O antigo diretor do museu, dos poucos que ainda entra no espaço, já apresentou à GNR uma queixa-crime pelos sucessivos furtos no complexo e está preocupado com a possibilidade de o museu ser vandalizado.

Construída sobre uma antiga fábrica de cortiça, a Fábrica do Inglês, complexo de animação turística fundado em 1999, albergava o Museu da Cortiça e espaços de restauração e espetáculos, mas faliu e ainda não foi declarada a insolvência.

"O que me assusta é que estando a fábrica ao abandono e as pessoas parecendo pouco preocupadas, a qualquer momento pode acontecer uma coisa mais desagradável", disse à agência Lusa o ex-diretor, Manuel Castelo Ramos.

Do complexo tem sido furtado tudo o que possa ter valor comercial: desde cobre a componentes de máquinas ou termoacumuladores, embora do interior do museu ainda nada tenha sido levado.

Aquele que era considerado o principal museu de cortiça existente em Portugal chegou a ganhar o prémio de melhor museu industrial da Europa em 2001, ano em que recebeu mais de 100 mil visitantes.

No museu permanecem máquinas únicas no mundo e outros equipamentos que remontam ao período em que Silves era a capital nacional da indústria corticeira e que agora estão abandonados.

"Eu não gostaria que o nosso país fosse noticiado lá fora como sendo o maior exportador mundial de cortiça e ao mesmo tempo ter o maior museu corticeiro do mundo ao abandono e sujeito a qualquer vandalismo", referiu o ex-diretor do museu.

O professor admitiu que lhe custa "estar um pouco sozinho na cidade", porque as pessoas solidarizam-se com a causa, mas apenas por palavras e é preciso tomar uma ação.

"Aqui em Portugal, embora haja colegas que já se manifestaram não há da parte dos responsáveis, até agora, nada. E é isso que me põe triste", lamentou, acrescentando que decorreu este mês um congresso sobre cortiça na Catalunha em que se votou uma moção favorável à urgente reabertura do museu.

O arquivo histórico da antiga Fábrica de Cortiça de Silves foi transferido no ano passado para o Arquivo Distrital de Faro, mas o mesmo não pode ser feito em relação ao restante acervo.

Manuel Castelo Ramos lembrou que a maior parte das máquinas estão no seu lugar de origem e que algumas, como os tanques de rolhas, nem sequer podem ser deslocadas.

O antigo diretor queixa-se ainda da deterioração do edifício, agravada pela intempérie que em novembro atingiu Silves, o que está a pôr em risco as peças do museu.

A Fábrica do Inglês pertence a uma empresa do Grupo Alicoop/Alisuper, recentemente adquirido pelo Grupo Nogueira, que detém 28 por cento das ações, e a vários acionistas que detêm os restantes 72 por cento.

Lusa