A atividade que a Diocese do Algarve promoveu no passado sábado à noite para as famílias das paróquias que constituem a vigararia de Loulé, sob o tema “Identidade e Missão da Família Cristã”, abordou desafios e problemáticas diversas para as famílias de hoje.

A ‘Noite de Encontro de Famílias’ foi levada a cabo através do Setor Diocesano da Pastoral Familiar na paróquia das Ferreiras, com a colaboração do movimento das Equipas de Nossa Senhora (ENS) e da paróquia local, no âmbito da preparação para o próximo Encontro Mundial das Famílias.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Inserida no primeiro painel sobre o tema “Ser cristão na era digital”, a apresentação do casal Maria Manuel e Ricardo Limas, responsáveis pelo setor do Algarve das ENS, subordinou-se à temática “Centrar a família em Cristo” e começou por destacar a importância do “ato de servir como uma linguagem de amor”.

Ricardo Limas apontou algumas “formas para aprofundar a consciência de Cristo” nas vidas das famílias e desafiou os cerca de 40 participantes à compreensão de que foram “criados para amar” na “perspetiva inspirada em Cristo” do “amor como serviço”.

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Neste sentido, exortou cada membro da família a “amar o próximo mais do que a si mesmo”, “substituir o ‘eu’ pelo ‘tu’”, “o egoísmo pelo altruísmo”. “No fundo, trata-se de renunciar ao individualismo, ao egocentrismo, à cultura da facilidade, ao prazer imediato – que nos traz mais vazio do que outra coisa qualquer – para aprendermos a viver em comunhão”, desenvolveu, acrescentando a importância da “partilha de experiências em família”.

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O orador apelou ainda à “consciência de que o amor vem de Deus e que é Ele a fonte da vida familiar”, a “conhecer a vida de Cristo” e a “viver em comunhão” com Ele. “Cuidar dos laços, agradar às pessoas de quem gostamos, ter gestos de carinho entre nós, darmos atenção uns aos outros, partilhar as nossas alegrias, os nossos sucessos, as nossas conquistas no final do dia, mas também as nossas fragilidades, o nosso desconforto, a nossa frustração”, acrescentou, defendendo que cada membro do agregado “tem de ser pilar do outro” e que “os hábitos de oração individual e familiar regulares são muito importantes” para que a família mantenha “Jesus no centro” da sua vida.

Tony Catuna, da paróquia de Quarteira, procurou ajudar a entender como “transmitir a fé aos jovens de hoje”. Com vasta experiência na catequese e na pastoral de jovens, aquele educador começou por questionar: “Como é que gerimos o nosso tempo em família?”. O orador disse ser necessário tempo para estar com os filhos e “que nesse tempo possa haver essa transmissão de fé”. “[Tempo] para partilharmos, para falarmos, para discutirmos sobre Deus, sobre a nossa fé, sobre as vivências que vamos tendo ao longo do dia”, concretizou.

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Referindo-se também à importância da escuta. “É importante termos tempo para escutar aquilo que Deus nos quer dizer, aquilo que Deus nos chama a viver na nossa vida, para podermos escutar os filhos e deixar que Deus faça parte das nossas vidas. Se escutarmos aquilo que Ele nos quer convidar a ser e a viver, vai ajudar os jovens a perceber o que é que pode ser a sua fé e como vivê-la”, sustentou.

Por fim, realçou a relevância da partilha, desafiando os pais a partilharem com os filhos as experiências que vão vivendo e a testemunharem a sua fé com atitudes. “Quando isso acontece, os filhos vão entender essa fé, vão querer aderir e querer também para eles”, garantiu, concluindo que “transmitir a fé aos jovens só pode passar por uma fé vivida, amadurecida e partilhada”.

Lília Nunes Reis refletiu sobre a questão “Redes sociais: um «ambiente» para os nossos filhos?” para deixar claro que a atitude a ter em conta deve ser o “equilíbrio”. Aquela enfermeira do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Algarve I Central disse que perante isto os desafios da família cristã “são muitos” e que “todos os momentos devem ser impulsionadores de testemunho de vida, inclusive utilizando as redes sociais”, pedindo aos pais que tentem ensinar os filhos “a ser críticos de uma forma positiva nesta utilização”.

