Fundada há mais de meio século a Olaria Moncarapachense, em Olhão, tem sobrevivido por ser um negócio familiar que atravessou gerações mas o futuro é incerto, assume um dos irmãos responsáveis pela oficina.

Com 40 anos, João Eugénio conta à Lusa que praticamente “nasceu” naquela olaria fundada pelo pai, com o mesmo nome, embora o ofício familiar de trabalhar o barro recue até ao tempo do seu bisavô.

É João que, em conjunto com os três irmãos – Dinora, Isaurinda e Francisco -, põe o negócio a andar, para orgulho do pai que só lamenta o facto de os jovens quererem apenas trabalhar “em bancos e escritórios”.

Enquanto os homens da casa trabalham o barro na oficina que funciona junto à loja onde vendem os produtos, as mulheres dedicam-se ao trabalho mais minucioso de pintar e dar o toque final às peças.

A chaminé algarvia é das peças mais vendidas mas na Olaria Moncarapachense pode encontrar-se de tudo: anjos, burros, dragões e até budas feitos em barro, vendidos lado a lado com azulejos, vasos, taças e outros utensílios.

“Às vezes precisamos de duas semanas para acabar algumas peças e isso obviamente que se reflete nos custos”, revela João Eugénio, sublinhando que uma chaminé algarvia “das maiores” pode custar cerca de 100 euros.

Como os gastos em decoração são aqueles onde os portugueses mais cortam em tempos de crise, vale à sua olaria a visita de estrangeiros que “percebem melhor a razão de os preços serem mais altos”.

Só que, “infelizmente”, o turismo “já não é o que era”, lamenta o oleiro, sublinhando que mesmo os estrangeiros “já não têm o poder de compra que tinham há alguns anos atrás”.

Outra das dificuldades com que a família Eugénio se debate é a falta de pessoas que queiram aprender o ofício pois a profissão de oleiro “faz doer as costas”, obriga a ter as mãos “sempre sujas”, problemas que os jovens não querem enfrentar.

Orgulhoso dos filhos, João Eugénio, que fundou a olaria com 22 anos, teme pelo futuro do negócio caso os netos não sigam a profissão, porque agora, desabafa, “não há quem queira saber disto”.

Folha do Domingo/Lusa