Os 35 missionários e os nove responsáveis da ‘Missão País’ no concelho de Alcoutim foram ontem incitados a darem-se durante esta semana “em nome de Jesus” “sem esperar nada em troca”.

O desafio foi deixado na Eucaristia que deu início àquela missão de voluntariado de estudantes da Universidade do Algarve (UAlg) e que se prolongará até ao próximo domingo. O padre António de Freitas, sacerdote da Diocese do Algarve que acompanha o grupo, aproveitou a expressão de Jesus no evangelho – «Fazei o bem sem nada esperar» – para lhes dizer que essa “é a grande missão daqueles que dão corpo e visibilidade a uma ‘Missão País’”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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“Queiramos oferecer-nos sem esperar nada em troca, para aqui, nestes dias, marcarmos a diferença e para daqui partirmos também diferentes, marcado pelo evangelho de Jesus que nos fará amar todos sem medida”, exortou aquele responsável na celebração que teve lugar na igreja matriz, logo após a chegada e o alojamento na Pousada da Juventude de Alcoutim.

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O padre António de Freitas garantiu aos voluntários que isso “fará a diferença” nas suas vidas, alertando ser aí que está a “plenitude da vida”. “Aos que são de cá, peçam, desacomodem-nos, desinstalem-nos e desafiem-nos”, pediu, acrescentando: “estamos aqui com este único objetivo: servir os que cá estão, amar os que cá estão e ser para os que cá estão”.

O sacerdote lembrou ainda aos estudantes que a medida do seu amor com os outros terá de partir da medida de amor entre eles próprios. “Só podemos ser sinal de alegria e de amor para os que cá estão, se entre nós nos amarmos e nos respeitarmos”, advertiu.

O padre António de Freitas alertou também que a ‘Missão País’ não pode ser uma experiência “isolada”. “É, de facto, uma atividade preciosa que nós temos de aproveitar para, em nome de Jesus, darmo-nos em missão. Mas deve ser sempre um ponto de partida para o resto da vida, na universidade, com os colegas, com os professores, com os amigos, com a família. Cada ‘Missão País’ tem de ser sempre um ponto de chegada, mas um ponto de partida. Não acabará no próximo domingo. Daqui eu terei de perceber que, em cada dia da minha vida, sou chamado a dar-me. Não só a dar coisas, mas a dar-me”, desenvolveu.

O responsável desafiou ainda os estudantes a alimentarem-se da Eucaristia para terem “a força, o entusiasmo e a alegria” para que possam “servir” aquelas comunidades ao longo desta semana.

Também o diácono Albino Martins, responsável com o pároco pelas comunidades do concelho de Alcoutim, quis dar as boas vindas e manifestar aos estudantes a gratidão da população pela sua presença e trabalho naquele “território tão diferente do Algarve litoral”. “Aqui estamos num outro Algarve, estamos nas periferias existenciais de que nos fala o Papa Francisco. Aqueles que aqui vivem, trabalham, sonham e amam esperam muito do vosso testemunho e deste trabalho da missão que hoje iniciais”, afirmou, lembrando que aqueles que por ali passaram no primeiro ano “deixaram saudades” e “levaram também um pouco” daquela população “muito envelhecida”.

“Não venham com muitas expetativas porque aqui o trabalho é árduo, a missão é exigente e contamos muito convosco, com o vosso testemunho entre nós. Bem-hajam por se disponibilizarem a ser missionários neste território”, concluiu.

Carolina Emídio, chefe geral da ‘Missão País’ em Alcoutim • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Em representação de todos os voluntários, um dos dois chefes gerais daquela missão agradeceu o acolhimento e confirmou a vontade de assumir o desafio proposto. “Estamos cá e queremos marcar essa presença. Estamos aqui para dar um bocadinho de nós a vocês”, afirmou Carolina Emídio, que partilha a chefia geral com Gonçalo Brito.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Depois da missa, os jovens rumaram ao edifício do Centro Náutico local, disponibilizado pela Câmara Municipal para ali confecionarem e tomarem as suas refeições. Depois de algumas dinâmicas para se começarem a conhecer e do almoço, realizaram uma visita guiada à ermida e ao castelo de Alcoutim oferecida pela autarquia e cruzaram o Guadiana de barco para uma visita à vizinha paróquia espanhola de San Lúcar del Guadiana, em cuja igreja paroquial realizaram uma pequena celebração de envio, na qual lhes foram entregues as t-shirts e as cruzes, dois dos símbolos da ‘Missão País’.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Os estudantes chegaram ontem a Alcoutim em autocarro cedido pela UAlg, que também apoiou ainda na impressão de materiais.

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Os voluntários tiveram ainda o apoio de outras instituições, particularmente na doação de bens alimentares para confeção das suas refeições durante a semana. Os alimentos não perecíveis foram oferecidos pelas paróquias de Olhão e São Pedro de Faro e pelo vicariato do Siroco (Olhão), pela cadeia de supermercados Auchan, pela mercaria ‘Retratos d’Aldeia’ e pelas próprias famílias dos missionários. O Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro, doou frescos e emprestou uma carrinha para transporte dos bens.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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A ‘Missão País’ de estudantes da UAlg volta este ano a realizar-se até 27 deste mês, depois de não se ter podido efetuar presencialmente o ano passado por causa da pandemia de Covid-19 e ter decorrido em formato online, entre os participantes, através de canais digitais.

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A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou com estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, com 20 jovens, em 2003, e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.

No caso do Algarve, a região acolherá este ano quatro das 63 missões que decorrerão por todo o país. Para além da missão no concelho de Alcoutim, regressarão ainda as missões de Monchique e de Sagres e será iniciada outra em Boliqueime, estas três de 27 de fevereiro a 6 de março.