Universitários do Instituto Superior Técnico de Lisboa levaram a cabo semana de voluntariado

Depois de um ano de interrupção por causa da pandemia, o projeto da ‘Missão País’ regressou, de 27 de fevereiro a 6 de março, aos concelhos de Monchique e Vila do Bispo para fechar o triénio de voluntariado missionário dos estudantes do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa naqueles municípios, interrompido no último ano pela pandemia.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Em Monchique, os 35 missionários, os oito chefes e o sacerdote que os acompanhou ficaram sedeados no Centro Paroquial, diante da igreja matriz. Adaptados à nova realidade pandémica, os estudantes, devidamente testados antes e durante a semana, puderam entrar no lar apenas com cinco elementos equipados com fatos e máscaras FFP2. Nas escolas, não visitaram desta vez as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica nem as de Educação para a Cidadania. Optaram, então, por limitar-se ao contacto com os alunos através da realização de alguns jogos e dinâmicas no recreio.

“A comunidade também está super feliz de nos ter aqui. As crianças, quando chegamos à escola, vêm a correr para nos abraçar. Os idosos no lar expressam sorrisos que, se calhar, durante a pandemia não conseguiam expressar”, testemunhou ao Folha do Domingo, no decurso da semana, o chefe geral da ‘Missão País’ de Monchique.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Francisco Dores relatou igualmente a felicidade dos missionários. “As pessoas, quando nos abrem as portas, convidam-nos para entrar, apesar de não podermos fazê-lo”, acrescentou, salientando a importância da relação criada com a comunidade. “A ligação que criámos nos últimos dois anos é uma ligação em Deus, porque só assim é que é possível ter esta relação tão íntima e de tamanha proximidade”, afirmou.

A ‘Missão País’ em Monchique contou com uma participação de última hora de um estudante do IST, natural daquela vila. “Convidámo-lo porque ele estava um pouco arrependido de não se ter inscrito”, justificou o chefe geral.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Francisco Molho, que este ano acompanhou o grupo substituindo o padre Lorenzo Lütjens, explicou que “a pandemia também afastou um bocadinho as pessoas da Igreja e alguns estão a regressar agora”. “A ‘Missão País’ está a ser para eles como que um trampolim de regresso à vida cristã ativa que no passado tinham tido e que, entretanto, a pandemia lhes roubou ou não incentivou a continuar”, contou o sacerdote da vizinha Diocese de Beja, pároco de Melides e do vicariato paroquial do Carvalhal, considerando, por isso, a pausa do ano passado como “ponto negativo”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote referiu ainda que a reaproximação à Igreja ocorreu muito por via do sacramento da eucaristia e da reconciliação. “A eucaristia é diária e muitos deles têm-se confessado. Já confessei várias pessoas aqui e acho que tem sido um momento de um certo aprofundamento espiritual, de crescimento e, sobretudo, de regresso. Aqui sou um companheiro de jornada com quem podem também conversar, ir confessando-se”, acrescentou.

No entanto, nem todos os participantes eram católicos. E mesmo entre estes havia quem se encontrasse em diferentes fases da caminhada cristã. “A grande maioria é católica e tem prática habitual, mas há alguns que, assumindo-se católicos, não estão tão próximos e não são tão regulares na comunidade cristã”, explicou, garantindo haver “outros ainda que se assumem como ateus, mas bastante respeitadores”, que “realçam a alegria que os católicos lhes transmitem”. “Sabendo que é um projeto católico – e muitos deles já o tendo experimentado – continuam a vir porque acreditam verdadeiramente no projeto e, embora não compreendendo e não abarcando, se calhar, tudo aquilo que a maioria do grupo sente, veem que há qualquer coisa diferente que marca os jovens católicos que fazem esta missão”, sustentou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote admite que talvez o que os atraia seja o voluntariado. “O bem que se presta às pessoas, a marca que se deixa na comunidade é talvez a grande motivação deles. Ainda assim, não se excluem nunca dos momentos de oração do grupo, da eucaristia, do rosário. Participam em tudo na mesma porque sentem que isso é relevante para o crescimento da comunidade da missão internamente”, prosseguiu.

O sacerdote, que acompanhou duas missões como diácono, participou já como padre na edição online do ano passado e já este ano acolheu duas missões nas paróquias de Melides e de Grândola, considera que o projeto “oferece muitíssimo à Igreja local e à Igreja que são os próprios missionários”. “A gente vai daqui renovada e pronta para abraçar o mundo e continuar a missão lá fora”, garantiu, evidenciando também a importância para as comunidades locais. “Haver assim acontecimentos excecionais que abanem as brasas e as façam voltar a ficar incandescentes parece-me que é uma coisa interessantíssima”, metaforizou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote, que é também o coordenador diocesano da Pastoral Juvenil da Diocese de Beja, referiu-se ainda à importância do projeto em tempo de preparação para a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa em 2023. “Temos mais um motivo ainda para reforçar este apostolado dos jovens. Os jovens têm lugar na Igreja, são importantes na Igreja, os jovens são Igreja. Portanto, poder haver um projeto que é deles, com eles e para eles, com a presença dos sacerdotes, é fantástico valorizar. E Deus queira que possa continuar por muitos anos e a missionar muita gente”, realçou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Francisco Molho realça que agora “há uma transformação que precisa de continuar a ser alimentada porque a vida não se muda numa semana”. “Aqui é o princípio daquilo que pode ser continuado lá fora, quer nas suas casas, na família, quer na própria faculdade”, sustenta, lembrando que os “imensos” encontros pós-missão realizados depois daquelas semanas de voluntariado ajudam a que os missionários deem testemunho na faculdade “daquilo que viveram na ‘Missão País’ e da presença de Cristo”.

