Focolarina viveu durante 26 anos em Jerusalém

Manuela Martins viveu durante 26 anos em Jerusalém e tem “a convicção que no fundo todos querem a paz” entre Israel e Palestina.

“Olhando as notícias, tenho a convicção que no fundo todos querem a paz e quem reage violentamente, também nas palavras, estou convencida que no fundo não é isso que eles pensam. São reações muito violentas a um mal que está a acontecer e o mal é muito fácil de propagar, o amor é muito difícil”, disse à Agência Ecclesia.

Manuela Martins esteve em Jerusalém desde o final de 1984 até ao início de 2011, falando da cidade santa para várias religiões como “um poço de desejo de paz”, algo que testemunhou ao encontrar israelitas que “desejavam ardentemente ir a outros países árabes, abraçar, conhecer outras pessoas”, e os palestinos que “diziam bem dos israelitas”.

Uma série de ataques terroristas do movimento Hamas, a 7 de outubro, contra populações israelitas, provocou a retaliação israelita contra o território palestiniano, principalmente na Faixa de Gaza.

Manuela Martins assume que, se tivesse de dizer alguma coisa aos seus amigos, seria que “parem, parem porque o ódio, a vingança, como diz o Papa, todos perdem, ninguém vence”.

“Pode-se matar alguém, um terrorista, mas não se mata o ódio, então matamo-nos a nós mesmos, deixamos vencer a vingança. Quem sofreu este ódio, mesmo se sobrevive fisicamente, acaba espiritualmente”, acrescenta.

Aquela focolarina salienta que o Papa Francisco, para além dos apelos à paz, também tem falado com diversos governantes, nomeadamente do Médio Oriente, e “faz tudo para se parar esta guerra” num sítio onde “precisam de uma grande força para conseguir perdoar dos dois lados”.

“No momento em que todos oramos, solidários com quem seja, neste momento são muitos milagres que têm de acontecer, mas Deus tudo pode. Digamos ao mundo, ‘parem, parem, não é este o caminho’. A paz é mesmo um caminho, se estou em paz posso ajudar que se concretize a paz no mundo”, desenvolveu.

Manuela Martins recordou, ao longo do último mês, muitos factos, muitas pessoas, “muitos encontros, trágicos, difíceis, mas também de grande riqueza, de grande alergia, de grande felicidade”, em particular, sempre que existiam “momentos de ser relacionamento” entre muçulmanos, judeus, cristãos, de Israel e da Palestina.

Manuel Martins, que viveu numa comunidade na parte árabe de Jerusalém, lembra as mães muçulmanas, com filhos presos durante a intifada, a quem “nunca” ouviu “dizer mal dos israelitas”, como também viu do lado israelita pessoas “comovidas profundamente por abraçar muçulmanos, pessoas ditas inimigas”.

Dois povos, dois Estados, é também a opinião de Manuela Martins para estes territórios, e destaca que os Acordos de paz de Oslo (Noruega), em 1993, entre o primeiro-ministro israelita Isaac Rabin e o Presidente da autoridade palestiniana, Yasser Arafat, mediados pelos EUA, “foram um ponto muito, muito importante para a região”.

“O grande problema foi que os regimes, ali e no mundo, não fomentaram a implantação daquilo que tinha sido pensado; tem que existir coerência e tenho impressão que também nós, ocidentais, faltamos muito a não tentar ajudar a que isso se implementasse”, explicou a entrevistada do Programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2.

Em janeiro deste ano, num testemunho que apresentou na celebração no Algarve por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Manuela Martins referiu-se à “chamada regra de ouro” de “fazer aos outros o que gostaria que os outros me fizessem a mim”. “Era mesmo como uma chave mágica para construir a amizade e os relacionamentos com todos”, disse.

“Vivi em diferentes países e posso mesmo dizer que nunca como ali notei como a bondade e o amor é mesmo contagiante. As pessoas, independentemente se eram cristãs, muçulmanas ou judias, quando se sentiam estimadas e amadas respondiam da mesma forma. Muitas vezes, com a mudança de atitude e pequenos gestos de amizade, nasciam verdadeiras relações de fraternidade e decisões a dar passos de reconciliação e de paz”, prosseguiu, acrescentando ser “muito importante criar ocasiões de diálogo e encontro para permitir um conhecimento recíproco, abater barreiras e preconceitos”.

O Movimento dos Focolares teve início em 1943, fundado por Chiara Lubich, em Trento, na Itália, que, num contexto da Segunda Guerra Mundial e num cenário de destruição, ajudou a criar uma “corrente de espiritualidade baseada no amor evangélico: a espiritualidade da unidade ou de comunhão”; atualmente, o movimento é presidido por Margaret Karram, de origem palestina.

A entrada dos Focolares em Portugal deu-se no dia 21 de fevereiro de 1966, quando duas jovens, Conceição Lins e Gehilda Cavalcanti, chegaram a Santa Apolónia, em Lisboa, para abrir o primeiro focolar.

com Agência Ecclesia