O franciscano Martín Carbajo disse ao clero das dioceses do sul país, reunido no Algarve para a atualização anual, que é preciso passar da “antropologia existencialista” à “antropologia integral”.

No encontro, que decorreu de 20 a 23 de janeiro em Albufeira, o docente da Pontifícia Universidade Antonianum e da Academia Alfonsiana, em Roma, considerou que a “grande crise socioambiental” que se vive é consequência da “antropologia existencialista que separa o homem das demais criaturas”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O orador, que abordou os temas “Laudato Si’ – Propostas para uma nova relação do Homem com a obra da Criação” e “Laudato Si’ e a Nova Evangelização”, lamentou que na cultura ocidental, a relação do homem com a natureza tenha sido “interpretada normalmente a partir de uma ideologia antropocêntrica”. “Com a modernidade essa tendência intensifica-se até ao ponto de defender a senhoria absoluta do homem sobre a natureza e sobre o seu mesmo corpo”, acrescentou.

Lamentando que se considere que “o progresso consiste em dominar e humanizar o mundo”, Martín Carbajo disse aos bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que os dados científicos têm que “ajudar a refletir”. “São claros: a tecnologia progrediu imenso, mas estamos destruindo a nossa casa comum. Temos de mudar o nosso estilo de vida”, advertiu, criticando o “antropocentrismo despótico”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Se não mudar a visão do homem, não mudará o nosso mundo”, prosseguiu, acrescentando ser preciso passar “do individualismo à individualidade”. “Necessitamos de um olhar distinto que nos ajude a sair do pragmatismo utilitarista. Temos que superar a conceção filosófica do individualismo”, considerou.

O conferencista criticou os dualismos “ôntico” e “ontológico” que disse ser preciso superar, frisando que “o homem não pode cuidar-se sem cuidar da natureza”.

A edição deste ano da atualização do clero do sul, que voltou a ser promovida pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, teve como tema “Ecologia integral: o Homem no Centro da Criação” e contou com 116 participantes.