Imagine que a empresa onde trabalha permitia que pudesse ir ter com o padeiro para comprar o pão à porta do seu local de trabalho ou que pudesse no aniversário dos seus filhos passar o dia com eles ou que pudesse adaptar o seu horário de trabalho para cuidar de familiares dependentes ou que até que pagasse um seguro de saúde não apenas a si mas aos restantes elementos do seu agregado familiar.
Pois bem, estas e outras medidas podem fazer parte do modelo de gestão ‘Empresas Familiarmente Responsáveis (EfR)’ que foi apresentado, através da plataforma Zoom no passado dia 10 deste mês, a cerca de 25 empresários no Algarve, região que ainda não tem qualquer empresa certificada. A sessão de apresentação, promovida pela ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, destinou-se a um conjunto de empresas e instituições pré-selecionadas com interesse em obter com a certificação.
“O que estamos a propor é uma forma de olhar para a empresa, para a sociedade onde estamos inseridos e tornar a empresa um fator de motivação, de maior unidade de vida, de motivação da família e de criar empresas diferentes”, afirmou o secretário-geral, explicando que a iniciativa visa colocar as empresas aderentes na “linha da frente” das organizações que “respeitam as pessoas”. “Ao respeitar as pessoas, [as empresas] também são organizadas de uma forma mais correta e acabam por alcançar também resultados mais fortes”, sustentou Jorge Líbano Monteiro.
“Muito mais do que uma certificação, a proposta é de empresas que têm uma missão a cumprir dentro, mas também na sociedade em que estão inseridas”, reforçou, desafiando os empresários a “olhar para a realidade, ver o que é que os trabalhadores precisam e como é que os podem motivar e fazer crescer”. “Não estamos a falar de medidas que sejam muito custosas para a empresa, coisas muito difíceis de fazer, mas práticas que fazem a diferença na vida das pessoas. Poder comprar o pão à porta da empresa é algo que não custa nada e que ajuda cada um e apoia também a sua motivação durante o dia”, referiu.
Líbano Monteiro explicou tratar-se de um modelo flexível à realidade empresarial, “tão possível em empresas com cinco pessoas como outras com 12 mil colaboradores”. “Cada uma das vossas empresas têm, com certeza, imensas práticas da conciliação família-trabalho”, afirmou.
Bernardo Figueiredo explicou como decorre e quais as fases do processo de certificação, que demora entre 6 a 12 meses, e que funciona num ciclo trienal. Acrescentou que os certificados são emitidos segundo três tipos diferentes de empresas: até 30 colaboradores, entre 30 e 250 colaboradores e acima de 250 colaboradores. Abaixo dos 30 trabalhadores, as empresas recebem apenas um distintivo.
Aquele responsável deixou claro que as medidas ‘EfR’ vão para além do que a lei obriga, tanto ao nível do Código do Trabalho como do Acordo Coletivo e explicou que aquelas abrangem seis áreas: “qualidade do emprego, flexibilidade temporal e espacial, apoio à família e desenvolvimento pessoal e profissional e igualdade de oportunidades”.
“Na qualidade do emprego é fundamentalmente a estabilidade, a flexisegurança, a saúde e bem-estar, medidas de desvinculação ou acompanhamento das pessoas no caso de haver um despedimento, complementos salariais, protocolo anti-assédio no local de trabalho, formações de gestão de tempo, de gestão de stresse”, especificou, acrescentando que na “flexibilidade temporal e espacial”está previsto “o teletrabalho, os horários diferenciados, as bolsas de horas, os horários intensivos, seja no verão, seja no inverno e os dias de férias extraordinários pré-aprovados”.
Relativamente ao “apoio à família”, referiu-se aos “dias dos anos dos filhos” e “nalgumas empresas, dos cônjuges”, à “adaptação de horário para cuidar de familiares dependentes ou dias para ir a consultas médicas”. Na parte do desenvolvimento pessoal e profissional enumerou as “formações académicas e valorização pessoal, o voluntariado corporativo e os clubes”. Na dimensão da igualdade de oportunidades referiu-se, por exemplo, à eliminação da “discriminação sexual feminina” e à “contratação de pessoas com necessidades especiais, em que a organização deve ir mais além do que está legislado”.
A certificação ‘Empresas Familiarmente Responsáveis (EfR)’, que reforça a conciliação entre as esferas laboral e familiar, foi criada pela Fundación MásFamilia e, em Portugal essa certificação é co-emitida pela ACEGE.