Em Sagres, após um ano de missão online que incluiu jogos e a celebração da Eucaristia com os utentes do lar da Santa Casa da Misericórdia, os 45 estudantes puderam regressar este ano ao trabalho presencial com o esforço de adaptação à realidade do pós-pandemia.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Os missionários, que ficaram alojados no Pavilhão Multiusos de Sagres, puderam mesmo entrar dentro do lar, mas para esse trabalho foram escolhidos apenas os que tinham certificado de recuperação da Covid-19, conforme explicou ao Folha do Domingo o chefe geral, Pedro Rodrigues. Nas escolas também puderam entrar nas salas para a abordagem a vários temas de ordem social, como o da importância das redes sociais na vida dos jovens. Para além disso, houve professores que os deixaram ajudar os alunos na realização de exercícios de matemática.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Diogo Maleitas Correia, que acompanha o grupo desde 2019, fala da ‘Missão País’ como um “projeto que nasceu do coração de Deus”, “inspirado pelo Espírito Santo”. O sacerdote, que é pároco das três paróquias de Peniche, considera o projeto “único como movimento juvenil para a Igreja em Portugal”. “Tem características únicas que infelizmente não se replicam noutros países. O envolvimento de tantos milhares de jovens durante esta semana, dando do seu tempo, é certamente um tesouro que tem repercussões unido a outro grande projeto – que não se pode separar deste, que começou em Lisboa, mas que se vai de difundindo Portugal – que é o dos campos de férias católicos, onde também muitos jovens são também animadores”, sustentou.

O sacerdote acrescentou que “estes dois movimentos dão um vigor extraordinário à Pastoral Juvenil na Igreja portuguesa”, considerando que isso constitui “um grande sinal de que o evangelho continua a ser muito atrativo para os jovens”. O padre Diogo diz que estes missionários “são um grande sinal de esperança”, sublinhando que “isso, certamente, é muito importante para as comunidades”. “A missão tem muito este sentido de oferecer o tempo livre para se cansar ainda mais. São umas férias para se cansarem. Fazemos da nossa vida um serviço, procurando não viver para nós próprios, mas para Deus e para os irmãos”, sustenta.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Alguns jovens estão muito envolvidos em grupos católicos, sobretudo nas Equipas de Nossa Senhora, no Movimento de Schoenstatt e também na pastoral desenvolvida pelos jesuítas. No IST vão contagiando outros que percebem que há qualquer coisa de diferente na vida deles e são atraídos pelo testemunho dos seus colegas para fazerem também uma experiência de missão de uma semana”, desenvolve.

O sacerdote conta que “alguns fizeram a sua caminhada de fé quando eram mais pequenos e depois foram perdendo essa ligação à Igreja”, mas “agora sentem essa interpelação e esse desafio de voltar”. “Pelas conversas que vamos tendo percebemos que têm muitas dúvidas e um afastamento de há muitos anos. É muito bonito perceber como a missão os vai provocando. Há um seguimento também da descoberta de algo novo, de uma vida nova que eles intuíam pelo que conheciam dos colegas, mas que ainda não tinham experimentado, ficando muito felizes de fazer essa experiência”, testemunha.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Diogo constata também as “formas muito diversas de pertença à Igreja” entre os missionários. “Alguns, que vêm com preconceitos e ideias feitas, neste contexto de alegria, de partilha e de convívio, vão aprofundando a relação com Jesus”, garante, ressalvando, contudo, que “não se pretende fazer proselitismo nem de algum modo tentar convencer ninguém”. “Vamos conversando sobre a fé, sobre as dúvidas, sobre as perplexidades, sobre o caminhar da Igreja. Sem tabus, sem reservas. É muito importante ter dúvidas. É um sinal de que estamos a crescer na fé e temos vontade de aprofundá-la”, desenvolve.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Diogo considera que a motivação para continuarem a missão advém da perceção de que “o encontro pessoal com Jesus Cristo, que muda, entusiasma e dá um sentido novo à vida, é verdade”. “Eles experimentam isto e isso vai, certamente, dar um vigor, uma força e um entusiasmo novo para continuarem”, conclui.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou com estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, com 20 jovens, em 2003, e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.

‘Missão País’ 2022 em Monchique

‘Missão País’ 2022 em Sagres