venham ao toque do sino. O seu carisma e a sua missão de fazer comunidades cristãs vivas são-lhe dados para ir e não para se ficar”, complementou o antigo Bispo do Algarve, acrescentando: “reconhecem-se dificuldades e limitações, por motivos vários, mas o apelo do compromisso apostólico leva necessariamente à caminhada humilde e esgotante das horas de todos os dias. Às vezes sem resultados que se vejam, áridas, outras em que não há mãos a medir. De tudo tem a vida de todos, quanto mais a do bispo. Sinto-o em mim mesmo”.

E este desejo de estar mais próximo das pessoas está presente da primeira à última página. “A proximidade física nem sempre se consegue com a dispersão das tarefas e o volume das extensões que pesam sobre os ombros de um homem só”, lamentava D. Júlio, constatando que “ser para os outros não acontece sem ser com os outros e pelos outros”.

Composta por 21 capítulos, a publicação estende-se com mensagens deixadas no contexto de diversas iniciativas ou efemérides e dirigidas a diferentes destinatários. A Pastoral do Turismo, a Pastoral da Migrações, as celebrações pascais, o falecimento de sacerdotes, a inauguração de obras de restauro, a sagração de novos altares, as visitas pastorais, as bodas de prata da sua ordenação sacerdotal e da sua missa nova, o quinto aniversário de tomada de posse da Diocese do Algarve ou o centenário do nascimento de D. Marcelino Franco são, entre outros acontecimentos, o mote para notas pastorais, homilias, cartas, respostas, apontamentos, entrevistas, conselhos ou recomendações aos sacerdotes, aos seminaristas, aos diocesanos, aos operários e a todos os homens de boa vontade.

D. Júlio Rebimbas denota preocupações de pastor que incluem a família, a moral, a vida comunitária, a pastoral diocesana, o ministério sacerdotal, as vocações e a vida consagrada a fé, o diaconado permanente, o Seminário, a Bíblia, os sacramentos, a formação teológica, a catequese, a esperança e a revitalização cristã, os movimentos laicais, o apostolado cristão, a inserção da Igreja no mundo, a secularização da sociedade, a paz, o êxodo rural e o crescimento urbano, a pobreza e a justiça social.

Outra das referências recorrentes na obra é a alusão à renovação conciliar. D. Júlio cita e recomenda com insistência a leitura dos documentos conciliares, ele que foi um dos bispos portugueses que participaram no Concílio Vaticano II (1962-1965), aos 43 anos, ainda antes da ordenação episcopal, acontecimento que reconheceu tê-lo marcado “profundamente”.

Com um olhar e um pensamento reflectivo que se alongava por um horizonte muito para além da temporalidade da sua existência, o antigo Bispo do Algarve apontava caminho e antevia o futuro com esperança iluminada pela mensagem evangélica.

Samuel Mendonça