Cerca de 35 ministros extraordinários da comunhão das paróquias que constituem aos centros evangelizadores de Faro e Olhão, pertencentes à região pastoral do sotavento da Diocese do Algarve, reuniram-se hoje em Faro para uma formação na área da psicologia que procurou ajudá-los a melhor entenderem as pessoas doentes, acamadas ou idosas com mobilidade reduzida que lhes pedem para receber a Eucaristia e os seus cuidadores.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A psicóloga, que orientou a formação que teve lugar no salão da paróquia de São Luís de Faro, alertou-os para a questão da esperança. “Nunca devemos tirar a esperança a nenhum doente, nomeadamente em questões de doença grave e avançada. Mas também é certo que nunca podemos dar falsas esperanças. Não podemos mentir em momento algum ao doente que deseja saber determinadas situações”, afirmou Rosália Fonseca, explicando que nestes casos “terá de ser uma esperança redefinida para a situação”.

Aquela especialista, que trabalha no Centro de Saúde de Tavira na equipa de cuidados continuados integrados e na equipa comunitária de suporte em cuidados paliativos na prestação de apoio psicológico a pacientes maioritariamente em situação de doença aguda ou crónica altamente incapacitante, aos seus familiares e cuidadores, alertou os participantes para a legitimidade de sentimentos de “tristeza, negação, aceitação ou raiva” entre aqueles doentes. “Não têm de existir todos, mas podem existir e coexistir em simultâneo. É extremamente importante percebermos que é legitimo, do ponto de vista psicológico, em determinadas situações de muito sofrimento haver momentos em que pode haver esta raiva contra o próprio, contra o outro e até contra Deus”, referiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Rosália Fonseca explicou que alguns dos cuidadores apresentam também “sentimentos de irritabilidade”. “Vêm cansados, desgastados. A irritabilidade, muitas vezes, vem acompanhada de culpa”, acrescentou, alertando para a importância de se “gerir o silêncio”. “Há momentos em que o silêncio é essencial porque as pessoas ainda estão a processar uma série de limitações. Muitas vezes precisam desses momentos de recolhimento e algum afastamento e só precisam da presença. Não precisam da palavra. Naquele momento, se calhar, basta estar”, referiu, considerando que “dizer algo pode gerar uma série de sentimentos, uns mais positivos, mas também pode trazer sentimentos negativos como ansiedade, tristeza, culpa”.

“Determinadas frases em determinados momentos, por muito bem-intencionadas que sejam, não são as melhores.Há palavras e frases que não devem de todo ser ditas em determinado momento. A palavra e a escuta são ambas importantes, mas a escuta em determinados momentos é mais importante do que a palavra, até porque a palavra pode ser mal interpretada”, desenvolveu, realçando a importância de “saber ouvir a história, a narrativa e, sobretudo, não julgar nunca, em momento algum”. “Aquela história e aquela relação pode ter algo que nos escapa, que não conhecemos e que pode estar a interferir”, frisou, admitindo também que os doentes podem partilhar com aqueles agentes de pastoral “preocupações e receios que não o fazem com outras pessoas ou até com os cuidadores”. “Naquele momento vocês são confidentes daquela pessoa”, realçou.

Rosália Fonseca advertiu ser necessário ir “ao encontro das diferenças” e respeitá-las “porque a necessidade de cada um é distinta”. “Cabe-nos a nós, que visitamos a pessoa que está doente, sermos capazes de fazer a leitura dos sinais e a interpretação”, considerou, lembrando que “nenhuma situação é igual à outra”. “Mesmo que a condição de doença seja a mesma, expressa-se de forma diferente porque temos componentes físicos, psicológicos, sociais e espirituais que nos tornam seres únicos”, completou.

A psicóloga, com mestrado na área das Ciências Cognitivas, sublinhou ainda a “importância do toque”, “se for agradável, para a pessoa se sentir acolhida no seu sofrimento” e garantiu aos ministros extraordinários da comunhão que “a expressão de sentimentos em momento algum é prejudicial” ao doente.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A formação, que também contou com a presença do cónego Rui Barros Guerreiro, responsável pela pastoral litúrgica na área dos centros evangelizadores de Faro e Olhão, foi participada por elementos das paróquias da Fuseta, Moncarapacho, Montenegro, Olhão, Pechão, Quelfes, São Luís, São Pedro e Sé de Faro e do vicariato do Siroco, em Olhão.