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“Devemos ajudar os nossos filhos a encontrarem forma de gerir esta capacidade e não aplicar a velocidade digital a todas as áreas da vida”, desenvolveu, advertindo para as consequências negativas do uso excessivo de dispositivos eletrónicos nas idades mais baixas. “Devemos ter noção destes riscos e criar ambientes proporcionadores de diálogo e de exemplo”, alertou, desafiando a “aproveitar os momentos para contemplar a natureza, fazer atividades lúdicas adequadas às faixas etárias, rezar, estar efetivamente presente, escutar e utilizar a compaixão uns para com os outros”, por exemplo em atividades relacionadas com a “solidariedade, voluntariado ou partilha com amigos”.

Lília Nunes Reis aconselhou os pais a estarem “sempre atentos” e a proporem o uso das redes sociais “para boas causas”.

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No segundo painel, o coordenador da plataforma ‘Algarve pela vida’ abordou o tema “O apoio à maternidade e à vida”. Lembrando que as mulheres grávidas em dificuldade se caraterizam por ter um “contexto familiar disfuncional”, pelo “alheamento e desinteresse do pai” e pela “vulnerabilidade laboral”, Miguel Reis Cunha disse ser necessário “dar apoio inclusivamente quando as crianças já são adolescentes”. “O amor não deve ser só dado da nossa parte nos momentos em que a mãe está com a dúvida de ter ou não o filho, mas também depois porque senão seria um bocadinho enganador”, afirmou. “Não basta só dizer que somos contra o aborto. É necessário depois dar apoio concreto no pagamento de uma renda, numa fatura da água ou da luz”, exemplificou.

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Neste sentido, garantiu haver “famílias que dão o apoio a outras que estão um bocadinho desestruturadas”. Aquele responsável apelou ainda ao trabalho em rede que disse já ser feito “com algumas pessoas que nem sequer são praticantes”.

Sofia Gonçalves Catuna referiu-se aos temas das “dependências” e da “violência na família” para pedir “menos preconceito em relação à doença mental”. “Quando pensamos em doença, associamos logo a algo mais físico e temos de começar a olhar para ela como algo também mental”, afirmou aquela psicóloga, explicando que “cada vez mais a doença mental está a ocupar uma percentagem maior na vida das pessoas” e salientando que aquelas pessoas “merecem o mesmo respeito como as que têm uma doença física”. “Antes de julgar, tenho de tentar primeiro perceber porque é que aquela pessoa está naquela condição”, alertou.

Aquela técnica pediu para “nunca julgar, nunca criticar, nunca apontar o dedo”. “Vamos fazer-nos presentes na vida destas pessoas”, acrescentou, desafiando a “ajudar”, a “encaminhar a pessoa” para o apoio especializado que, alertou, “nunca pode ser forçado”. “O tempo pode não ser o tempo daquela pessoa e ela pode não ter ainda conseguido encontrar força suficiente para dar o passo de pedir apoio ou de aceitar alguma ajuda para lidar com a situação. Não vamos desistir. Temos de respeitar e estar por perto porque algum dia ela pode querer e depois já não está lá ninguém. E o dia em que ela pode querer não sabemos qual é. Vamos continuar ao lado daquela família. A não ser que a pessoa diga que não nos quer ali e a gente tem de respeitar. Não podemos obrigar ninguém a nada”, desenvolveu, sublinhando a importância de integrar estas famílias.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Relativamente à violência doméstica, Sofia Gonçalves Catuna defendeu que “entre marido e mulher mete-se sempre a colher se for para pôr a pessoa em segurança e para que a pessoa esteja bem”. “Quando olhamos para um caso de violência doméstica temos duas pessoas que precisam de ajuda: a vítima e o agressor. O apoio é diferente, mas os dois precisam de ajuda. O agressor deverá ser julgado pelo crime que cometeu, mas também precisa de outro tipo de ajuda”, afirmou, aconselhando à proximidade, a “perceber a realidade da família” e a disponibilizar contactos de ajuda.

O primeiro destes encontros de preparação para o X Encontro Mundial das Famílias que decorrerá este ano, de 22 a 26 de junho, em Roma, teve lugar no dia 10 de abril para as famílias das paróquias que constituem a vigararia de Portimão e o segundo teve lugar no dia 28 de maio, na paróquia de São Luís de Faro, para as famílias das paróquias que constituem a vigararia de Faro. No dia 24 de junho irá realizar-se ainda em Faro, na igreja de São Pedro uma vigília de oração pelas 21h, e no dia seguinte, 25 de junho, uma missa na mesma igreja pelas 18h.