Graça Bernardo e Marília Lourenço, ambas residentes em São Brás de Alportel, participaram no verão de 2023, de 11 de julho a 09 de agosto, numa missão na província de Cuanza Sul, da Diocese do Sumbe, no litoral de Angola.

As missionárias seguiram integradas no grupo missionário ‘Ondjoyetu’ da Diocese de Leiria-Fátima, liderado pelo padre David Nogueira, sacerdote daquela diocese, que ficou sediado no Gungo, o centro de toda a atividade missionária. O Gungo é uma região montanhosa sem acessos, com cerca de 2.100 quilómetros e 34.000 habitantes. É composta por 80 bairros onde foram criados 11 centros, cada um com um catequista responsável que comunica com o padre David Nogueira que os assiste.

Graça Bernardo participou em 2016 na sua primeira missão com o mesmo grupo missionário ‘Ondjoyetu’, expressão em umbundu, o dialeto local, que significa «a nossa casa». Aquela alentejana de naturalidade, mas residente “há muitos anos” no Algarve, diz não saber onde foi buscar o interesse pelas missões, mas recorda que o primeiro contacto que teve com a realidade missionária foi a vender almanaques na paróquia quando “tinha 6 ou 7 anos”. Há sete anos, quando ouviu umas amigas comentarem que iam em missão, perguntou se também podia ir. “Passados sete anos, achei que a Marília seria uma boa parceira”, referiu a educadora da infância na assembleia diocesana da Liga Intensificadora da Ação Missionária (LIAM) do Algarve que teve lugar no Seminário de Faro, no passado dia 14 de janeiro.

Marília Lourenço, que conhecera Graça quando esta fora educadora do seu filho, contou no testemunho que ambas apresentaram que “tinha o sonho, desde menina, de ir a África fazer uma missão” e que o convite da amiga lhe permitiu “finalmente” realizar esse sonho. “Nunca é tarde. Foi das experiências mais bonitas e enriquecedoras da minha vida”, garantiu aquela funcionária pública, que foi catequista na paróquia de São Brás de Alportel durante 17 anos e até já integrou o Conselho Económico paroquial.

Chegadas a Luanda, as duas missionárias seguiram para o Sumbe e para o Gungo. Nesta região passaram por Uquende, Chitunda, Chitonde e Donga, dando conta das “viagens enormes” em que, por vezes, 60 quilómetros demoram a percorrer “5 ou 6 horas” de jipe. Para além daquelas localidades, estiveram ainda no Huambo, para a ordenação episcopal de D. Firmino David, bispo do Sumbe, a 23 de julho, em Benguela e no Lobito.

A sede da missão da Diocese de Leiria-Fátima, criada em 1999 pelo padre Vítor Mira, situa-se no Sumbe. Criado no ano seguinte, o grupo ‘Ondjoyetu’ dedica-se a fazer animação pastoral, atividades nas áreas da saúde, educação, promoção feminina, formação profissional, animação juvenil, transporte de pessoas e bens, construção de casas de apoio à atividade missionária, de igrejas, de moagens, de poços, de fábricas de blocos de adobe para as construções e também de lavradio.

O trabalho está, portanto, dividido especialmente em duas áreas: pastoral e social. Na pastoral, os objetivos são organizar a comunidade, as catequeses, dar formação aos catequistas e administrar os sacramentos.

Graça Bernardo explicou serem necessários missionários que vão por “períodos logos” porque o local de acolhimento fica “muito longe” de Luanda e o sacerdote perde muito tempo a transportar missionários. Marília Lourenço constata que “um mês é muito pouco para quem quer fazer” uma experiência daquelas. “O ideal seria 2/3 meses no mínimo”, acrescenta.

Graça diz ser preciso preparação para o “choque de realidade” e Marília deu conta desse impacto. “Estive uns três dias sem tomar banho porque não conseguia. Pensava na água que tinha sido acartada pelos meninos, meninas e mulheres à cabeça por quilómetros e quilómetros”, justificou, lembrando que “nas aldeias não há água nem luz”.

A população cultiva batata doce, amendoim, feijão e milho, e o trabalho é, muitas vezes, feito apenas pelas mulheres, que com 30 anos já têm 8 ou 10 filhos, e pelas crianças. “Quando chegamos lá temos de estar disponíveis para o que for necessário fazer”, explicou Graça, dando conta do “acolhimento maravilhoso. “Em todas as aldeias, o povo recebe-nos carinhosamente. Serve-nos as suas melhores comidas, na melhor toalha e nas melhores louças”, contou.

Marília acrescentou que a passagem do padre com os restantes missionários pela aldeia “é um dia de festa”. “As pessoas deslocam-se dos bairros vizinhos, andam dias inteiros, quilómetros e quilómetros até chegar àquela aldeia para nos receber”, testemunhou, acrescentando que “pernoitam dentro da igreja deitadas em cima de um paninho, as senhoras cozinham na rua e estão ali em comunidade dois ou três dias”. A Eucaristia na igreja sem portas, nem janelas, com um telhado de chapa de zinco e chão de terra batida, dura cerca de quatro horas. “Aquelas quatro horas passam sem a gente dar por isso”, garantiu a missionária.


As duas missionárias, que antes de irem fizeram uma formação de cerca de seis meses com o grupo da Diocese de Leiria-Fátima, incluindo dois encontros presenciais, colaboraram na angariação de medicamentos e material de primeiros-socorros para levar, juntamente com roupas, calçado e material escolar. Tiveram o apoio da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e de várias pessoas que entregaram donativos. Lá deram algum apoio na área da saúde e realizaram muitas atividades com crianças.

