
Luís Paulino Pereira, médico de medicina familiar no Centro de Saúde da Ajuda, em Lisboa, veio ao Algarve no passado dia 20 de outubro apresentar o seu livro, intitulado “Para que tenham vida”, publicação que resultou do seu contributo quinzenal como colunista no jornal Sol desde 2016.

Aquele clínico, que também trabalha no Hospital de Jesus da capital, explicou que a obra procurou ajudar os leitores a “seguirem um caminho para que possam ter vida, uma vida com qualidade, plena, gratificante e em abundância” e lembrou que os artigos publicados no semanário nacional “têm um denominador comum: a defesa da vida”. “Sempre que posso faço-o através de histórias com episódios da vida real para que a mensagem passe mais facilmente”, observou.

Paulino Pereira disse ainda que a publicação teve também como finalidade ajudar o IPO com a verba resultante dos direitos de autor, da qual prescindiu integralmente. “Se, com este livro, eu conseguir ajudar alguém; se este livro, que eu tenho a secreta, mas legítima esperança poder contribuir para ajudar nem que seja uma pessoa, também eu digo: já valeu a pena”, afirmou no Centro Pastoral da Matriz de Portimão, onde teve lugar a sessão de apresentação.

Explicando que a obra está dividida em três capítulos – saúde, sociedade e fé –, o autor citou o seu colega Fernando Pádua para defender que “a saúde é um bem importante de mais para estar só na mão dos médicos”. “Cada um deve aprender a cuidar da sua saúde”, alertou, acrescentando que “aprender pressupõe ensinar, isto é, haver alguém que diga como é que se faz”. “O médico de família ou o médico assistente é a pessoa mais credibilizada para o fazer”, sustentou, considerando que se estão a “viver tempos complicados em que a sociedade parece contrariar este princípio”. “Vejamos, por exemplo, estes lamentáveis apelos à automedicação que nós encontramos na televisão”, criticou, pedindo às pessoas que “não se automediquem porque está errado”.

“Procuro por o dedo na ferida destes vícios instalados entre a população no sentido de os evitar”, prosseguiu, lamentando haver doentes que vão às suas consultas para pedir que as mande fazer determinados exames.

Luís Paulino Pereira considerou que hoje a medicina em Portugal “tem uma resposta que antigamente não tinha” e que o país ombreia em matéria de tratamentos inovadores com os mais desenvolvidos do mundo, mas criticou a “informática feroz” que disse afetar a relação médico-doente “onde os doentes com nome deram lugar aos doentes com número” e defendeu a reestruturação do Serviço Nacional de Saúde com base na “legislação”, nos “funcionários” e nos “utentes”.

O autor vincou ainda que “um médico é um profissional que, seja em que circunstância for, está sempre e só ao serviço da vida” e, por conseguinte, “tem que lutar pela vida desde a sua conceção até a morte natural”. “Eu não concebo um médico aceitar matar um doente”, frisou, lembrando que “eutanásia não é acabar com o sofrimento”. “Eutanásia é acabar com a vida. Eu não posso aceitar que, para acabar com o sofrimento de um ser humano, se tenha de matar”, acrescentou, garantindo que, presentemente, já “não há sofrimento insuportável” devido ao avanço da medicina paliativa.

Paulino Pereira realçou que “o médico tem que ter vocação para ser médico”. “Infelizmente estão cá muitos que não deviam cá estar”, concluiu.

O representante da Paulus Editora, que editou a obra, explicou que a publicação veio a lume no âmbito dos 40 anos do autor no exercício da medicina e considerou que o livro, constituído por uma secção de 40 textos, é “um testemunho da fé vivida no quotidiano da saúde”. O padre José Carlos Nunes agradeceu ao médico-escritor pelo “apostolado epistolar” desenvolvido.

Carolina Silva, do jornal Sol, considerou que o autor “questiona a sua profissão e insurge-se contra uma certa desumanização da medicina vista como uma indústria em que os doentes são encarados como simples peças” e “luta por uma medicina mais humana onde a relação entre o médico e o doente não se perca”.

O pároco da matriz de Portimão também agradeceu a reflexão do clínico. “A nossa vida, quando é envolvida por uma dimensão espiritual, a dignidade da pessoa humana ganha a dimensão da transcendência e ganha um outro sentido”, afirmou o padre Mário de Sousa.
