O núcleo algarvio da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores e a Ordem dos Economistas promoveram no passado dia 24 de janeiro, no Hotel Eva em Faro, uma conferência sobre as perspetivas macroeconómicas e geopolíticas do banco UBS para este ano.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Tiago Saraiva, consultor de investimentos ligado ao Credit Suisse, banco que passou a integrar o UBS no último ano, defendeu que “2024 será um ano de menor crescimento económico”. “Já não se fala de recessão, mas de crescimento mais reduzido. A economia mundial irá crescer 2,6%, menos cinco décimas do que em 2023 e os grandes contribuidores para esse arrefecimento da economia mundial serão as duas maiores economias: Estados Unidos da América (EUA) e China”, garantiu.

Concretamente sobre a situação europeia, o especialista anunciou que “a Europa já parte de uma base tão baixa que já não há muito por onde descer”. “Por isso, os 0,6% de 2023 poderão dar lugar até há uns «fantásticos» 0,7% em 2024”, ironizou.

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O economista previu que as taxas da Reserva Federal dos EUA possa crescer este ano um ponto para 4,33, enquanto o Banco Central Europeu (BCE), o Banco Nacional da Suíça e o Banco de Inglaterra apenas 0,75, mas “mais na segunda metade do ano”.

O especialista anunciou ainda que “as taxas de juro irão descer”, “mais no segundo trimestre do que no primeiro”. “Serão quatro descidas nos EUA de um ponto percentual e na Europa três descidas de 0,75 pontos percentuais”, previu.

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Tiago Saraiva antecipou também que “a inflação vai continuar a descer”. “O caminho mais fácil de redução da inflação, que era a parte da redução ao nível dos bens de consumo, já foi feito. Mas temos ainda uma componente de serviços com inflação elevada que será um novelo mais difícil de desenrolar. Portanto, achamos que o caminho dos 3% para os 2% será mais complexo. Ainda assim, irá permitir, eventualmente, que as taxas de juro comecem a descer, segundo os nossos economistas em maio, e, com isso, também as taxas de longo prazo que chegaram aos 5% para que se situem no final do ano nos 3,5%”, declarou, lembrando que “neste momento estão um bocadinho acima dos 4%”.

Aquele consultor de investimentos recordou que, na Europa, “a inflação ainda está acima dos 2%”. “À semelhança dos EUA achamos que irá no final do ano estar entre os 2/2,5%. Mas este caminho até aos 2% será lento e, eventualmente, irá permitir que o BCE mantenha as taxas de juro nos atuais níveis durante mais uns meses. Até ao Verão, eventualmente. Portanto, a descida de taxas que prevemos para a economia europeia será mais na segunda metade do ano”, prosseguiu.

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Em relação ao investimento, o especialista pediu “atenção à gestão da liquidez”, alertando que “a curva de liquidez está altamente invertida no caso norte-americano” e o mesmo também se verifica em relação ao euro. “Um depósito a três meses tem uma taxa superior a outro a 12, 18 ou 24 meses. O que significa que há um material risco de investimento desta liquidez nos próximos meses e quem não puser essa liquidez a trabalhar corre o risco de quando o quiser fazer já o faça com um nível de taxas mais baixo”, advertiu.

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O segundo alerta que deixou foi o de “olhar para o património dos investidores de uma forma mais holística, mais integrada, e pensar em três dimensões: liquidez, longevidade e legado”. Tiago Saraiva destacou as “muitas oportunidades” ao nível dos “mercados alternativos”, garantindo que “o crédito, a disrupção e os mercados privados” serão “obviamente grandes ganhadores para quem se quer posicionar mais numa lógica de legado”.

Aquele economista realçou que “elevadas taxas de juro com baixa volatilidade é um ambiente propício, por exemplo, para construir estratégias de investimento com capital garantido” e afirmou que “o petróleo e o ouro poderão funcionar como ativos para fazer alguma cobertura do risco geopolítico”.

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Globalmente, do ponto de visão dos mercados, referiu que a liquidez será a “taxa de ativos menos privilegiada para investidores que têm património para alocar a médio prazo”. “Quer nas ações, quer nas obrigações, quer nos investimentos alternativos, encontramos boas soluções para pôr esse excesso de liquidez a funcionar de forma mais construtiva e com boas perspetivas de retorno”, indicou.

Sobre o mercado de crédito identificou uma “nova nuance para 2024”. “As melhores empresas vão ter facilidade de se refinanciar e as piores empresas nem tanto. Se calhar algumas delas até vão ter de ser adquiridas ou ter de se refinanciar em condições que vão colocar a sua rentabilidade em patamares muito baixos”, concretizou.

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Carlos Santos Silva, líder nacional do UBS, disse que este ano “vai ser bastante exigente” e entre os “muito fatores geopolíticos” destacou as eleições em Portugal, na Ucrânia, na Rússia, na Índia, no México e nos EUA. “Tudo isso dita muitas coisas da economia mundial que tem muito impacto nos mercados”, referiu.

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O coordenador do núcleo algarvio da ACEGE lembrou que “imprevisibilidade, instabilidade e incerteza” são fatores que os empresários dispensam. “São obstáculos à decisão”, justificou Paulo Lopes no encontro que contou também com a presença do presidente da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas, Luís Serra Coelho, acrescentando que o cenário apresentado é composto de “perspetivas para 2024 e não previsões, porque a previsão está condenada a não ser concretizada”.

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