O Papa alertou ontem, na sua mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, para os perigos de uma manipulação de informação nas plataformas digitais.
“Tornaram-se evidentes, para todos, os riscos duma comunicação social não verificável. Há tempo que nos demos conta de como as notícias e até as imagens são facilmente manipuláveis, por infinitos motivos, às vezes por um banal narcisismo”, indica o texto, divulgada pelo Vaticano.
A mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicações Sociais (16 de maio de 2021) tem como tema ‘«Vem e verás» (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são’.
Francisco defende uma comunicação “transparente e honesta”, “tanto na redação dum jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da Igreja como na comunicação política ou social”.
O texto destaca a importância de “maior capacidade de discernimento e a um sentido de responsabilidade mais maduro”, na difusão e receção de conteúdos.
“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as”, precisa.
O Papa admite que a tecnologia digital permite uma informação “em primeira mão e rápida”, oferecendo mesmo a possibilidade de acompanhar acontecimentos que “seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionais”.
A mensagem alerta, no entanto, que “na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente”.
“O intenso fascínio de Jesus sobre quem se encontrava com Ele dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios”, recorda.
O Papa questiona o que chama de “eloquência vazia” nas várias esferas da vida pública, destacando que, mais do que os recursos técnicos usados na comunicação, é a experiência humana que faz a diferença.
“Há mais de dois mil anos que uma corrente de encontros comunica o fascínio da aventura cristã. Por isso, o desafio que nos espera é o de comunicar, encontrando as pessoas onde estão e como são”, aponta.
O Papa afirmou a necessidade de ir ao encontro da “vida concreta”, no trabalho jornalístico, particularmente neste momento de pandemia, pedindo atenção aos países mais pobres no discurso mediático.
“Há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico”, alerta Francisco.
Segundo o Papa, “numerosas realidades do planeta – e mais ainda neste tempo de pandemia – dirigem ao mundo da comunicação um convite a ‘ir e ver’”.
“Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a expetativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África?”, questiona.
Francisco considera que sem esta narrativa alargada, as diferenças sociais e económicas vão marcar a distribuição das vacinas contra a Covid-19, “com os pobres sempre em último lugar”:
“O direito à saúde para todos, afirmado em linha de princípio, acaba esvaziado da sua valência real”, exemplifica.
O Papa aborda ainda os casos de pobreza provocados pela crise sanitária e económica, nesta pandemia, falando num “drama social” que continua oculto.
“Causam impressão, mas sem merecer grande espaço nas notícias, as pessoas que, vencendo a vergonha, fazem a fila à porta dos centros da Cáritas”, assinala.
A mensagem aborda a uniformização da informação, apontando para o risco de “jornais fotocópia” ou noticiários “substancialmente iguais, onde os géneros da entrevista e da reportagem perdem espaço”.
O Papa critica a informação “pré-fabricada, ‘de palácio’, autorreferencial”, que se desliga da “verdade das coisas e da vida concreta das pessoas”.
Francisco deixa um agradecimento pela “coragem de muitos jornalistas”, capazes de “ir aonde mais ninguém vai”, correndo riscos.
Esse trabalho, indica o Papa, permitiu denunciar “a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo”, “muitos abusos e injustiças” e dar a conhecer “guerras esquecidas”.
“Seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade”, adverte.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes.