Foto © Samuel Mendonça

Foi apresentado no passado sábado o mais recente livro do historiador de arte Marco Sousa Santos que resulta da sua tese de mestrado.

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A obra, um estudo monográfico sobre a igreja matriz da sua terra natal, Luz de Tavira, explica que a construção do edifício se deveu a uma “elite” composta por “uma pequena fidalguia militar de escudeiros e cavaleiros que fizeram as conquistas do norte de África” que, nos séculos XV e XVI, tinha casa naquela freguesia do termo de Tavira, conforme destacou o apresentador da publicação, o professor José Eduardo Horta Correia, catedrático em história da arte pela Universidade do Algarve.

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Marco Sousa Santos, autor da monografia • Foto © Samuel Mendonça

Adiantando que a monografia apresenta um “enquadramento histórico-sociológico, económico e das estruturas militares de Tavira e seu termo” naquele tempo, Horta Correia lembrou que Tavira era, a par de Lagos, a cidade “mais importante do Algarve”. “São os dois grandes pontos, um mais pelos Descobrimentos e outro mais pelas conquistas do norte da África, mas completam-se um ao outro”, afirmou, lembrando que Tavira “tinha um porto importantíssimo” e “uma economia agrária fundamental no termo, sobretudo, da Luz”. “Tavira era de tal modo importante que, não sendo sede de coisíssima nenhuma, foi elevada a cidade por D. Manuel”, acrescentou.

No salão da União de Freguesias da Luz de Tavira e de Santo Estêvão onde teve lugar a apresentação, o catedrático em história da arte adiantou assim que a publicação explica ter sido edificada “mais ou menos” naquele local, junto à então Estrada Real (hoje EN125), uma “ermida dedicada a Nossa Senhora da Luz que está na origem da igreja manuelina”. “A partir da ermida surge a freguesia porque a ermida tem peregrinações, mas, sobretudo, porque vive muita gente derramada no termo”, contou o historiador, evidenciando que, por ser “preciso aumentar a ermida”, faz-se “uma igreja de uma tipologia nova que não existia no Algarve”, a chamada igreja-salão, cuja génese é analisada e apresentada na obra como “provavelmente o mais antigo exemplar desta tipologia a ser edificado em Portugal no período pós-manuelino”.

Acrescentando que o autor “estuda a origem do culto a Nossa Senhora da Luz”, Horta Correia referiu que a monografia reconstitui a igreja manuelina, considerando que “seria de nave única com capela-mor quadrada como era apanágio das igrejas nessa altura”, tendo como porta o exemplar manuelino que hoje se encontra na lateral do templo (cuja foto ilustra a capa do livro). O historiador afirmou que o autor atribui a autoria da igreja ao arquiteto Miguel de Arruda que, sob o patrocínio do bispo do Algarve da altura, também terá trabalhado no Convento das Bernardas, na igreja matriz de Monchique e na igreja matriz de São Bartolomeu de Messines.

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Classificando aquele como “um notável livro de história da arquitetura” resultante de uma “cultura arquitetónica rara”, Horta Correia salientou que “todo o trabalho está alicerçado numa esforçada pesquisa documental”. “Este trabalho constitui, não digo a revelação, mas a confirmação de um promissor historiador de arte”, concluiu.

Marco Sousa Santos, que agradeceu os apoios à publicação editada pela Arandis Editora, explicou que a aquela igreja, onde foi batizado, está ligada a todas as suas memórias de infância e outras.

A diretora regional de Cultura do Algarve, Alexandra Gonçalves, presente na sessão de apresentação, lembrou que a igreja matriz da Luz de Tavira está classificada como monumento de interesse público e disse que “o Algarve deve orgulhar-se de ter investigadores jovens que têm dado a conhecer a riqueza do seu património”.

O presidente da Câmara de Tavira considerou que a obra vem “reforçar o conhecimento” dos elementos arquitetónicos e culturais do concelho de Tavira e também da forma como as pessoas se relacionam os elementos da sua cultura. “Será uma peça obrigatória para quem gosta de estudar esta história que Tavira tem”, completou Jorge Botelho.

O representante da Arandis Editora, Nuno Inácio, exortou as bibliotecas algarvias a adquirir para o seu fundo regional as obras que são publicadas na região.