A atividade que a Diocese do Algarve promoveu no passado sábado à noite para as famílias das paróquias que constituem a vigararia de Faro, sob o tema “O amor em família: maravilhoso e frágil”, evidenciou as crises como “momentos de crescimento” e sublinhou que na relação é preciso que cada um dos membros se disponha a “perder para buscar o bem-estar do outro”.

Na ‘Noite de Encontro de Famílias’, levada a cabo através do Setor Diocesano da Pastoral Familiar no salão paroquial de São Luís de Faro, com a colaboração do Movimento dos Focolares e da paróquia local, no âmbito da preparação para o próximo Encontro Mundial das Famílias, o primeiro casal orador disse que as crises “são inevitáveis” e que “poderão ser momentos importantes de crescimento no relacionamento e até mesmo aumentar o amor entre os esposos”.
Maria Cristina e Carlos Marques, do Movimento Famílias Novas, um ramo do Movimento dos Focolares, abordaram o tema “A reciprocidade do amor: prevenir e ultrapassar as crises”. O marido disse que “a crise pode ser vista como um período de reestruturação da relação e como o responder à seguinte pergunta: «Por que razão queremos continuar juntos?»”.

Carlos Marques acrescentou que “um casal que desenvolve as ferramentas do diálogo tem a reconhecer os sinais de crise mais cedo do que os outros casais” e ser, por isso, que “a formação dos casais neste diálogo se torna cada vez mais importante” logo a partir da fase do namoro.

Por outro lado, o orador defendeu que “o amor conjugal precisa de uma comunidade harmoniosa que reconheça e sustente a sua relação, como são por exemplo os grupos de casais ligados às paróquias ou aos movimentos”, porque “a vivência da espiritualidade familiar e a relação com o divino permitem experimentar um amor maior que pode sustentar a relação nos momentos difíceis”.
Carlos Marques disse ainda que cada membro dos casais deve “estar disposto a saber perder para buscar o bem-estar do outro” e confiar que o outro também faz o mesmo. “Não é um salto no escuro. É um compromisso que devemos assumir desde o início do nosso relacionamento: colocar o outro no primeiro lugar”, realçou no encontro que contou com cerca de 60 participantes.

Maria Cristina Marques testemunhou um momento de crise conjugal que, não obstante ter sido tempo de “sofrimento”, foi simultaneamente “de mudança importante”. A oradora alertou, a propósito, para “fatores externos” que contribuem para que o casal entre em crise. “E esses fatores podem ser naturais como a chegada dos filhos, o início do crescimento deles, o acompanhar a escola e mais tarde a saída dos filhos de casa”, exemplificou, acrescentando que “muitas crises também que são conjunturais e inesperadas como a instabilidade económica, a perda de um trabalho, a chegada de um filho inesperado, a interferência de parentes, a infidelidade, a instabilidade da comunicação, um desgaste da convivência diária, a incompatibilidade de temperamentos e até uma crise pessoal” de um dos membros.
“Saber reconhecer o tipo de crise que estamos a viver ajuda-nos a direcionar as nossas energias para enfrentar de forma mais assertiva possível o problema. É mesmo essencial reconhecer estes momentos e não fugir deles, enfrentá-los, mesmo se são momentos que nos causam dor. Às vezes precisamos recorrer à ajuda profissional e também devemos estar prontos a isso, perceber que existem pessoas preparadas para nos ajudar”, acrescentou, enumerando algumas “ferramentas” que podem “ajudar muito nesta situação”. O diálogo, o respeito, a empatia e a solidariedade foram algumas das que identificou.
Idalina Cruz e António Nogueira, responsáveis nacionais do Movimento Famílias Novas, começaram por lembrar que os pais são “os primeiros responsáveis pela educação” dos seus filhos. “Não podemos descarregar essa responsabilidade nos outros”, iniciou Idalina.
“Uma das primeiras coisas que devemos considerar é a importância do nosso testemunho porque esse fala mais do que as nossas palavras”, acrescentou o marido.

O casal, que se referiu ao tema “Ser pais e mães Hoje – a família e a educação”, destacou que os filhos são “confiados por Deus” aos progenitores. “Antes de serem nossos, são filhos de Deus. Devemos ajudá-los a realizar o desígnio de amor pensado desde sempre para eles. Isso significa amá-los, não pelo que fazem ou na medida em que satisfazem as nossas expetativas, mas por aquilo que são. Se sentem amados por si mesmos, sentem que são importantes para nós e, como adultos, serão capazes de amar desinteressadamente”, afirmou Idalina Cruz, ressalvando que “isto não significa não os corrigir, mas fazê-los entender” que o amor dos pais “vai sempre além, está sempre pronto para acolhê-los e perdoá-los”.
“Às vezes pode acontecer que amemos os nossos filhos para inconscientemente preencher alguns dos nossos vazios interiores, acabando por fixá-los em projetos feitos por nós. Mesmo os nossos valores nunca devem ser impostos. Os filhos devem ser ajudados a descobri-los dentro de si mesmos para que sejam interiorizados e vividos com convicção”, acrescentou.

António Nogueira lembrou que “uma atitude fundamental para a educação é a confiança”. “Precisamos de ajudá-los a fazer as coisas por conta própria e gradualmente a conquistar a autonomia”, disse na iniciativa que terminou com um chá, após a atuação do Coro de Câmara da Sé de Faro “Cantate Domino”.

Idalina Cruz constatou que “muitas vezes entre pais e filhos há quase uma relação de igualdade, amizade e cumplicidade”. “Isso pode esconder armadilhas, uma rejeição do papel de guia que cabe aos pais, antes de qualquer outro espaço educativo. A ausência dos pais, isto é, deste papel orientador (especialmente do pai) é sem dúvida uma das causas determinantes para o sofrimento juvenil”, alertou, acrescentando que “o eclipse do pai gera uma perda de autoridade no plano das relações humanas educacionais, um relativismo moral, uma ausência de regras na vida individual, nas relações interpessoais e sociais”.

O casal aconselhou à troca de experiências com outras famílias e concordou igualmente que “em certas situações também pode ser necessário uma ajuda profissional”.

O primeiro destes encontros de preparação para o X Encontro Mundial das Famílias que decorrerá este ano, de 22 a 26 de junho, em Roma, teve lugar no dia 10 de abril para as famílias das paróquias que constituem a vigararia de Portimão e o próximo terá lugar no dia 11 de junho, na paróquia das Ferreiras, para as famílias das paróquias que constituem a vigararia de Loulé. No dia 24 de junho à noite realiza-se em Faro, na igreja de São Pedro uma vigília de oração e no dia seguinte, 25 de junho, uma missa na mesma igreja pelas 18h.