Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Lígia Rodrigues, de 56 anos, é uma artista plástica radicada no Algarve desde 1999 e foi a autora da peça oferecida o ano passado pelo Santuário de Fátima ao papa Francisco na sua peregrinação por ocasião do centenário das aparições.

Em entrevista ao Folha do Domingo, a artista, natural do Porto e licenciada em Belas Artes pela Faculdade da Universidade de Lisboa, veio parar ao Algarve depois de um percurso de emigração com os seus pais que a levou a países como França, Moçambique, África do Sul ou Zimbabué.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Por convite de um familiar veio viver para o Algarve, primeiro para Loulé e depois para o concelho de São Brás de Alportel, onde tem o seu ateliê. Chegou a lecionar no ensino secundário e na Universidade do Algarve, mas não se entusiasmou com a carreira académica.

Dedicada à arte sacra, Lígia Rodrigues trabalha em várias áreas que vão desde as artes plásticas ao design de equipamento e que incluem a escultura, a pintura, o desenho, a cerâmica ou o vitral. No Algarve tem trabalhos nas igrejas de Vale d’El Rei, do Carvoeiro e do Parchal, no concelho de Lagoa, na igreja matriz de Loulé e no Santuário de Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana), bem como no Centro Paroquial daquela cidade.

Mosaico da igreja do Montenegro – Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No concelho de Faro, tem ainda da sua autoria um painel de mosaico na igreja do Montenegro, uma escultura de São Francisco no convento franciscano de Faro e o busto do padre Júlio Tropa Mendes no Centro Paroquial de Santa Bárbara de Nexe.

A Nossa Senhora do Viso – Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Presentemente, está a trabalhar com o arquiteto da igreja da Mãe Soberana na sua restruturação, a projetar o arranjo dos presbitérios das igrejas matrizes de Lagoa e Loulé com novos elementos litúrgicos (altar, ambão e sede presidencial), a criar um conjunto de painéis para a igreja do Carvoeiro e conta ainda com um projeto de restruturação para a igreja do Montenegro.

Fora do Algarve, e para além da Diocese de Leiria-Fátima, Lígia Rodrigues tem trabalhado com a Diocese de Viseu e está a projetar um altar e um sacrário para um templo na zona italiana de Veneza e a realizar para o Santuário de Balasar (Póvoa do Varzim, Diocese de Braga) um trabalho, juntamente com o Centro Ave (Florença, Itália) da escultora Ave Cerquetti.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Ao Folha do Domingo, a artista conta que o convite para realizar a obra oferecida ao papa Francisco, intitulada “Promessa”, surgiu no decurso de outros trabalhos que tem vindo a fazer para o Santuário de Fátima.

Pormenor do Cristo da sacristia da cripta da basílica da Santíssima Trindade – Foto © Santuário de Fátima

Para além do projeto de reestruturação da capela das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora das Dores – com um baixo relevo com integração do sacrário e uma imagem de Nossa Senhora de Fátima –, Lígia Rodrigues criou também para a sacristia da cripta da basílica da Santíssima Trindade uma escultura de Cristo ressuscitado, intitulada “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste”, com um baixo relevo, que foi depois reproduzida em 44 réplicas para os confessionários.

Foto © L’Osservatore Romano

Ao Folha do Domingo, o Santuário de Fátima esclareceu que o facto de a artista já ter realizado “uma aproximação às temáticas de Fátima” permitiu que depositassem “grande confiança no seu trabalho”. “A escolha para a criação da peça recaiu sobre Lígia Rodrigues porque gostaríamos de oferecer uma peça que recriasse a iconografia da aparição de Fátima através de uma linguagem diáfana, tema que a artista tem trabalhado em várias obras do seu curriculum”, acrescentou o Gabinete de Informação do santuário.

Foto © L’Osservatore Romano

“A peça foi mostrada ao Papa Francisco no dia 13 de maio, de manhã, no momento que precedeu o cumprimento aos diretores de departamento e serviço do Santuário. Foi-lhe explicada a peça e o seu sentido e o Papa agradeceu, satisfeito”, referiu ainda a mesma fonte.

Com cerca de 50 centímetros de comprimento, a escultura em alabastro representa Nossa Senhora de braços abertos com o terço numa das mãos e o coração na outra, envolvendo os três pastorinhos. A obra apresenta na base de acrílico foscado a inscrição “Ao Papa Francisco + No Centenário Das Aparições Da Virgem Santa Maria Em Fátima + 13 De Maio De 2017”.

Lígia Rodrigues explicou que teve em consideração na escolha do material para a realização da obra a ambiência de luz descrita pela irmã Lúcia nas suas memórias. “Era necessário um material que deixasse passar a luz, sugerindo a imanência, qual transparência de Maria, como no caso do alabastro”, referiu.

Na entrevista ao Folha do Domingo, a autora explicou que o título se prende com os “vários tipos de promessa na revelação de Fátima”.