A ‘Missão País’ no concelho de Alcoutim, levada a cabo por estudantes da Universidade do Algarve (UAlg), entre 20 e 27 de fevereiro, terminou com o desejo de que possa agora prosseguir na vida de cada um dos voluntários.

“A missão não termina hoje, mas começa hoje. Uma missão diferente. Não deixeis de falar desta experiência e isso já é continuar a missão. Procurai resposta para situações onde vos encontrais”, pediu o bispo do Algarve aos 44 universitários na missa de encerramento daquela semana de voluntariado que disse ter sido “uma experiência muito positiva”.

“Estas experiências de quatro missões aqui no Algarve é algo muito enriquecedor para a nossa diocese, para as nossas comunidades cristãs, para as nossas populações. Estas experiências ajudam a fortalecer a presença de Cristo vivo na nossa vida”, considerou D. Manuel Quintas, tendo também presente as restantes três missões realizadas este ano no Algarve no âmbito do projeto ‘Missão País’.

O bispo diocesano defendeu que aquelas experiências completam a formação académica, sendo “complemento” para uma “formação integral”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A chefe geral da ‘Missão País’ em Alcoutim referiu-se ao sentimento dos missionários. “Chegámos ao fim desta semana um bocadinho cansados, mas saímos daqui com o sentimento de missão cumprida e desejo realizado. Todos os missionários estão felizes por termos dado um bocadinho de nós a esta população de Alcoutim”, afirmou Carolina Emídio, agradecendo a presença “muito importante” do bispo do Algarve, ao diácono Albino “pela pessoa que é e pela entrega” e ao padre António de Freitas, que acompanhou o grupo, por ser uma “pessoa presente e amiga”.

Gonçalo Brito, também chefe geral daquela iniciativa, agradeceu por todos os apoios e donativos que tiveram e à comunidade. Em declarações à Agência Ecclesia e ao Folha do Domingo disse que o projeto está preparado para acolher participantes em diferentes andamentos da fé e mesmo sem ela. “Temos a perfeita noção de que nem toda a gente que é assídua à missa e tem o mesmo nível de fé. E estamos preparados para os diferentes níveis de fé. Tentamos adequar o nosso programa ao longo da semana para ser um crescente, tanto a nível de oração como a nível de reflexão interior”, explicou, contando que este ano o programa incluiu uma “missa explicada” para que quem não tem tanta prática cristã possa compreender melhor os diversos momentos da celebração.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Carolina Emídio reconhece que alguns dos participantes “vêm pelo espírito”, mas “acabam por se ligar de alguma forma a Deus”. Ambos os chefes gerais conheceram a ‘Missão País’ há dois anos através de colegas. “Gostei imenso da ideia e a partir daí a fé começou a fazer sentido”, disse Gonçalo Brito. “Não sabia para o que é que vinha e cheguei aqui e foi uma das melhores semanas da minha vida”, assegura Carolina Emídio, explicando que os contactos passam “boca a boca” e pelas redes sociais. Aquela responsável acrescenta que os encontros pós-missão, abertos a outros universitários, serão fundamentais para “manter vivo este espírito de missão”.

Mariana Marques, estudante de Economia na UAlg, congratulou-se pelo regresso daquele projeto ao terreno após um ano de interregno por causa da Covid-19. “Este ano abrimos portas ao nosso coração e conseguimos estar ao serviço da comunidade. Viemos aqui para ajudar, estarmos presentes e sermos o presente de Jesus. A pandemia colocou-nos numa situação complicada e a fé andava um bocadinho adormecida. Em 2021 fiz a ‘Missão País’, o que reacendeu a chama e ela nunca mais apagou. Saímos com aquele sentimento de pertença à casa do Senhor e ao longo do ano fui-me apoiando em várias pessoas que conheci aqui e pude contar com elas para me ajudar”, contou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Mafalda Gato, estudante de Farmácia na UAlg, testemunhou que desejava muito fazer aquela experiência para alcançar outro sonho e que a terminou com “sensação de dever cumprido”. “Tenho um desejo muito maior e para ele se realizar teria de integrar uma missão dentro do meu país, sendo o meu desejo fazer missão fora de Portugal. Gostaria muito integrar uma comunidade que tivesse como objetivo ajudar países mais desfavorecidos”, contou.

Tiago Bernardo, estudante de Gestão de Empresas na UAlg, foi chefe de oração. “Todos os dias havia uma temática diferente, procurávamos ter uma dinâmica de reflexão que levasse os missionários a uma parte introspetiva para aprofundar a fé”, relatou, garantindo que “a oração acabou por ser a centralidade desta missão”. “Mesmo os jovens que estão longe de Deus, que não vivem muito na igreja, a missão acaba por transformá-los nesse sentido e saírem daqui com uma dose reforçada e a oração passa a fazer muito mais parte da vida deles e daqui para a frente de certeza que os marcará muito mais”, realçou, acrescentando: “o facto de estarmos aqui e vivermos isto tão intensamente faz-nos querer levar isto para o nosso dia a dia e procurar isso nos outros e na universidade”. “Acabamos por querer ser como Cristo em todos os momentos da nossa vida. É uma meta e um objetivo que temos e que nos faz querer ser sempre melhores pessoas”, garantiu.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

E mesmo entre os missionários crentes incluem-se os que têm sensibilidades de fé diferentes. Maria Miguel foi batizada na Igreja Católica, mas nos últimos anos tem frequentado a Igreja Adventista por influência da bisavó. Apesar de estar em minoria garante que isso não teve importância. “Existem algumas diferenças, mas o objetivo final é louvar a Deus e ter Jesus no coração e acho que é isso que importa. Tem sido uma experiência maravilhosa, tenha encontrado jovens com os mesmos ideais do que eu. Criámos uma forte ligação entre todos. Levo daqui uma mensagem muito forte que é seguir sempre Jesus. Cheguei aqui com a minha fé num nível e saio daqui com ela noutro nível porque orámos imenso e tivemos momentos muito bons com Deus”, afirmou, garantindo que aquela experiência “muda uma pessoa”. “Saímos daqui um bocadinho diferentes do que éramos”, assegura.

O padre António de Freitas explicou que procurou acompanhar “alguns que precisam de desabafar”, outros “que têm estado mais afastados da fé” e que começam ali a “abrir o coração” e que procuraram “ir celebrando o sacramento da Reconciliação fosse na Igreja, no meio do campo ou à beira da estrada”. “Um padre aqui faz-se companheiro deles. É essa a grande missão: tentar ser um jovem entre os jovens para que eles sintam também abertura para que possam falar, tirar dúvidas, colocar questões e fazer um caminho de renovação interior”, sustentou. “A ‘Missão País’ tem muita importância, mas a possibilidade de os acompanharmos no pós-missão ainda é mais importante”, realça.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Já o presidente do município de Alcoutim, um dos mais envelhecidos do país, considerou que “a população é que tem a ganhar” com aquela experiência. “Fiquei orgulhoso de nos escolherem a nós para os podermos receber”, afirmou Osvaldo Gonçalves, considerando que já a “primeira experiência que aconteceu em 2020” tinha sido “fantástica”.

A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou com estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, com 20 jovens, em 2003, e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.

com Henrique Matos e João Gralha/Agência Ecclesia