O núcleo do Algarve da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores promoveu na passada sexta-feira, em Faro, uma mesa-redonda integrada no ciclo de conferências que se vão realizar até ao seu congresso nacional em abril deste ano.

A iniciativa teve como tema “Uma Realidade que Transforma” com contributos para o futuro de Portugal na área do turismo à luz da ‘Economia de Francisco’ e procurou refletir, como introduziu o moderador Paulo Lopes, coordenador do núcleo algarvio da ACEGE, sobre o atual “ecossistema empresarial” que vive “numa procura de respostas, mas também uma procura de corresponsabilização, relativamente às mudanças que são necessárias realizar na indústria” do turismo.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A pandemia e problemas estruturais como a falta de mão-de-obra, foram as realidades abordadas que colocam desafios aos empresários do setor, muito fragmentado com um conjunto de pequenas e médias empresas que, muitas vezes, não têm escala para encontrar sozinhas as respostas que precisam para os problemas do dia a dia.

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O presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA) destacou o contributo daquele setor para os “desígnios muito bem elencados do Papa Francisco”. João Fernandes lembrou que o turismo “é conhecido como a indústria da Paz, porque prospera quando não há conflito e promove a aproximação de diferença”. “Quando em muitos lugares se constroem novos muros que nos envergonham a todos, o turismo faz pontes”, afirmou.

Aquele responsável acrescentou que o turismo contribui para uma “economia mais inclusiva”. “Todo aquele que deixamos para trás é uma oportunidade perdida, não só de sermos solidários que é o nosso dever, mas também de aproveitar o potencial que essa pessoa tem para contribuir para toda uma sociedade”, sustentou, considerando que o país precisa da imigração. “Temos um problema gravíssimo de demografia”, constatou, considerando que a dificuldade não se resolve “apenas com políticas de natalidade, nem apenas com reter aqueles que cá nascem”.

João Fernandes referiu que “o turismo alavanca o desenvolvimento dos outros setores”, destacou-o “como indutor de uma maior dinâmica no interior” e considerou que o mesmo “tem sido o motor da transformação do país”. O presidente da RTA informou que o Valor Acrescentado bruto (VAB) do turismo em 2019 foi de 8.4% no país e acrescentou que, no caso do Algarve, o valor “é muitíssimo mais relevante do ponto de vista do seu peso relativo na atividade económica da região”. “61% do VAB regional é derivado de atividades turísticas”, concretizou.

Aquele responsável prognosticou que, “provavelmente, só em 2024 se recuperará toda a capacidade aérea de viagens internacionais” e apontou que o objetivo passará por retomar ligações aéreas perdidas e acrescentar novas.

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O segundo orador disse que o Grupo Pestana quer “continuar a contribuir para o desenvolvimento do país, das pessoas, para a diminuição da pobreza e para a coesão social”. “Estamos aqui para fazer hotéis, para prestar um serviço de qualidade, para ganhar algum dinheiro, mas também para proteger o ambiente, defender os povos com quem trabalhamos e fazer a coesão social”, afirmou Pedro Lopes.

O administrador apresentou um plano do grupo hoteleiro que disse procurar “valorizar o meio ambiente, a responsabilidade social e a sociedade em geral”. De entre outras iniciativas, a campanha solidária ‘Obrigado por Ajudar’ convida cada cliente que faça o check-in nos hotéis do grupo em todo o mundo a contribuir com um euro ou a quantia que entender para diversas instituições de solidariedade social que no final será duplicada pela entidade promotora. No Algarve, a iniciativa reverte a favor do ‘Lar Bom Samaritano’.

Pedro Lopes apresentou ainda várias outras iniciativas solidárias, uma das quais tendo como destinatário o Refúgio Aboim Ascensão a quem o grupo entregou 1,2 milhões de euros nos últimos 10 anos.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT) considerou que “chegou o momento de colocar a identidade cristã também ao serviço daquilo que é a realidade turística”. “Se criamos estruturas de promoção turística, estamos a dar trabalho, emprego e dinheiro às famílias. Os primeiros a usufruir da riqueza gerada são aqueles que estão ali ao lado. Isso é a Economia de Francisco”, referiu o padre Miguel Neto, evidenciando a importância de “colocar o património da Igreja ao serviço dos outros”. “Não há que criar demónios em relação a criar riqueza com o seu património. A riqueza da Igreja é para repartir”, complementou, rejeitando a ideia tantas vezes defendida de que a Igreja deveria vender o seu património.

O sacerdote da Diocese do Algarve advertiu ainda que “a Igreja pode ter o património, mas não tem o ‘know how’ para preservá-lo” e defendeu ser “necessária a ajuda das entidades que podem ajudar a Igreja a promover aquilo que tem com vista à criação de emprego e à promoção turística”. “A ajuda aos outros passa não simplesmente por dar-lhes de comer, mas em dar-lhes emprego para que eles possam escolher o que comer”, afirmou.

Aquele responsável explicou ainda que, desde o início da pandemia, que a ONPT “tem tido uma preocupação com a questão da manutenção e criação de postos de trabalho”. Lembrou ainda o trabalho feito pela Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve com as wedding planners e na promoção de eucaristias de língua estrangeira.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O encontro teve transmissão online assegurada pelo jornal Folha do Domingo e pela Mais Algarve e foi difundido na página da ACEGE e daqueles órgãos de informação nas suas redes sociais.

A ‘Economia de Francisco’ foi uma reflexão iniciada em 2019 pelo Papa Francisco, com inspiração em São Francisco de Assis.